ALÉM DE MIM - SAUDADE - CAPÍTULO 14

ALÉM DE MIM

SAUDADE – Capítulo XIV

Renato foi para o quarto e tratou de dormir logo. André não fez o mesmo. Tirou a camisa e a calça, deitou-se no sofá, ligou a televisão e ficou apenas olhando para ela, sem assistir nada. Quando o sono chegou e ele percebeu que estava já pescando com os olhos querendo fechar, desligou o aparelho e resolveu ir para o quarto, mas quando passou em frente da porta do quarto em que Renato estava, sentiu vontade de entrar.

A porta estava entreaberta e ele não resistiu. Só a luz da janela iluminava levemente o quarto. Devagar, ele aproximou-se da cama e abaixou-se junto de Renato. O rapaz dormia profundamente de costas na cama. O rosto do marido parecia ainda mais bonito com o sono. André tocou levemente com as pontas dos dedos os cabelos dele e sentiu uma saudade muito grande de abraçá-lo e beijá-lo. Quando percebeu que a saudade estava tomando conta de sua vontade, levantou-se e saiu do quarto, indo para o seu.

Acordou, na manhã seguinte, com o toque de lábios em sua boca e imaginou estar sonhando com Renato. De olhos ainda fechados, correspondeu ao beijo e quando os abriu, viu Paula com o rosto bem perto do dele, sorrindo.

- Bom dia, Andy...

- Paula!? – ele exclamou, levantando-se rapidamente.

- Bom dia, gato...

- O que... O que você está fazendo aqui? – ele disse, tentando puxar o lençol para se cobrir.

- Eu queria falar com você e, quando bati na porta, ela se abriu e eu entrei.

- Cadê o Renato?

- Não sei... Ele não está em lugar nenhum do apartamento. Eu só entrei aqui por causa disso. Você dorme tão bonito.

- Ah, meu Deus! – ele gemeu, cobrindo o rosto com o lençol.

- Só assim consegui te roubar um beijo.

- Será que você não entende que eu não posso me envolver com você?

- Eu não te pedi em casamento. Um beijo não tira pedaço, André. Até parece que você nunca beijou uma mulher antes.

Ele se levantou da cama, colocou uma roupa rapidamente e saiu do quarto. Ela o seguiu devagar, balançando a cabeça.

- Você tem certeza que é casado? Até parece que você é virgem, garoto. Eu soube da briga ontem. Meu irmão é um grosso mesmo. Eu vim pedir desculpas por ele. Eu sinceramente não esperava isso dele.

- Ele estava bêbado. Já esqueci.

- Não justifica.

- O ofendido fui eu. Acabou o assunto.

- Tem certeza que você é casado, André?

- Claro que tenho, por quê?

- Você corou por causa do meu beijo! Sabe o que eu acho? Que essa estória de casamento é só uma desculpa pra me manter longe de você por causa do Renato. É ou não é? Um cara que sente o que você sente por ele, com vinte anos, não poderia ter se casado com outra mulher. Pra quê? Pra manter as aparências?

- E se for? Você já está me enchendo, sabia?

- Você gostou do beijo, não gostou?

- Para com isso, Paula!

- Você correspondeu! Quem você pensou que fosse? Ele?

Renato entrou naquele momento. André respirou, aliviado.

- Oi, Paula.

- Oi, ela respondeu séria. - Eu vim me desculpar pelo meu irmão, ontem. Já estava de saída. Tchau.

Ela demorou um olhar em André e saiu. O rapaz sentou-se pesadamente e passou as mãos pelos cabelos. Renato fechou a porta e perguntou:

- Que foi que houve?

- Onde você estava?

- Fui ligar pro Lúcio.

- Aqui tem telefone.

- Não quis fazer barulho e te acordar. Você estava dormindo tão gostoso.

- Você entrou no quarto?

- Entrei, mas não se preocupe. Esse corpo não me atrai como o antigo. De mim você está seguro... André.

- Novidades em São Paulo?

- Não. Disseram na portaria que a velha foi para a casa de uma filha no interior e que vai passar a semana inteira lá. Isso quer dizer pelo menos que ela volta e aí a gente acaba com isso definitivamente.

- Se eu não morrer antes...

- Ou eu!

Renato ia para o quarto e André o chamou:

- Renato!

- Que é?

- Eu posso... dormir com você, hoje à noite?

- Quê?

- Por favor...!

- Você pensou bem no que está me pedindo? Você não tem nada do que me faz falta... rapazinho.

Ele entrou no quarto e fechou a porta com força. André sentiu-se desesperado e começou a chorar. Saiu.

Passou tão rápido pela portaria do hotel que nem percebeu Paula por ali. Ela o viu sair e percebeu que ele não estava bem. Seguiu-o. Foi alcançá-lo já bem perto da praia.

- André! – chamou, segurando seu braço.

Viu que ele estava chorando. Ele parou e se abraçou a ela.

- Me ajuda!

- Vem comigo. Vamos conversar.

Foram até o outro lado da praia e sentaram-se nas pedras perto do mar. André acalmou-se e sentia-se envergonhado por toda aquela cena.

- Você deve me achar um panaca, não é?

- Todo apaixonado é um panaca. Que foi que ele te fez?

- Nada que eu também não fizesse, se não estivesse apaixonado por um cara. Você tinha razão. Quando eu acordei hoje cedo, estava pensando nele sim, por isso correspondi ao seu beijo.

- Dói aqui dentro ouvir isso, mas pode continuar. Desabafa. É bom.

- Por que, sendo mulher, você tem tanta paciência comigo? Um cara como eu!

- Coisas da vida. Você ama um homem. Eu amo um homem que tem uma mulher dentro dele. Somos dois errados. Acho que por isso nos atraímos.

André sorriu.

- Disse tudo...

- E o pior é que você não se parece em nada com uma mulher. Se fosse seria “sapatão” ou um travesti muito mal montado... no mínimo.

Os dois riram.

- Também acho, falou André, passando as mãos pelos cabelos que esvoaçavam ao vento.

- Você é um homem muito lindo... ela disse, olhando para ele extasiada.

André olhou para o outro lado, constrangido. Paula resolveu disfarçar. Não queria que ele fugisse dela de novo.

- Bom, pelo menos você riu um pouco... Agora conta, o que foi que ele te fez de verdade?

- Nada, eu só... caí na besteira de falar do assunto. O Renato adora a Andreia. Não sei como ele ainda não me matou ou por que não foi embora.

- Se ele fosse, você ia junto?

- Não...

- Pelo menos tem orgulho.

- Não é orgulho... é medo.

- De quê? Da sua mulher?

André olhou para ela por um momento e respondeu:

- Não tem mulher nenhuma, Paula. Eu não sou casado. Nunca fui.

O sorriso que surgiu no rosto dela brilhava mais do que o sol quente diante deles.

- Eu sabia! Eu sentia que não teria que lutar contra dois! Fico feliz com isso! Tão feliz, você nem imagina.

Mal contendo a alegria, ela segurou seu rosto entre as mãos e beijou sua boca de novo, apaixonada. André tonteou novamente e a afastou dele.

- Paula, por favor...

- Que é? Medo de me corresponder novamente, gatinho? Agora você não me escapa mais.

Ela se enganchou em seu braço e encostou a cabeça em seu ombro.

- Eu ainda faço você se esquecer do Renato, você vai ver.

André não conseguia deixar de pensar no beijo e respirou fundo. Ficaram algum tempo em silêncio e Paula teve uma ideia.

- Quer conhecer a cabana na Pedra das Lágrimas?

- Que é isso?

- Vem, eu te mostro.

ALÉM DE MIM

SAUDADE - CAPÍTULO 14

OBRIGADA, SENHOR, POR TUDO!

DEUS ABENÇOE A TODOS!

PAZ E BEM!

Velucy
Enviado por Velucy em 17/10/2020
Código do texto: T7089503
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