OS FUNDAMENTOS DA ENCRENCA

Corria o inverno do ano de 2133 e o mês de agosto, como sempre, era o mês em que “a bruxa andava solta”. Nas aulas de História, dava-se conta de que pelos idos de 2015, o Iran havia conseguido construir, além da sua bomba atômica, uma outra, a de hidrogênio, resultante de acordos com a China que, a essas alturas havia rompido com a Rússia e estava em pé de guerra com os Estados Unidos. Israel tinha metade do seu território arrasado por armamento nuclear utilizado pelos palestinos do Hamas, contrabandeados não se sabe por quem e nem de onde.

Em contrapartida, a Faixa de Gaza, praticamente, havia sumido do mapa e, em ambos os lados, autoridades perdedoras e as populações acossadas pelas guerras cuidavam de contar e enterrar seus mortos.

No Oriente Médio, ambos os povos procuravam obter, no Japão, auxílio para a descontaminação dos resíduos nucleares que infestavam e potencializavam o sofrimento das populações. As conseqüências da Usina de Fukushima desencadearam estudos avançados que resultaram em descobertas importantes para o tratamento e neutralização dos efeitos radioativos sobre as populações e o ambiente japonês.

Do que restava daquela gente da raça semita, as poucas Sinagogas e Mesquitas abrigavam, indistintamente os filhos de Alá e de Iavé que, juntos, ouviam, sisudos, as preces, lamentações e lamúrias dos seus devotos. Afinal, o mesmo fundamentalismo desencadeador de milênios de guerras estava sendo o mote para a aproximação, pela dor, daqueles povos cultivadores do ódio sem tréguas.

Afinal, pelo que se pode entender, tudo começou quando Ismael, filho de Abraão e adorador de Iavé, “O Deus de Israel”, desentendeu-se com seu pai e se mandou para outras plagas, carregando consigo um considerável número de dissidentes, fundando o Ismaelismo, religião precursora do Islamismo.

Ismael mantinha séria pendenga com seu irmão Isaac, considerado o filho legítimo de Abraão, com sua esposa. Era desejo de Deus que o patriarca desse à luz, um filho. Como o casal Abraão e Sara fosse de idosos, a geração de um filho era praticamente impensável. No entanto, era vontade de Deus que esse filho viesse ao mundo.

Constatando os impedimentos para a concepção de Sara, para facilitar as coisas, Abraão se interessa por sua escrava Hagar e a engravida, num golpe de sorte. Assim, nasce Ismael, que já vem ao mundo renegado pela esposa legítima. Ismael surge como bastardo, na visão da consorte legítima. Essa passa a dispensar ao filho de Abraão um tratamento aversivo e discriminatório, nascedouro da humilhação e do ódio.

Mas, Deus desejando um filho do casal propicia meios para que a gravidez fosse concretizada. Assim, nasce o segundo filho de Abraão, dessa vez, com Sara, que recebe o nome de Isaac, superpondo-se a Ismael.

Por sentir-se discriminado, não sendo considerado um israelita de raiz, Ismael é preterido em favor de Isaac, surgindo em conseqüência, o ódio milenar que se manifesta entre judeus e muçulmanos. Assim, Ismael com seus seguidores, abandona o ambiente paterno, marchando para a Arábia, fundando o Ismaelismo que, mais tarde, com o Profeta Maomé, se impõe como Islamismo ramificando-se entre duas dissidentes correntes: xiitas e sunitas.

De lá para cá, todas as derivações dessas duas raízes fundamentais se mantém em estado de beligerância, ora latente, ora atuante. A História nos mostra as permanentes lutas entre deuses e homens envolvendo o fundamentalismo religioso, cujas origens estão em Abraão, com o Deus de Israel e suas dissidências. Hamas, Fatah, e Autoridade Palestina, Estado Islâmico, de um lado e Israel, de outro, são o caldo fermentado de toda essa querela fundamentalista que começou com a escapada de Abraão com Hagar, há milênios atrás.

Os historiadores dão conta de que, no ano de 2014, houve um recrudescimento das ações beligerantes entre israelenses e palestinos, em Gaza e com a nação iraniana que foram aumentando de intensidade, de modo que o lançamento de balísticos de um lado e a resposta, por terra, mar e ar, do outro resultaram em volumosa destruição.

Tendo em vista que as intervenções diplomáticas internacionais capitaneadas pela ONU já não mais resultavam em efeitos positivos, pois até mesmo as reuniões sofriam avanços e reveses temperados pela política e pelo fundamentalismo, num determinado momento, poucos anos mais tarde, nos meados de 2021, o armamento nuclear entrou em ação e ambos os querelantes sofreram milhares de baixas e a destruição estabeleceu um quadro por demais tétrico e sem precedentes.

Os países que discutiam, no Conselho de Segurança da ONU, desistiram de pleitear pelo consenso de pacificação e resolveram abandonar à própria sorte os países em disputa, não sem antes firmarem pacto de não cooperar com armamento ou qualquer tipo de suprimento bélico para qualquer dos dois territórios beligerantes. Apenas a atuação da Cruz-Vermelha seria fomentada, visando a ação unicamente filantrópica com hospitais, medicamentos e alimentos para as populações em flagelo.

O entendimento por trás dessa decisão foi o de que qualquer auxílio que pudesse incrementar mais estragos poderia desencadear uma guerra total que vitimaria todas as populações do planeta. Assim, todos os demais países se retraíram e cuidaram de esperar que o destino decidisse a sorte de cada um dos dois litigantes.

Já, em 2024, os livros davam conta de que, após aquela renhida e prolongada guerra, os países resolveram depor as armas e os ódios, resolvendo unir seus esforços para a reconstrução do que a insânia destruiu.

Os demais países do mundo entraram em um acordo para auxiliar os trabalhos e cada qual enviou equipes de engenharia, materiais de construção, maquinaria e todo o tipo de ferramental necessário às obras nas zonas urbanas e rurais.

Governos enviaram equipes médicas e paramédicas, e os laboratórios multinacionais implementaram fábricas. Escolas e Universidades surgiam e, rapidamente, um novo panorama fazia renascer, na geografia do Oriente Médio, um país unido, pujante, moderno, pleno de possibilidades, para onde convergiam pessoas de boa vontade, de todas as partes do planeta.

Os mapas passaram a incluir o novo Estado; a “União Isralina”, Modelo que se expandiu pelo Planeta.

A religião deixou de ser fermento de ódios, sendo cultivada sob a égide do respeito e da liberdade. O entendimento primordial, após o sofrimento, foi de que o Deus antropomorfizado, batizado com dezenas de apelidos, não fazia mais sentido. Bastaria orar e louvá-lo, simplesmente com grandioso nome “Deus”, quer seja no recôndito silencioso da alma ou de um templo qualquer.

Amelius

Sobradinho-DF – 25/07/2014 – 20:15Hs

Amelius
Enviado por Amelius em 27/07/2014
Reeditado em 17/08/2020
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