Prisão e Holocausto

Todos, estávamos enclausurados em algum lugar, servindo de refém ou outra coisa.

No chão, alguns corpos espalhados de pessoas que tentaram resistir. E estes, misturavam-se aos que ainda estavam vivos, trazendo o terrível medo de, talvez, serem os próximos a morrer.

Eu me dei conta que estava sobre o estrado de uma velha cama sem colchão, juntamente com várias outras pessoas — umas conhecidas, outras, não.

Alguém que eu conhecia, mas não me lembrava, começou a perguntar-me se tinha um celular, para pedir ajuda — eu disse que não, pois já haviam revistado a todos à procura de celulares ou qualquer outra coisa a qual pudéssemos usar para chamar ajuda.

Por um momento olhei em volta das paredes cinza e vi uma pequena caixa embutida, de ferro, perto de mim - parecia um miniesconderijo. Abri e vi um antigo celular com o chip e a bateria de fora; quase não acreditei. Pensei: como poderiam deixar isso ali? Era realmente um milagre, e também, estranho e duvidoso. Mas mesmo hesitante, tentaria, pois esta poderia ser nossa única salvação.

Discretamente, retirei-o de dentro da pequena caixa, juntamente com o chip e a bateria, mas tudo com muita cautela para não despertar a atenção daquele que nos vigiava com uma metralhadora. Mas ficava difícil dele olhar em minha direção, já que havia um muro de pessoas à minha frente.

Pouco a pouco, fui colocando o chip e depois a bateria. Quando vi que tinha sinal, sorri discretamente, pois havia esperança. Quando ia tentar discar um número, o conhecido o qual eu não me recordava, pegou o celular da minha mão, discou um número e começou a falar com um tal de Marcio, andando descaradamente pela sala, como se não corresse nenhum risco — então percebi que toda aquela aflição que estávamos passando havia mexido com os s nervos daquele pobre homem —Pus a mão na cabeça esperando o pior.

Quando o vigia percebeu, aproximou-se dele com grande ira — nesse momento, eu fecho os olhos... Escuto um tiro. Não tinha coragem de abri-los novamente.

Passado alguns segundos, começo a abrir os olhos lentamente, já esperando uma cena aterradora. No entanto, o que vi foi uma muito pior da que eu imaginava: Entrando numa sala, juntamente com outras pessoas, vimos uma coluna de corpos de crianças (de 8 a 10 anos) penduradas por ganchos de metal, como carnes em um açougue.

Todas eram magras e possuíam a mesma cor: branca. E curiosamente, as mesmas características, como a cor dos olhos e cabelos, por exemplo. Pareciam filhos de alemães, loirinhos e de uma brancura de pele inigualável. Esta cena me lembrava do holocausto — meu sangue gelou ao lembrar-me disso.

O que tinham feito com aquelas crianças era desumano. Mas uma coisa me intrigou: não tinham vestígios de sangue, parece que seus corpos haviam sido drenados e deixadas ali daquela forma propositadamente. Mas eu não entendia o motivo para um ato tão cruel como esse.

Num outro momento, vi uma sala onde havia uma garota apontando um revolver para seus amigos. Ela parecia estar os impedindo de saírem da sala.

Entrando pela porta, tentei perguntar o que estava acontecendo, mas ela estava descontrolada. Tentava impedir a qualquer custo que saíssem do lugar.

Olhando para fora da sala, por uma janela que levava a um quintal o qual havia algumas crianças e jovens brincando, percebi que havia algo de estranho. Pareciam muito felizes e tão leves que flutuavam a cada pulo.

Saindo pela outra porta que levava a este quintal, comecei a descer os degraus lentamente, quando fui surpreendida, no penúltimo degrau, por uma garota morena de cabelos castanhos, com uma expressão branda, insinuando-se a me dar alguma explicação.

—Vê todos eles? —disse ela, com a voz mais calma e sublime que eu já tivera escutado.

—Sim. Mas o que estão fazendo? Perguntei.

—Não estão fazendo nada. E como poderiam, não é mesmo?

Sem compreender o que ela tentava me dizer, olhei-os mais uma vez.

—Você não entende, não é? —sussurrou ela, perto ao meu ouvido— Toque minha face.

Erguendo minha mão no sentido de tocar seu rosto, pude perceber a mais inquietante verdade sobrenatural. Ela estava morta... —minhas mãos passaram através do seu rosto como se ela, inteira, fosse feita de fumaça... Meu sangue congelou no mesmo instante.

Depois de restabelecer a calma, regressei minha mão, colocando-a frente aos meus olhos; examinando de forma inacreditável o que puderam fazer. Então percebi que elas estavam pequenas e macias como as de uma criança, e vi, com isso, que estranhamente, tinha voltado a ser criança.

Compreendi, depois de olhar a todas as outras crianças que brincavam no quintal, que não era, apenas, esta garota que estava morta, mais todos ali. Até mesmo aquela menina que portava o revolver em direção dos amigos, tentando impedir algo que já havia acontecido: todos já estavam mortos. E talvez, eu também estivesse morta, ou então sonhando.

Suane Cruz
Enviado por Suane Cruz em 20/05/2015
Código do texto: T5248509
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