Nada ser, tudo estar - Conto filosófico existencialista

O vento carregava-o sem direção, uma folha verde esplandecida de puro vigor físico, transbordando saúde em pleno inicio da fase adulta. Mas do que adiantaria tanta disposição, sendo que a mente transtornada de Minaelaivisk impedia-o de usufruir a vida? Não tinha o mínimo entusiasmo, tudo tornou-se totalmente indiferente, sem sentido, perfeitas imbecilidades usadas para distração, nada mais.

De fato a inconstância despertava-lhe o sentimento da impotência. Estava convicto de que as casualidades do cotidiano flexibilizavam-lhe a personalidade, sendo que não obtinha o menor domínio sobre si próprio, nem da maneira com que veria o mundo no futuro. Por exemplo, na infância não havia nada que dava-lhe maior alegria, do que jogar bola descalço, junto com a molecada, entorpecia-se no prazer mais sublime. Todavia, aquilo agora era pra ele uma futilidade... Essa mesma mudança ocorreu com o gosto musical, os jogos e até mesmo nos valores pessoais. De modo que se tornara totalmente irreconhecível...

“Mas que Praça Horrível ! Nem Lloyd Wright, com aquela grotesca concha acústica do Hollywood Bowl, de formato indígena seria capaz de criar uma arquitetura tão feia quanto a desse local"- Disse Minaelaivisk irritado - Contudo, não fazia mais de 1 mês que teceu os mais belos elogios a respeito da praça. Indagou a si: “Será que a praça ficou feia repentinamente ou eu é que passei a enxergá-la de outra maneira? Afinal de contas, ela era alguma coisa, ou damos sentidos particulares e convencemo-nos de algo que ela não é? O que torna os objetos, as pessoas, as poesias, a musica, e todo o resto belo? Parece-me relativo, porém sempre estou convencido e julgo-os da minha maneira, isso não quer dizer que seja real.”.

A postura volátil de Minaelaivisk frente ao mundo, colocara por terra tudo que acreditava, as convicções, a ética, as certezas, os valores. Poder-se-iam mudar do dia pra noite, se é que já não estavam se transformando. De que valeria traçar planos no presente, sendo que não possuía a menor certeza de como as coisas procederiam no futuro? Talvez seja por isso que Minaelaivisk nunca se contentava com a condição existencial que encontrava no presente, pois no passado possuía sonhos e desejos que no futuro julgaria infantis, sem importância. Ridicularizava-os, sempre se punha a rir de como poderia ter dado tanto entusiasmo à coisas tão insignificantes.

A folha verde voava, sem esperanças, sem esboçar sentimentos, pois sabia que iria rir de tudo no futuro, entregou-se à condição de objeto inanimado. Somente assim percebera toda falta de sentido que rodeava-o, não havia motivos para temer nada, apenas temia as próprias mudanças.

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a l oliveira
Enviado por a l oliveira em 27/07/2013
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