ENCONTRO COM UM ANJO

Era noite clara, de luar... linda.

Havia sido convidada mais uma vez para esses bailes da corte, mas admito, eles não me traziam mais a mesma alegria de antes, apenas me fazia presente, porque tinha amigos lá e respeitava-os.

Então decidi ficar quieta, na mesa destinada a mim, queria apenas observar o salão e nada mais.

As horas demoravam a passar, estranhamente naquela noite, sentia-me angustiada, sem saber ao certo o porque, como se me faltasse algo que jamais poderia identificar. Me deixei levar pelos meus pensamentos mais uma vez, quando algo me chama a atenção.

Já estava acostumada com a presença dos mais diversos seres nesses bailes, mas... esse estranho que chegou era completamente diferente, não havia conseguido desvendar sua essência, como fazia com tantos outros e isso intrigava-me por demais.

Apenas observava, seus modos... suas palavras, parecia-me que vinha de muito longe, seu sotaque era lindo, mas falava nosso idioma com certa facilidade, digamos assim.

Era lindo, suas asas negras como a noite, parecia-me que ele fazia questão de não esconder sua essência, tinha orgulho do que era, UM ANJO, mas completamente diferente de todos que se encontravam lá.

Notei que era muito respeitado, por todos os presentes, deveria ser alguém importante, pensei, então apenas observava-o, pois não conseguia penetrar em seus pensamentos, e admito isso me frustrava um pouco, já que fazia isso com quase todos os presentes.

Meus instintos me alertavam para manter-me longe dele, mas não sei porque, não desejava isso, é como se algo me atraísse a ele, então tentei desvincilhar-me de tais pensamentos, seria melhor assim. Observava apenas seus modos perante todos e admito era realmente encantador.

Em certo momento, nossos olhares se cruzaram, senti meu rosto queimar feito fogo, não pretendia ser notada por ele, naquele momento, então apenas declinei a cabeça em sinal de respeito aquele que não conhecia, quando ele se aproximou.

- Permita-me bela dama... – fazendo um sinal para o lugar vago em minha mesa.

- Certamente Milorde.... fique a vontade!

- Grato....Senhora?

- Condessa Drakon.... Emini Drakon....

- Encantado minha Senhora!

Por incrível que pareça ele não se apresentou e eu nem ao certo sei o porque, não insisti nisso, apenas nos observávamos mutuamente, sem palavras. Por um segundo tive ímpetos de questioná-lo sobre quem era, e o que fazia ali, mas contive minha curiosidade, não seria gentil fazendo isso.

Conversamos coisas banais, quase sem sentido para o momento, creio que estávamos nos defendendo intimamente um do outro, mesmo sem saber ao certo porque.

Então por puro instinto, decidi deixar o recinto.

- Milorde... se me permite... já se faz tarde... preciso me retirar.... tenha uma noite maravilhosa!

- Grato pela companhia nobre Senhora, e sinto muito ter que perder tua companhia tão cedo!

- Realmente preciso ir!

- Espero encontrá-la novamente...

- Será uma honra Milorde!

Dizendo isso me retirei, não me permiti olhar para trás, mas sentia que ele me observava, dispensei meus servos, queria ficar sozinha, então quando me vi suficiente longe de tudo, abri minhas asas e voei o mais alto possível, pousando em uma colina, que tanto amava, da qual me alimentava de sua paz.

Não sei por quanto tempo permaneci lá, precisava me livra dessa sensação que me ocupava a alma, aquele ser... tinha algo nele que me atraia demais, devia ter cuidado, muito cuidado.

Tinha a sensação de estar sendo observada, mas não avistava ninguém, talvez fosse apenas impressão, já não sei, apenas mantive meus instintos alertas.

Durante algum tempo, me decidi ficar eclusa em meus domínios, pois haviam problemas maiores lá, para serem resolvidos, nem sei mais tantos convites para esses encontros neguei.

Os ataques a meu castelo, estavam se tornando mais freqüentes e tinha que proteger meus amigos e minha família, então sendo assim ausentei-me de todas as reuniões sociais por um tempo, mas aquele ser não me saia do pensamento, como se estivéssemos ligados de alguma maneira, são não sabia como.

Certa noite, recebi um convite, que infelizmente não poderia negar, aniversário de uma amiga adorada, então dei as ordens necessárias para a segurança do castelo, já que não estaria ali boa parte da noite, e deixei ordens também, para que qualquer problema me fosse comunicado imediatamente, então parti.

Chegando lá, tudo estava lindamente decorado, e por um instante, percebi que realmente precisava de um pouco de diversão, então tentei relaxar.

O baile de máscaras estava realmente maravilhoso, lembrava-me os bailes da corte, de séculos atrás, onde os de minha raça eram soberanos. Deixei-me encantar pelo momento, tudo parecia tão mágico, tão nostálgico, observava a todos de minha mesa, a alegria pairava no ar, tudo estava perfeito, como realmente deveria ser.

A certo momento, minha anfitriã veio até mim, preocupada por eu estar tão quieta, apenas disse que estava admirando tamanha beleza e grandeza de tal festa, e que ela realmente merecia tudo isso, e que ela fosse extremamente feliz, como merecia ser.

Conversamos por algum tempo, até que a musica recomeçou e ela foi enlaçada mais uma vez pelo seu noivo, que levou-a para o centro do salão mais uma vez, mesmo sob os protestos dela, mesmo sem querer, acabei rindo de tal situação, então voltei aos meus pensamentos, mas não por muito tempo.

- Condessa Drakon... daria-me a honra?

Era ele, sabia disso... conhecia seus olhos, mais do que ninguém naquele recinto, senti o coração gelar naquele momento e simplesmente o acompanhei. Ele dançava maravilhosamente bem, ficamos no mais completo silencio, temia dizer algo inconveniente, apenas me deixava ser levada pelo ritmo da musica, naqueles braços misteriosos, quando ele disse:

- Minha Senhora... parece que não lhe agrada minha companhia!

- Muito pelo contrário Milorde, és uma ótima companhia, perdoa-me não quis demonstrar isso...

- A senhora abandonou as rodas sociais, poderia saber o porque? Estive presente em quase todas nesses últimos tempos, mas não encontrei-a em nenhuma delas...

- Milorde... tive assuntos a tratar em meus domínios, por isso a necessidade de minha ausência.

- Entendo.... Mas estou feliz, que esteja entre nós novamente, e se me permite dizer... dança muito bem...

- Grata Milorde.... mas creio que o senhor que seja um ótimo dançarino, pois conduze com destreza sua dama.

Quando a musica terminou... não sei bem ao certo, convidei-o para a mesa destinada a mim... e ele educadamente aceitou minha companhia, realmente parecia que nossos destinos estavam traçados.

Jamais imaginei encontrá-lo novamente, depois de tanto tempo, e em terras tão distantes das quais havia o conhecido. Mas mesmo sem querer estava feliz com esse reencontro.

Conversávamos animadamente, quando Lord Kratos, chegou até mim e disse:

- Como tem passado Senhora?

- Bem.. graças aos Deuses Milorde e o Senhor?

- Muito bem....preciso falar com a Senhora... em particular....

Nesse momento, meu adorável amigo, cordialmente se retirou da mesa, alegando ter encontrado alguem, que precisava cumprimentar, então Lord Klaus sentou-se e disse:

- Minha querida.... tenho uma proposta à você.... sei dos ataques a seu castelo, e desejo ajudá-la... mas para isso deve lutar comigo... o que acha?

- Milorde... tens algo haver com esses ataques?

- Digamos assim.. sei como resolver esses problemas...

- Sei... e digamos que aceite tal batalha... o que terei em troca?

- A paz que tanto deseja querida... não é suficiente?

- E porque comigo? Com tantos adversários?

- Por que? Sei de tua fama querida.... de tua força... e você seria um ótimo teste!

Simplesmente observava-o sem nada a dizer, estava irritada com a presença dele, então apenas sorri e disse marque o local e a data, estarei lá, e pedi a ele que se retirasse de minha presença, pois ele me dava náuseas.

Ele se retirou gentilmente, deixando-me perdida mais uma vez com meus pensamentos, eu não entendia o porque disso, nem porque ele desejava tanto o meu castelo, precisava me preparar para a batalha, para proteger os meus e minha família que tanto amava.

Nesse momento meu amigo retorna e diz:

- Algum problema minha querida?

- Não... tudo bem... nada que eu não possa resolver!

- Está abatida... parece que Lord Kratos trouxe-lhe noticias nada agradáveis.

- Perdoa-me... preciso ir...

Fiz menção de me levantar, então ele segurou meu braço e disse:

- Fique Milady... estamos aqui agora... aproveite a noite, não se aflija, se desejar estarei aqui para ajudá-la no que for preciso...

- Grata Milorde...

Conversamos por mais algum tempo, até que decidi me retirar, minha cabeça estava confusa, precisava ficar sózinha, refletir sobre os últimos acontecimentos, ponderar a situação, e preparar-e para a batalha. Então despedi-me de meu querido acompanhante.

- Milorde... agradeço a noite agradável que me proporcionou... mas realmente preciso me retirar, já se faz tarde... se me permite...

- Certamente minha querida.... eu que agradeço companhia tão agradável...

- Milorde... venha me visitar em meus domínios, será bem vindo entre nós.

- Irei... com certeza minha querida.... será uma honra.

- Grata... agora se me permite!

Despedi-me e segui meu caminho de volta a meu castelo, queria saber se estava tudo bem com os meus, não gostei da maneira que Lord Kratos , falou sobre os ataques.

Quando cheguei, notei que tudo estava na mais perfeita ordem, então tranqüilizei meu coração.

Os dias se passavam, e eu me preparava para a batalha, não queria que os meus soubessem disso, não queria preocupá-los, já que já tínhamos que nos preocupar com a segurança do castelo.

Certa noite, estava em meus aposentos, quando um dos meus servos vem anunciar a chegada de visitas, e para minha surpresa, era meu enigmático amigo, pedi para que o permitissem entrar.. e informassem que já iria ao encontro dele.

Mesmo sem querer, senti meu coração bater mais forte, jamais imaginária que tal ser viesse ao meu encontro, arrumei-me com esmero, queria estar linda para recebê-lo, só então percebi... parecia uma tola... me preocupando com isso, ao descer as escadas noto ele ao centro da recepção, então falo:

- Seja bem vindo aos meus domínios meu querido... feliz que tenha aceito meu convite.

Cordialmente beija-me as mãos e diz:

- Jamais negaria tal convite, minha querida... a honra é minha.. garanto a senhora!

- Venha... acompanhe-me...

Fomos para a sala de visitas... onde estaríamos mais a vontade.

- Aceita um vinho?

- Certamente querida....

Solicitei que trouxessem a bebida... , ele estava incrivelmente lindo nessa noite, seus olhos brilhavam mais que o luar... estava encantada por ele, quando trouxeram o vinho, pedi que se retirassem, eu mesma serviria.

- Permita-me querida...

Dizendo isso ele serviu-nos e nos acomodamos no sofá, parecia que mais uma vez nos estudávamos, então ele disse:

- Minha querida... queria saber como estás? Não tem comparecido mais aos encontros da corte.. fiquei preocupado!

- Estou bem meu querido... digamos que andei indisposta, e tinha ocupações demais aqui para poder abusar de minha ausência, como sabe... tenho um reino a administrar, e isso exige certo esmero.

- Entendo minha querida, mas o assunto que me trás aqui é delicado, espero que não se ofenda, com o que vou lhe falar!

- Certamente que não.... o que houve?

- Soube da batalha...

- Como?

- Lord Kratos... espalhou aos sete ventos que enfrentaria a senhora, em uma batalha.

- Droga! Ele não aprende mesmo... que ódio.

- Calma querida! Não haverá mais batalha, já cuidei disso!

- Kratos não desistiria, sabe disso!

- Naquela noite, quando partiu, notei que ficou abalada depois de sua conversa com Kratos, não pretendia me intrometer, mas ele falava alto, depois de algumas doses de bebida, vangloriando-se que enfrentaria a Senhora, então decidi interferir... peço que me perdoe.

- Milorde... não há o que perdoar... foi gentil... mas permita-me saber como conseguiu que ele mudasse de idéia?

- Sou um Anjo querida...e meus métodos de persuasão são muitos minha querida, mas nesse caso apenas tivemos uma conversa franca... garanto a senhora! A paz retornará a seu castelo.

- Porque fez isso? Essa guerra não era sua querido... sabe disso!

- Apenas quis ajudar... aquela que me tratou com tanto carinho.. apenas isso!

- Sou-lhe grata Milorde... peça o que desejar e terá... como prova de minha gratidão!

- Já tenho tudo o que desejo minha senhora, garanto isso.

- Muito bem... mas saiba que terás uma eterna aliada, caso precise, é só me chamar.

- Certamente querida, sou grato por isso! Agora mudemos de assunto...

- Claro querido.... gostaria de conhecer minhas terras?

- Seria uma honra minha Nobre!

- Ótimo!

Solicitei que preparassem as montarias, a noite estava perfeita, para cavalgar, a lua estava cheia, e as terras iluminadas pela sua luz, quando estava tudo preparado, seguimos para nosso passeio noturno.

- Espero que goste Milorde!

- Em tão agradável companhia, não terei como não gostar!

Senti o rosto queimar, e baixei o olhar, para que não notasse meu constrangimento, montamos em nossos animais e seguimos lentamente, iluminados pela lua, tudo parecia perfeito, conversávamos animadamente, apresentei-lhe meus domínios, cada canto, cada detalhe, e parece-me que ele gostou muito.

Já estava quase amanhecendo, quando ele decidiu partir, prometendo voltar em breve.

O tempo passava, e quase todos os dias nos encontrávamos, seja em meus domínios, ou em casas de anfitriões em comum, conheci seus amigos também, que passaram a freqüentar meu castelo, parecia que tudo tomaria seu rumo.

Condessa Drakon
Enviado por Condessa Drakon em 06/05/2012
Reeditado em 01/06/2013
Código do texto: T3653095
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