NA HORA DE NOSSA MORTE, AMÉM!

Entre luzes e névoas escuras e encantadas sempre andaram os dois pardais, deixando que os sonhos, as fantasias, os desejo e as demências da mente lhes conduzissem, ao fim, a um deserto frio e solitário.

Dos bosques, so sobrou o sombrio pântano; dos montes, os penetos rasteiros e sombrios, com o cheiro pútrido de si próprios e das flores perdidas.

Lendas, mitos e estórias extraordinárias que só são permitidas aos anjos, mitos e lendas. Quiseram-nas também os dois cães bastardos, deparando-se ambos com iguais e sencientes feras.

Lá por essas bandas por onde andamos, nem nos éramos nós mesmos, mas dois atores, mais provavelmente coadjuvantes, em encenações sem sentido ou lógica alguma.

Claro que os reais irmãos e familiares pagaram esta cara conta: não é fácil conviver em suas casas com nômades de ventos e de zonas.

Seu nome dele era por uns respeitado; por outros odiado:, posto que ele fazia ao público, com ego, uma teatração estranha, divagando sobre filosofia, ciências, metafísica e sobre a psique dos transeuntes: Thor Shaitan.

Seu nome dela, que deixo como segredo, era festejado pelos que se achavam mais puros e brilhantes, mas sempre em cômodos escuros.

Ambos ao final, entretando, caíam em masturbações de mente e de corpo com os marimbondos pretos e com as borboletas flutuantes. Em terras lendárias é assim: pensa-se herói ou anjo, mas nunca se passa de um retardado pseudorresplandescente.

Por anos assim, corneando o marido, ela amou e fodeu por lugares tantos. Ele, de mesmo modo não poupou as mariposas esvoaçantes. Enquanto isso dormiam ou trabalhavam seus verdadeiros cônjuges.

Tiveram sonhos que lhes revelavam, antes de tudo, as quedas recorrentes. Ainda assim, por escolhas, escolheram-nas. Num dos sonhos se viram mortos. E vieram os tumores pegando fortemente a ambos.

E como ambos embaiavam a espada das palavras voláteis e, às vezes, pesadas, viviam se digladiando e do sonho zombando.

Certa noite, a notícia dela a ele: “Tenho câncer”. E aquilo soou esquizofrenicamente estranho. Meses depois eu estava também tomado por tumores na mente e nos pulmões.

Escravos de imagens, mas não por culpa de ninguém, nem de um para outro, mas por escolhas insanas de cada um.

E, agora, que o deserto permanece, também por escolha de ambos, afinal é preciso retornar a casa os nômades, para uma passagem final com suas famílias, tudo se cumpre e não podemos reclamar das podridões de nossas entranhas.

Esse que vos escreve foi, outrora Thor Shaitan; agora me chamam de Thor Menkent, já partido em meio a chuvas e habitante deste deserto, com apenas uma certeza: para ambos, como no sonho, a morte está chegando.

E de nada adianta algum anjo ou puritano tentar cavar neste deserto: nele só jorra ódio, lágrimas e sangue. A flauta louca morrerá, entretanto antes. E, depois, eu não mais me acordarei na próxima manhã.

Assim, falou Thor Shaitam. Assim fala Thor Menkent!
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)
Enviado por Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent) em 25/08/2016
Reeditado em 25/08/2016
Código do texto: T5739722
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