Procura-se Julhiêta


Fim de noite início da madrugada inverno rigoroso e Julhiêta com as mãos trêmulas na bolseta chorava as magoas das muitas desilusões que a vida lhe impôs. As vésperas de completar trinta e nove anos de idade, solteira, cinco filhas, desempregada, morando em um cômodo de dez metros quadrados em um prédio abandonado pertencente ao INSS que fora invadido por sem tetos, sem esperanças, sem futuros e sem mais nada, Julhiêta procurava na bolseta moedas para pagar sua passagem no ônibus que a levaria de volta ao lar. Sentindo muito frio, debilitada pela fome e cansaço, voltava para casa após mais um dia de infrutífera procura por trabalho, por emprego. Julhiêta não tinha na bolseta moedas suficiente para o pagamento da passagem. Humildemente, com lágrimas nos olhos, disse para a senhora cobradora que não tinha o dinheiro da passagem, a senhora trocadora gritou para o motorista: PARA O ÔNIBUS PEREIRA, VAI DESCER MAIS UMA QUE NÃO ARRUMOU NEM A GRANA DA PASSÁGEM! Pereira afundou o pé no pedal do freio parando o ônibus bruscamente. Julhiêta foi ao chão. Meia dúzia de passageiros homens e mulheres riram das palavras da senhora trocadora e do tombo da Julhiêta. Ao se levantar chorando as mágoas das muitas desilusões que a vida lhe impôs e dores que sentia da queda Julhiêta foi obrigada a descer do ônibus sobre o viaduto. Julhiêta subiu na mureta de proteção e saltou. Ao saltar sua bolseta caiu na pista do viaduto espalhando as poucas moedas que guardava. Seu corpo espalhou as águas fétidas do rio e nunca foi encontrado. Julhiêta é tida como foragida da justiça, é procurada pela polícia por abandono de incapaz por haver abandonado cinco crianças em casa e a população revoltada grita por justiça.
Yamãnu_1
Enviado por Yamãnu_1 em 09/07/2013
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