A Sombra e a Escuridão. #10

Todo homem tem o livre-arbítrio, o direito de tomar suas decisões, o direito de escolher entre o bem e o mal. Todo homem segue seu próprio caminho.

Capítulo 10 - Caminhos

O sol brilhou quarto a dentro, e isso me incomodava demais. Abri os olhos com dificuldade diante de tanta luz, o quarto se mostrava ser um pouco maior agora do que havia reparado noite anterior.

Eu estava sozinho na cama, de alguma forma eu já esperava isso, ela tinha muitos problemas a resolver, problemas que eu havia causado a ela.

Levantei e fui até o banheiro, tomei um banho rápido e me troquei.

Sai do quarto devagar, não queria que ninguém me visse saindo do quarto de Beatrice, iriam pensar que aconteceu algo que não havia acontecido, eu não queria esse tipo de atenção, também não queria que Audrey tivesse nada em mente.

A casa estava parcialmente vazia, apenas dois empregados me cumprimentaram no caminho até o jardim. Nem Audrey nem Beatrice estavam ali.

Decidi ir andando até a cidade, não era longe e eu já havia perdido muitos cavalos em uma unica semana.

O caminho era muito tranquilo, a todo momento eu tinha a sensação de sentir o cheiro de Beatrice, mas era apenas uma lembrança da noite anterior.

Me peguei pensando onde ela estaria, o que estaria fazendo, me preocupei com o que poderia acontecer, aparentemente eu quebrei um acordo importante, tudo poderia ficar extremamente perigoso agora. Mas eu tinha que confiar nela, até agora ela havia resolvido tudo sozinha, eu era uma coisa recente na vida dela, não deveria interferir, não ainda.

Cheguei à cidade após alguns minutos, estava bem movimentada devido a algum evento que estava acontecendo na igreja próxima dali. Aquela movimentação toda levantava um cheiro enlouquecedor, aquelas pessoas eufóricas conversando ali, andando de um lado para o outro era perturbador, confesso que tive vontade de ver o sangue de todos ali escorrendo pelos meus dedos e meus lábios. Mas me segurei, pela Beatrice.

Reparei só agora que a cidade estava um pouco diferente, algumas construções a mais, outras haviam sumido, me localizei rápido e fui até o jornal, torcendo encontrar a Dona Caldecott ali.

Entrei e fui subindo, ainda nenhum rosto familiar, ninguém que eu conhecia, passei por alguns setores e fui barrado umas duas vezes por estranhos que queriam saber o que eu queria ali.

Fui até o ultimo andar, onde costumava trabalhar.

Assim que entrei na sala fui bombardeado de abraços. A reação foi quase unânime, a maioria ao me ver se emocionou. Perguntas aleatórias, tentei ser gentil com todos mesmo o sangue deles cheirando tão bem e a vontade de assassinar a todos fosse grande.

Foi quando eu a vi, parada atrás de todos, me olhando com os olhos cheios de lágrima, estava Isabelle.

Todos se afastaram um pouco para deixa-la falar comigo, alguns bateram em meu ombro me desejando boas vindas, me dirigi até ela.

Isabelle era uma menina meiga que trabalhava no Jornal junto a mim, os cabelos cacheados castanhos claro e seus olhos cor de mel davam um ar doce a ela. Éramos namorados antes de tudo acontecer, quando eu levava uma vida normal:

- Isabelle... - Disse em voz baixa me aproximando.

- Você esta bem Ed? - Perguntou ela já chorando. - Pensamos que estivesse morto!

- Eu estou aqui, não vou sumir mais, prometo. - Abracei-a, não podia ignorar o que havíamos vivido, nosso namoro já durava três anos antes da noite que fui visitar minha mãe e acabei na mansão de Beatrice.

Ficamos ali abraçados um tempo, ela estava absurdamente quente e seu cheiro doce me trouxe lembranças. Foi quando daquela sala ao fundo, saiu a Senhorita Caldecott:

- Senhor Edmond Warth, a que devo a honra de sua visita? - Disse sorrindo ironicamente.

Era uma pessoa divertida e inteligente, aparentava ter trinta anos, mesmo já beirando os quarenta. Era elegante e tinha um coração acolhedor:

- Senhorita Caldecott, estou te devendo um cavalo. - E sorri.

Me despedi de Isabelle com um beijo, e disse que conversaríamos depois, precisava do meu emprego de volta.

Caldecott fez um gesto para eu me sentar, e fechou a porta.

Senti os olhos dela me fitando, ela sentou, ficamos em silêncio um momento, até que ela disse:

- Eu sei o que aconteceu querido, sua amiga veio falar comigo. Sinto muito por tudo, vai ter que ser forte agora.

Aquilo foi como um soco na cara, eu estava ali cheio de desculpas e mentiras, e ela jogou a verdade nua na minha cara, ela sabia mesmo de tudo? Porque Beatrice contou a ela?

- Não entendo o que quer dizer... - Disse sem ter o que dizer.

- Edmond querido, Beatrice não é a única. Muito menos você, não está sozinho! Eu entendo tudo, e você tem o seu emprego de volta, e até sua casa se precisar, mas nada de mentiras, e preciso que tenha controle absoluto! - Disse séria.

Eu estava mesmo sem reação, fiquei grato por não ter que inventar mil coisas e ficar alimentando historias desnecessárias, e só consegui dizer uma coisa:

- Obrigado, não tenho como agradecer essa compreensão toda. Chega a ser assustador tudo isso, sei que teremos muito tempo para conversar.

- Sim Edmond, agora vá ajeitar suas coisas e falar com Isabelle, a pobrezinha sofreu muito quando você sumiu.

Concordei e sai da sala.

Fiquei ali muito tempo no escritório com todos, ninguém tentou me perguntar a fundo o que havia acontecido, imagino que por pressão da Caldecott. Arrumei minha mesa, mas não sabia realmente se iria ficar, precisava falar com Beatrice sobre tudo isso.

Fiquei um bom tempo com Isabelle, conversamos sobre tudo, ela me contou o que havia feito durante esses dois anos, disse para eu ir visita-la em sua casa quando quisesse, que se sentia sozinha naquela casa. Escureceu rápido, ela arrumou suas coisas e eu acompanhei-a até sua casa, insistiu para que eu entrasse e mesmo que eu quisesse arrumei uma desculpa, não tinha controle suficiente para ficar sozinho com ela cheirando bem daquele jeito. Nos despedimos e parti para a casa de Beatrice.

A cidade ia se esvaziando rápido com o anoitecer, com certeza o ataque ao Sr Logan e a morte do Versipélio chegaram de alguma forma distorcida como notícia aqui, mesmo Caldecott tentando esconder, o boca a boca era mais intenso.

Já estava saindo da cidade, quando vi algo que chamou muito minha atenção, jogado à beira da estrada, tossindo muito estava o Padre, aquele mesmo que estava promovendo o evento durante o dia.

Me aproximei devagar:

- Padre? O senhor está bem? Precisa de ajuda? - Eu estava apenas curioso, não fazia muito o tipo altruísta.

Ele não respondeu, continuou tossindo muito:

- Padre? - Eu estava agora perto o suficiente para enxergar.

Ele estava agachado, os olhos completamente brancos e uma expressão assustadora:

- Saia de perto! - Engasgou e cuspiu sangue. - Enviados do inferno se aproximam! Eu posso ver! Fogo, névoa, os enviados do inferno estão chegando!

Ele começou a chacoalhar a cabeça desesperado, sangue saiu dos olhos dele enquanto ele se batia desesperado:

- O que está falando? - Perguntei agora com medo.

- Algo os despertou, a profecia, rios de sangue foram derramados antes. ELES ESTÃO VINDO! - O Padre gritou desesperado e correu para a floresta.

Aquilo me assustou, olhei para os lados e não vi nada. O padre estava louco, ou estava vendo algo que eu não tinha capacidade de enxergar.

Pensei se deveria segui-lo, o cheiro dele ainda era perceptível mesmo eu não tendo-o mais a vista. Decidi ir ver por precaução, seria coincidência tanta coisa acontecer comigo?

Corri um pouco pela floresta que cercava a cidade, mas logo perdi o cheiro dele, parei um pouco olhando em volta, e não pude ver nem cheirar mais nada.

Decidi que não era da minha conta, o dia havia sido cheio demais e eu iria voltar para Beatrice e Audrey, supostamente minha nova família.

Voltei para a trilha que me levaria até a mansão. Quando estava me aproximando da casa, pela trilha escura, algo aterrorizante invadiu meus ouvidos violentamente.

Um grito muito alto, que vinha da direção da casa de Beatrice.

O que estava acontecendo? Corri em direção a casa, era a voz de Beatrice, eu tinha certeza.

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Pedro Kakaz
Enviado por Pedro Kakaz em 14/04/2013
Reeditado em 06/05/2013
Código do texto: T4240805
Classificação de conteúdo: seguro
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