Apenas um sonho

Um dia desses olhando para o céu , com as mãos entrelaçadas , me deparei como nunca havia me deparado ,com aquela imensidão de estrelas que lembrava uma infinidade de olhares.

Os mais brilhantes e inquietos , eram os olhares das crianças , que não se prendem a nenhuma crença em responsabilidade. Era além de tudo , um brilho maroto e alegre , que facilmente cativava muitos.

Próximo deles , estavam brilhos mais centrados porém, de forma mais revolucionária e com um certo tom de gosto pelo perigo.

Em minha simplicidade, gostava do que estava vendo e interpretando , e por isso , me encostei em uma pilastra já com temperatura baixa devido ao sereno que caia de forma gradual.

Lembro que estava realmente ficando frio e para não perder nenhum segundo, coloquei as mãos nos bolsos da calça.

Acima dos revolucionários , pude ver os brilhos intensos , centrados e que refletiam excesso de responsabilidade e em alguns um pouco de ganância e uma linguagem afiadíssima com marcas do capitalismo.

Não haviam marcas de limites e nem lugar para ouvir que fracassaram e isso, me intrigou e me fez obrigado a olhar e analisar o quanto de brilho se perde quando se é adulto e dono de si mesmo.

Naqueles instantes , o mundo era meu e tinha total entendimento de como a vida se passa porque , seus personagens estavam bem acima de mim e os podia ver de um jeito privilegiado no qual nenhum homem sonhou em ver antes.

Aquele gigante espaço, bem maior que qualquer país ou cidade , carregava o peso de gerações e o trilhar de uma sociedade que evolui e perde alguns princípios de liberdade e em seu lugar , querem pôr glória e insensatez , mesmo sem saber seus significados.

Se o mundo fosse meu todos os dias, entenderia a clássica forma que os seres humanos têm de errar e trazer para si coisas que não os pertencem.

Acreditem , eu estava vendo isso naqueles olhares e de forma lúcida garantia para mim mesmo , que me lembraria de todos os detalhes. Estava tão perdido naquilo tudo , que nem percebi que a posição estava incomodando minha estrutura corporal. E também não percebi que chovia, ventava e nevava.

Mesmo com o chão escorregadio , não pensei em sair de lá pois , ainda faltava entender os brilhos que estavam mais acima ainda e entender o porquê de tanta serenidade.

Estava havendo o marco de uma dádiva divina para mim já que , estava vendo além dos limites mais supremos que alguém já teria visto.

Naquele momento de muitos pensamentos , estiquei as pernas e fiquei apoiado na ponta da sacada somente com as pontas dos pés, com o objetivo de alcançar maior altura e olhar além das nuvens.

Lá estavam eles.Os olhares que faltavam para mim entender as conjunturas da vida humana e quem a faz ser tão viva e marcante.

Era um brilho nobre e valorizado por muitos , ou seja , não havia nenhuma chance de haver antropocentrismo.

Eles carregavam um brilho fosco por fora mas , ao olhar melhor por dentro era muito difícil de enxergar devido ao grande e forte brilho que havia visto em todas as gerações anteriores contidas ali.

Estavam cercados de olhares e brilhos de todas as direções como se tivessem a função fundamental de transmitir sua imagem para servir de exemplo e garantia contra erros.

Então , percebi.Aquele brilho adocicado e cheio de boas coisas , era o reflexo dos olhares dos anciãos, que apesar de estarem no último estágio da vida , possuíam maior peso e mereciam todo o respeito que alguém pode dar.

Quando estava muito perto daqueles relativos olhares , algo foi mais forte que eu e me fez cometer o que muitas pessoas cometem quando estão em seu auge pessoal:Olhei para baixo e senti o frio da neve , da chuva e do vento que agora , me impossibilitavam de ficar de pé naquela sacada que correspondia a uma grande altura.

Então acordei e em meio aquilo tudo e enrolados pensamentos ,não conseguia me situar.Por isso , mudei de posição na cama , virando para o lado que não havia janela e continuei a dormir.

JBorsua
Enviado por JBorsua em 07/06/2011
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