126 – REMINISCÊNCIAS...

De presente ganhaste a vida, ganhaste a morte!

Ganhaste o prazer, mas ganhaste também a dor!

Tens tudo! Tens nada!

Anoiteceu!

Resta-te por vida um único e último passo, perscruta, fatal é este entroncamento dos teus encontros com os teus desencontros, a página é a ultima do livro da tua vida, última linha por findar, sina atroz daquele que vive e vive sabendo deste inevitável encontro com um outro descomunal mundo incerto e atemorizante!

No pensamento desarrumado roda teus sonhos, roda no vento enlouquecido toda a tua vida, roda tuas lembranças, delas desconhecidas, muitas!

Pasme!

Gritas!

Ninguém te ouve, ecos gritando teus gritos, abraças teus braços pois ninguém te abraça, tudo segue, a vida segue e não tens como fugir desta maldição, tens que seguir, não és dono de si, não és dono de nada, inexiste salvante em que tu possas agarrar, nada te pesa, pesa-te tudo, pedes, imploras por mais um tempo na vida, o tempo é surdo, desesperas, foges, tentas se esconder, fuga inútil do olho da morte que a tudo vê!

No boteco último sentado refugias num sonho que sonhas que bebendo bebes duma bebida que embriaga brindando estrelas, fumosidades, véus e encantos.

Alucinado, cantas, choras e desconsolas, teus amigos passam passando passam pelos braços teus que abraçam quimeras, eles não te sentem, nem te percebem, te ignoram por completo, desesperas, enlouqueces, bebes deste resto negro amargo líquido fundo envelhecido nesta taça esquecida sobre a mesa deste abandonado boteco neste velho casarão!

Nesta esquina dos pecados escondidos sob o pó das orgias numa valsa triste sombras assombrando insistem pelo salão valsando ensandecidas...

Embriagado, cante tudo que couber na tua canção, enfeite-a de falsas nostalgias e de sonhos que não sonhaste.

Emudeceste?

Chores!

Lágrimas não mais existem, choraste na vã procura de um grande amor, bazofiaste em falsos afagos de mãos pecaminosas, perfumadas garras a roubar virgem ainda desconhecido do amor e da felicidade o seu coração!

Choraste?

Recordar é fantasiar!

Sonhos e realidades se abraçando, fragilmente respiras, estertores de uma vida na retrospectiva final, mais fracassastes do que vencestes, foste mesquinho, orgulhoso, das vezes falso, das vezes mentiroso, das vezes covarde, das vezes magnífico no embate.

Arrepender, rir ou chorar de acontecidos se o tempo já é escorrido não mais importa, a morte vencedora já recolhe teus despojos e teus troféus, tomar-te-ão tudo que tens e terás por herança as suas lembranças, te confundes nesta luz outra agora refletida em cores escorridas e desbotadas que agora tingem o seu olhar, pinturas vívidas redemoinho maluco pincelando o cal na sua sepultura final.

Faxineiro estranho na dura lida arrancando da alma formas que já tiveram vidas, vidas que já tiveram formas, cores e brilhos bruxuleando em fragmentos de uma existência findada neste tempo silencioso deste cemitério, cenário último do conflito daquilo que foste e do que sonhaste, longe, um jardim de infâncias, num berço balançar uma criancinha a chorar, foste um menino, foste um adulto, foste um velho, és um morto, incompreensível te é este minuto último do teu ser em desconstrução, a vida, esta estrada incompreendida que liga o nada que foste ao nada que serás, a tua finda! Suposições sobrepondo suposições, sonhos gerando sonhos, a morte ceifou e tu te foste na sombra de um adeus, um ponto pensante a vagar pelo desconhecido...

Desconhecido?

O que virá e o que seremos!

Só Deus sabe!

Magnu Max Bomfim
Enviado por Magnu Max Bomfim em 13/04/2012
Reeditado em 10/07/2018
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