" OS SETE DIAS"

“ OS SETE DIAS”

Apesar do transcurso da viagem ter se dado calmamente e sem intercorrências dignas de nota, Laura sentia-se irremediavelmente fatigada. Após regalar-se em um relaxante banho, a moça houve por bem deitar-se à cama com os cabelos ainda molhados; e vencida pela prostração rapidamente ressonou...

Decorridas dez horas de repouso, Laura levanta-se lépida e fagueira como há muito não ocorria. De pronto postou-se à frente da antiga penteadeira de três faces,e pôs-se a arrumar com aprumo a vasta cabeleira loura, prendendo-a em sedutor coque... O colo alabastrino dantes encoberto por blusas severamente escuras e fechadas, irradiava agora um fascínio hipnotizador,adornado que estava por um elegante e longo colar perolado...

Ao olhar para o seu reflexo estampado no espelho a moça sentiu-se acometida por um estranho frenesi. Decidiu então utilizar um gracioso vestido floral que tão bem lhe assentava em seu corpo curvilíneo,ultimando seu figurino com o uso de altíssimos saltos agulha que exitosamente moldavam suas torneadas pernas...

A cada cumprimento, sua boca sensual pintada lindamente de carmim, abria-se em flor, e o seu perspicaz olhar procurava atentamente adivinhar sinais indicativos do interesse masculino...

Entrara em um táxi e indicara o itinerário da velha fazenda de seus avós, a qual por vis interesses econômicos dos políticos locais fora há tempos desapropriada, estando agora aberta apenas à visitação pública por turistas aos fins de semana.

Cortando caminhos em atalhos, a moça chegou oculta à sua amada cachoeira... Como uma autômata livra-se uma a uma de suas vestes e mergulha no remanso daquelas águas absolvidoras de toda e qualquer culpa moral... Banhava-se prazerosamente, e de repente quedou-se inerte como petrificada... Ele estava ali, e já caminhava seminu em sua direção... A combinação encharcada punha a nu os róseos mamilos, as mamas pequenas, mas luxuriantes, o corpo jovem ávido por sequiosos beijos... Tomada por um passional impulso acariciou o dorso claro, cheio de pintas, de seu amado... E pouco a pouco foi aproximando seu rosto ao dele, até que finalmente os lábios se entregaram em um fremente beijo...

Estava há sete dias viúva de um homem que jamais amara... Casara-se com ele para livrar seus pais da iminência de uma ruína financeira e cada vez que com que ele se deitava sentia-se como estivesse caminhando rumo ao cadafalso... Os toques grosseiros de Lucio, as palavras de baixo calão por ele entoadas, aliadas a total falta de sensibilidade faziam-na sentir dores e mal estar... Se ao menos tivesse notícia de Paulo, sua entrega seria um tanto quanto menos repulsiva e suportável!

Há pouco tempo atrás chegara a seu conhecimento,que seu marido, em razão de sentir-se preterido em sua vaidade masculina, agira movido por um motivo torpe alicerçado em vingança. Cheio de ódio optara então pela contratação de um pistoleiro de aluguel com o fito de matar seu desafeto Paulo em uma emboscada. Inadvertidamente, porém, o matador erra o alvo e acaba por acertar o próprio mandante na cabeça, o qual não resiste aos ferimentos, vindo a falecer em poucos instantes.

Preso em flagrante delito o homicida tudo confessa na Delegacia ; e Laura não sente remorso algum em voltar à acolhedora cidade onde conhecera na juventude o único homem que tocara seu coração...

Passados alguns dias, no interior de um Cartório de Notas, Laura acompanhada por seu advogado Marcelo decide renunciar a tudo a que fazia jus por ocasião da morte de seu cônjuge...

Queria apenas desfrutar do lânguido amor que nutria pelo homem por quem se apaixonara anímica e eroticamente, o único verdadeiramente idôneo a desfraldar a virgindade de seu prazer, sob às cálidas e azuladas águas de uma mágica cachoeira...

* Nota da Recantista: Trata-se de um texto meramente ficcional.

Ivone Maria R Garcia (Ivoninha)

14/09/2010