O Sábio da Estrada

O Sábio da Estrada

Eram dois amigos que ha anos caminhavam juntos por uma estrada.

Eles sabiam ser esta estrada que os levava a novas experiências de vida.

Enquanto eles caminhavam trocavam informações sobre o que viveram, e faziam projetos do que pretendiam viver no futuro. Um deles, que se chamava José, era bem alto e andava envergado para frente, como se a altura fosse a responsável por isso, mas não se tratava disso. É que ele tinha um desvio na coluna. Nada disso o incomodava.Dava mais importância às filosofias espirituais.

Seu companheiro, que se chamava Luiz, também gostava destas filosofias, porém valorizava mais as necessidades materiais e trajes mais requintados.

Estava quase anoitecendo quando eles viram um homem com bastante idade, sentado sobre um tronco caído a margem da estrada.

- Acho que aquele homem ficou cansado de caminhar pela estrada – comentou Luiz.

- Talvez as razões dele sejam outras.

Os dois se aproximaram do desconhecido e Luiz indagou:

- Bom tarde caro senhor. O que faz aí sentado? Ficou cansado de trilhar por esta estrada?

O homem sorriu e nada respondeu.

José então perguntou:

- O senhor quer água? Precisa de alguma coisa?

- Todos nós precisamos de alguma coisa. Entretanto do que preciso no momento, vocês não poderiam me oferecer.

- Eu tenho muitas coisas. Desde que iniciei esta jornada, venho juntado muitos bens. Quem sabe eu não tenho o que precisa? – disse Luiz cheio de orgulho.

Novamente o senhor idoso olhou pra ele e sorriu sem nada responder.

- Afinal, quem é o senhor? - perguntou José.

- Sou muito de cada um de vocês. Não sou nada do que o nada possa oferecer. Sou um pedaço do céu, e muito do barro. Sou vento, e carrego o fogo que purifica. Sou um pedaço de estrela, e um rio revolto que despenca em cachoeira. Mas sou um oceano farto de alimentos que dou aos famintos.

Luiz deu risada e comentou com José:

- Meio pirado este velho, não acha?

- Não. Não acho isso. Vejo nele um sábio.

- Sábio isso daí? Tá brincando...

- Você valoriza muito as ilusões da matéria, meu caro Luiz.

- Posso até valorizar, mas não vou perder meu tempo com este tipo de gente.

- Como perder tempo? Não ver que ele pode nos ensinar muito sobre a vida?

- Ensinar o que? A ser bonzinho e deixar de viver o lado bom da vida?

- O que você chama de bom? Ir a festas, se trajar com roupas caras, ter amizades falsas e interesseiras? – perguntou José.

- O que importa isso? O fato é que estou vivendo e aproveitando do bom e do melhor.

Houve um breve silêncio antes que o velho sábio dissesse:

- Passem alguns dias comigo. Podem montar suas barracas logo ali perto da minha – e apontou para um lugar gramado um pouco adiante.

José apressou-se em responder.

- Eu aceito. Montarei minha barraca ao lado da sua.

- Eu não vou perder meu tempo com isso. Vou seguir em frente e cuidar da minha vida. Quero viver o lado da vida cheia de diversões. Depois, quem sabe eu me dedique a isso que o senhor prega.

E assim Luiz de despediu deles e partiu.

Por cinco anos, José viveu ao lado do velho sábio e quanto mais ele o ensinava sobre os mistérios da viva, mais José descobria que nada conhecia.

Numa manhã de um belo dia, o velho sábio disse a José:

- Agora você está pronto para a vida. Pegue suas coisas e me siga.

Por mais cinco anos os dois trilharam a estrada da vida.

José e o velho sábio seguiram sempre juntos pela estrada . Andaram lado a lado sem nunca pararem de conversar, até que chegaram a uma linda cidade cercada de belos jardins. Entraram na cidade e o velho sábio disse a um simpático homem que passava por perto:

- Avise a todos que eu já cheguei e trago comigo um candidato.

O homem acenou com a cabeça e seguiu por outro caminho que não era o deles. O velho sábio e José passaram a andar pelas ruas daquela cidade, até que eles encontraram sentado num banco, o amigo Luiz. Feliz pelo reencontro, José pediu licença ao velho sábio e foi ter com o amigo.

- Meu caro Luiz, que prazer te encontrar novamente – disse isso cheio de felicidades.

Luiz levantou-se e abraçou forte José para então dizer:

- Como fui um tolo meu caro. Só hoje eu entendo que nunca devia ter me afastado de vocês naquele final de tarde.

- O que aconteceu?

- No inicio tudo parecia ser como eu sonhava. Muitas festas, muitas mulheres, bebidas e comida eram fartura em minha vida. Amei e me diverti bastante, mas com o decorrer dos anos, percebi que minha vida era vazia. Quem eu considerava amigo, ou as mulheres que amava, logo me deixavam. Então percebi, que de mim só queriam se aproveitar e se divertirem. Nada da vida aprendi a não ser sobre as fúteis ilusões que a vida oferece. E você... Me conte do que aprendeu com o velho Sábio.

- Lamento que a vida tenha sido para você da forma que foi, mas para mim a vida sorriu. Aprendi tantos mistérios e tantas leis, que agora me sinto pronto para viver.

- E o que mais te agradou em tudo que aprendeu?

- Nunca sentir ódio. Sempre aprendi a saber amar o próximo. Saber perdoar a quem nos tenha ofendido, e o mais importante foi aprender a senti Deus dentro de mim.

- E para onde está indo agora? Eu queria ir contigo e aprender um pouco de tudo isso.

- Se você está realmente sendo sincero, faz o seguinte: Cave um buraco perto do mar, e todos os dias, vá até a margem do mar, encha um balde de água e despeje no buraco. Quando você conseguir por toda a água do mar dentro do buraco, me chame que eu de ensino tudo que aprendi.

- Mas José, isso que me pedes é impossível.

- Pois é meu caro amigo, como também seria impossível ensinar o que eu aprendi estes anos. Na vida, temos as nossas chances e devemos saber fazer as nossas escolhas. Eu fiz a minha, e tu fez a tua. Não podemos voltar atrás no tempo. Porém podemos renascer outra vez, e assim reparar o que nesta vida foi desperdiçado como um aprendizado.

- Mas sempre é tempo de um arrependimento e sermos atendidos.

- É verdade, mas hoje é humanamente impossível atender teu pedido. Deus já ouviu teu arrependimento e logo te estenderá a chance que pedes.

José abraçou o amigo e se despediu, para então voltar a ficar junto do velho sábio.

- Mestre, reparou que ele e nem percebeu que já havíamos desencarnado?

- Aqueles de coração endurecidos, acreditam saber tudo e que sempre terem razão, mas nem se dão conta do quanto são tão ignorantes. Nada sabem deles mesmos, e acham que sabem de tudo da vida dos outros.

O velho sábio olhou para o alto e então completou:

- Vamos que estamos sendo aguardados pelo Senhor.

Carlos Neves.

Carlos Neves
Enviado por Carlos Neves em 10/05/2013
Reeditado em 13/02/2018
Código do texto: T4283802
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