A AMPLA AVENIDA
A ampla avenida, incerta, em seus sentidos contrários,
Povoada por sonhos, pensamentos e esperanças,
Reais ou não, tem em sua origem também seu fim,
Paradoxalmente espelhado em contramão macabra
Da vida que brota em possibilidades infinitas.
Nos jardins de seus canteiros há flores vivas e mortas,
Com as mesmas cores, perfumando com dores, dissabores
E amores as belas e suaves manhãs dos inocentes,
E a noite que chega ao fim do dia dos condenados.
Tento me abstrair de grandiosa visão da nascente,
Com o olhar paralisado no tempo e no espaço meus,
Assombrado com um frio cortante trago pelo medo,
De quem presenciou seu infame irmão gêmeo.
O céu sob o qual estava foi tomado de escuridão,
A melodia da morte soou-me esplendorosamente,
Derrubando pelo caminho crenças e divindades,
Num vasto em que tudo se transformava em nada.
O silêncio se faz tão grande na alma em fuga,
Que, naquele mínimo momento eternizado,
Pude contemplar o apocalipse fatal, medonho
Em ponto de mutação, onde tudo converge:
Toda vida se encaminha para a morte horrenda,
E na confusão quântica inevitável, universal,
Toda morte, em redemoinhos, vira vidas outras,
Estranhíssimas, multilinguares, multiplanetares.
Da região – escura – onde me encontrava só
Entre multidões de seres, terrenos ou não,
Perdidos e inconscientes do vasto abismal à frente,
Podia-a ver, exposta à luz que saía da aniquilação.
Conhecedora, como eu, do segredo horrendo:
A ampla avenida haveria de, após o derradeiro golpe
Na tribulação do vasto abismal do fim, de regurgitar
Vidas e luzes estranhas e incompreendidas em outro ponto.
Bem sabia ela da separação eterna do porvir iminente:
Após o fim a que me caminhava e do qual ela emergia,
Haveria, sob a vasta vida a se iniciar, uma morte maior, impiedosa,
O fim da união eterna em esquecimento mútuo em vidas sobrepostas.
Péricles Alves de Oliveira