QUE SACO!

Que Saco!

Acordei pelas duas horas da madrugada, com um chiado dentro do quarto. Acendi a luz e vi que uma sacola rolava pelo chão, à ação do ventilador que estava na voltagem três. A sacola de plástico trouxera alguns pacotes de fraldas para crianças. Ao ser esvaziada, esqueceram-na no meu quarto. Apaguei a luz e tentei novamente conciliar no sono, mas o chiado tornava-se mais frequente e, de vez em quando, se ouvia um pulinho... Como não era possível me levantar para dar fim ao que me incomodava, tive de aguentar o chiado... pulinho... chiado... pulinho...

O ventilador girava pacientemente sem alteração. O pulinho, porém, aumentara de altura e o bendito saco passara para o canto da parede. E continuava, chiado... pulinho... como uma criança no pula-pula de um parque. Passados alguns minutos, fez-se silêncio. Precisava dormir, descansar, pois estava me recuperando de um tratamento de saúde e o repouso se faz necessário para um bom resultado. Fora uma das recomendações médicas mais solicitadas. Enfim, dormi.

O dia já estava clareando, quando precisei de um remédio. Ao me abaixar para pegá-lo no criado mudo, ai que susto! O bendito saco estava ao pé da minha cama, pertinho de mim, inflado e respirando como um animalzinho, em busca de proteção. Não sei quantas coisas senti, além do medo, ao vê-lo ali. Quis pegá-lo, mas não o fiz. Secá-lo, seria como matar um ser que respirava. Sempre que o olhava, estava ali, pedindo proteção. De repente, mais uma vez, meu coração mole entra em ação e promete uma coisa:

_ Olha, não sei o que estás pensando, mas vou te proteger da faxineira. Não vais servir para colocar lixo, principalmente do tipo papel higiênico. OK? Também, precisava ficar fazendo assombração para me acordar? Poderia ter-se aproximado sem usar de artimanhas... Uma coisa te digo: Não vais para cestinho de banheiro. Vou te reciclar e vais exercer a cidadania de uma forma mais digna.

E aquele saco maluco pôs-se a pular de contentamento e, de repente, virou uma tartaruga para segurar a porta do meu quarto. Que saco! Que noite!...

*

Maria de Jesus A. Carvalho.

Fortaleza, 15/08/2016.

Maria de Jesus
Enviado por Maria de Jesus em 15/08/2016
Reeditado em 18/08/2016
Código do texto: T5729355
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