A Sombra e a Escuridão. #12

Só depois percebi a importância disso que estávamos fazendo, iriamos a qualquer custo salva-lo.

Capítulo 12 - Aceitando o risco.

Eu não tinha dúvidas quanto minha escolha, algo na Lagrima chamou minha atenção, como se eu já me visse carregando-a, me dirigi até ela e a empunhei:

- Ótima escolha. - Disse Beatrice. - Creio que essa é a primeira vez que pega em uma arma?

- Sim... É a primeira vez, estou ansioso. - E realmente estava, aquela sensação era nova, inexplicável.

- Duas coisas, não fraqueje e tenha sempre a espada firme em sua mão, ataque com a ponta da espada. - Disse ela me mostrando com um movimento rápido. - E nesse caso em específico preciso que saiba de algo, algo de extrema importância.

Guardei a espada na bainha e coloquei-a nas costas, ela prosseguiu:

- As espadas são bastante eficaz contra o Licantropos, ou Versipélios como preferir. Mas se caso o líder deles estiver lá, não tente um confronto, jogue a espada o mais longe que puder e corra.

- Porque? - Perguntei curioso.

- O chefe deles é conhecido como Samyaza, não sabemos se esse é seu nome real, mas é como os mortais e imortais o chamam. Dizem que veio do inferno, que tem contato direto com o próprio demônio. Já ouvi dizerem que é um anjo, um anjo que foi expulso do Paraíso. - Disse muito seca com as palavras.

Eu havia ouvido corretamente? Um anjo caído? Isso era de longe o mais surreal até agora:

- Um anjo? E porque um anjo seria chefe dessas criaturas?

- Um Anjo caído Edmond, um Anjo mal, morador das profundezas do inferno. Eu li em um livro muito antigo, que fora escrito em uma língua que já não é mais falada, que os Anjos expulsos do Paraíso são muitos, e que alguns deles mantinham relações com humanos, fazendo nascer o que chamamos de Híbridos. Metade humanos, Metade Anjos, ou Demônios, que são como os Anjos Caídos são conhecidos.

E prosseguiu.

"Você precisa saber disso antes de irmos, a chance de não voltarmos é grande, se Samyaza estiver lá, morreremos com certeza, não somos páreos para criaturas como essas, seus poderes são ilimitados e seu afeto pelos Homens e pelos Não-Vivos é nulo. Os Versipélios são o resultado dessa relação do anjo Samyaza com os Homens, e isso foi passado de um para o outro, como um gene envenenado. A maioria das pessoas acreditavam que esses Híbridos haviam morrido no Grande Dilúvio, mas a verdade é que eles estão entre nós, e são poderosos, e apenas a prata mais pura pode feri-los. Há milênios atrás os Híbridos de Samyaza e Belial estavam dominando todos os Homens em terra, seu número era absurdo e se alimentavam dos homens e animais, diz a lenda que a humanidade estava a beira da destruição quando ele apareceu, um Não-Vivo com os olhos cinzas brilhantes, empunhando um presente que lhe foi dado pelos anjos, a primeira espada existente na terra dos Homens, chamada Orgulho. O primeiro Olhos de Prata mostrou aos Homens o que os Anjos mostraram a ele, como construir lâminas para se defender de Híbridos. E é por isso que nunca deve empunhar uma espada perto de um Anjo Edmond, eles são criadores das armas brancas, manipulam toda e qualquer tipo de lâmina que existe em Terra, empunhar uma arma dessas contra esses seres celestiais é a pior besteira que pode fazer."

Eu havia entendido talvez mais do que ela tentou me explicar, os Anjos criaram as lâminas, e através do primeiro Olhos de prata ensinou a humanidade a se defender, então foi este homem com os Olhos prateados que exterminou uma boa parte destes Híbridos, e talvez seja por isso que estão atrás dele novamente, atrás de mim:

- Entendido Beatrice, se o líder deles estiver lá, pegamos o Audrey e fugimos, para muito longe. Mas se não estiver, mataremos esses bastardos, principalmente Sundjata, o maldito que matou minha mãe. - Disse a ela, sério.

- E muito provavelmente pegou Audrey também, ele parece estar no comando também, vamos, pegue suas coisas e vamos para a Cidade. - Disse ela fechando a porta da sala de armas e subindo as escadas. - Precisamos falar com Larissa Caldecott.

- Dona Caldecott, mas porque? O que ela tem haver com isso tudo?

- Ela é uma de nós, e sabe de coisas que não sei, ela nos dirá o que fazer, nos dará um rumo. - Respirou fundo. - Isso se convencermos ela.

Consenti com a cabeça e a acompanhei. Ela aparentemente não sabia mesmo onde ficava o ninho deles, iriamos precisar da ajuda da Srta Caldecott, e devido as circunstâncias eu tinha certeza que ela nos ajudaria. Saímos da casa, ela trancou a porta principal e me entregou a chave para que eu guardasse no bolso da calça:

- Espero voltar com o Audrey, e com você também Edmond.

- Voltaremos Beatrice, voltaremos. - Nos viramos para o jardim, estava uma noite fria, e seria um longa noite fria.

Ela decidiu que iriamos os dois em um único cavalo, para maior segurança, ela guiaria e eu iria atrás, já empunhando a espada. Pegamos a estrada e cavalgamos rápido pela estrada escura, aquele mesmo cheiro estranho de antes perdurava por todo o caminho, como se algo estivesse ali na floresta, esperando para nos atacar. Mas eu tinha certeza que se eu estava sentindo aquilo, ela também estava.

Chegamos na cidade, não havia ninguém nas ruas, nem na praça. Ela guiou o cavalo até o Jornal, paramos ali e descemos do cavalo:

- Fique Edmond, voltarei o mais rápido possível. - Disse ela se virando para um beco que ficava próximo ao Jornal.

Ela se distanciou um pouco, e entrou em uma porta em uma casa adjacente ao Jornal, não demorou muito, voltou e fez sinal para que eu fosse até ela:

- Amarre o cavalo, a essa hora nada irá acontecer.

Obedeci, amarrei o cavalo e fui até ela, a casa aparentemente estava abandonada. Ela me guiou até uma porta velha de madeira ao fundo do galpão, abriu e disse:

- É uma boa queda, mas provavelmente já estão nos esperando. - Dizendo isso pulou em um buraco que tinha mais ou menos 5 metros de diâmetro.

Pude ouvir ela caindo, não era muito alto, era alto o suficiente apenas para que ninguém arriscasse a queda. Me preparei, dei uma olhada e pulei, lá embaixo ela me esperava séria:

- Vamos... - E continuou seguindo por um corredor.

Estávamos aparentemente no esgoto, uma parede rústica e úmida coberta por musgos fazia parte de todo o cenário, no chão um vão por onde passava uma água parcialmente suja. Continuei seguindo ela, até que parou diante de uma outra porta, só que dessa vez de aço, com um vão apenas para os olhos:

- Beatrice aqui, estou com o Edmond, precisamos de ajuda. - Ela disse para a porta.

Por um momento pensei que nada iria acontecer, mas passado pouco tempo a porta se abriu, e Beatrice adentrou o local. Quando entrei pude ver do que se tratava, atrás daquela porta rústica de aço uma casa linda e enorme. Ali estavam três pessoas, dois homens, igualmente brancos e com vestimentas nobres, e a Srta Caldecott. Beatrice andou até eles e cumprimentou a todos, e eu como uma sombra, repeti seus movimentos:

- Edmond. - Disse Srta Caldecott.

Retribui o cumprimento e olhei para Beatrice, que logo disse:

- Precisamos de ajuda, por favor.

Os dois homens se olharam e Caldecott disse:

- O que houve, ainda os problemas com os Licantropos? - Disse tentando prever o problema.

- Sim, eles levaram o Audrey. - Eu disse, interrompendo.

Novamente os homens se olharam:

- Já estávamos cientes disso Beatrice, discutimos isso após a quebra do tratado de paz. - Disse Caldecott. - Mas não entendo o que posso fazer por vocês.

- Sei que também desconhece o paradeiro do ninho deles, assim como sei que um velho amigo seu poderia nos informar e até nos ajudar nessa busca. - Disse Beatrice.

Ficamos em silêncio alguns segundos:

- Não sei se vale a pena se arriscar por isso, colocaria todos em risco pela vida de seu filho? - Caldecott perguntou para Beatrice.

E eu interrompi:

- Sim, colocaríamos todos em risco, a criança não tem nada a ver com nossos erros, eu não entendo muito disso, mas sei que com a quebra desse tratado todos estamos condenados, só nos resta lutar, e temos uma causa! - Disse para Caldecott. - Por todos estes anos, por favor, ajude-nos.

Beatrice me olhou, como se me agradecesse:

- Droga Beatrice, você sabe tanto como eu que ele não irá ajudar em nada, não é atoa que é conhecido como o Desertor! Ele largou tudo para seu próprio bem! - Disse irritada.

- Ele nada irá fazer contra nós, estamos armados, e provavelmente ele reconhecerá Edmond, ouvi dizer que é muito sábio. - Disse Beatrice.

- Tolo são vocês que estão indo atrás da morte gratuita, mas bem, venha Beatrice, lhe entregarei este mapa. - Disse por fim Caldecott.

- Obrigado, não sei como agradecer. - Disse a Caldecott.

- Volte vivo garoto, já fará um favor a si mesmo e para todos.

Ela e Beatrice entraram em uma outra sala, enquanto eu e os outros dois homens ficamos ali, esperando em silêncio:

- Edmond, sabemos pouco sobre você, mas o que sabemos já é impressionante. - Disse o homem com o cabelo loiro e comprido.

- Sim, ouvimos falar que matou um Lican, sabe que isso não é um feito para muitos não é? - Disse o outro rapaz, o careca.

Eu dei um sorriso sem graça para eles, não sabia o que dizer:

- Vocês deram sorte, ouvi dizer que Samyaza está a milhares de milhas daqui, resolvendo assuntos mais pertinentes. - Disse o rapaz loiro. - Um amigo consegue umas informações valiosas, Edgar. Vai ouvir falar dele mais cedo ou mais tarde.

Antes que eu pudesse dizer algo, Beatrice volta com um mapa na mão:

- Vamos Edmond, não temos tempo a perder.

Agradeci novamente Caldecott e me despedi dos homens, saímos nós dois por outra porta, que dava a alguns metros do Jornal. Andamos até o cavalo, montamos e partimos em rumo ao outro lado da cidade:

- Para onde vamos Bea? - Perguntei.

- Vamos para Londres, visitar o Desertor.

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Pedro Kakaz
Enviado por Pedro Kakaz em 22/04/2013
Reeditado em 06/05/2013
Código do texto: T4253688
Classificação de conteúdo: seguro
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