O SEQÜESTRO DE LILI

O Coronel Matihas, militar reformado, vivia em uma mansão da zona sul com sua filha Lili e alguns empregados. Conservava ainda os hábitos adquiridos durante uma longa carreira militar e levantava muito sedo. Fazia um desjejum e acomodava-se em um confortável sofá de couro para ler os jornais matinais. O dia amanheceu chuvoso e frio embora o outono estivesse apenas começando. Desde que deixara a vida na caserna o coronel questionava-se seguidamente sobre o que fizera de sua vida. Ao ler tantas notícias de seqüestros e mortes, lembrava que sua vida fora destinada à arte de matar. Era um voraz devorador de livros, principalmente dedicados a vida militar. Lili levantou ainda sonolenta e dirigiu-se à cozinha para tomar um copo de leite gelado. Passou por seu pai arriscando um

– Bom dia pai! Embora estivesse acostumada a resposta.

– Humm? Respondeu como de hábito o coronel, sem levantar os olhos do jornal. Ao ver a hora no grande relógio sobre a geladeira, Lili resmungou.

– Droga! Seis e meia, eu vou é dormir de novo. Tomou um copo de leite e voltou para seu quarto. O telefone tocou e somente lá pela sétima chamada Mathias se deu conta. Lili já vinha de seu quarto para atender parando na escada ao observar o Coronel que lentamente levava o fone ao ouvido.

– Alô?

– Estamos com sua filha! Disse uma voz distorcida eletronicamente do outro lado.

– E daí? Resmungou o coronel.

–Você não entendeu. Isto é um seqüestro.

– E o que vocês querem?

– Cinqüenta mil. Respondeu a voz.

– Hora! Seu canalha, você está brincando. Então, você acha que minha filha vale só cinqüenta mil?

– Bem! Se o senhor quiser pagar mais, não temos objeções.– Seu pilantra, você tem uma arma?

– Claro!

– Então use. Bolas mate logo e me deixe ler os meus jornais.

– Cara não estamos brincando! Quer falar com ela?

– Não! Respondeu o coronel.

Uma voz feminina do outro lado gritou.

– Pai, por favor! Ouviu-se a seguir um grito e o estampido de um disparo.

– Foi você quem quis! Falou a voz desligando.

– O que aconteceu? Perguntou Lili descendo a escada.

– Eram seqüestradores, disseram que haviam seqüestrado você! – Pai! O que você fez?

– Hora, é claro que era um trote.

– Pai! A Nancy! Ela é a minha cara, somos tão parecidas que os professores nos confundem e se não for um trote?

– Santo deus! Você acha que eles a pegaram pensando que era você?

– É possível. E agora? Você pode ter decretado a morte da minha melhor amiga.

– O que vamos fazer?

– Primeiro vou ligar pra ela! Dizendo isso Lili correu para seu quarto apanhou o celular e ligou. O coronel parado junto à porta tinha um ar bastante preocupado.

– Não responde! Meu deus! Temo pelo pior. Vou para casa dela. Dizendo isso Lili vestiu-se rapidamente e saiu!

– Vou com você! Falou o coronel.

– Nada disso! Que tal falar com a polícia?

– Boa Idéia, vou ligar para o Castro. Lili chegou à casa dos pais de Nancy e aflita tocou a campainha. A mãe dela atendeu.

– Você a esta hora, algo grave deve ter acontecido. Lili narrou os acontecimentos ao que a velha respondeu.

– Nancy não aparece desde ontem, mas isso é normal. Às vezes fica com os amigos e volta 3 u 4 dias depois.

– Dona Marta, é grave! O telefone dela não atende! Vou ligar para o Roberto, ele é mais chegado a ela e deve saber de alguma coisa. Roberto afirmou que não a via a mais de 3 dias. Lili tentou outros amigos em comum, mas ninguém sabia de nada.

A situação estava ficando complicada. Nancy havia simplesmente evaporado.

O inspetor Castro, mal acabara de sentar-se à sua mesa quando o telefone tocou. O Coronel Mathias bastante nervoso contou-lhe o que havia acontecido.

– Mathias, se você não tem um identificador instalado, não tem como identificar o telefone. Até o momento não temos nenhuma ocorrência a respeito. O jeito é esperar, pode ser um destes golpes aleatórios. Vai ver que a tal Nancy aparece logo. Vou mandar um agente à casa dos familiares apanhar umas fotos e vou determinar uma busca. Mal havia deitado o fone no gancho quando Júlio entrou com o BO. Haviam localizado um corpo junto a um matagal próximo a praia do Lami. O inspetor Castro dirigiu-se ao local acompanhado por Júlio e demais membros da equipe técnica. Uma moça esfaqueada com vários cortes profundos, semi-despida estava caída de bruços numa poça de sangue. Um Corsa com as portas abertas estava junto ao local.

Um exame superficial indicava ao inspetor que o crime ocorrera ali mesmo. Manchas de sangue no carro sugeriam que ela havia sido agredida ainda dentro do veículo.

– Ela conhecia o assassino. Talvez um namorado. Comentou Castro.

– Júlio verifique a agenda no celular. Precisamos convocar todos os conhecidos ou contatos dela. Dito isso o inspetor ligou para o coronel Mathias.

– Mathias, tenho péssimas notícias. Acabamos de encontrar o corpo. Não precisa procurar mais por Nancy. Mas pode ficar tranqüilo, ela foi morta a facadas. Não há vestígio de arma de fogo.

– Inspetor! Mas e o disparo que ouvi?

– Pode ser um golpe, temos que investigar. Não sabemos ainda se tem ligação com o crime. Parece que a moça tinha muitos amigos. Uma agenda lotada. Agora vamos tomar os depoimentos e a fila é grande.

Mathias ficou mais tranqüilo, mas aquele disparo o incomodava. Quem afinal teria morrido?

Lili estava inconsolável com a morte da amiga. As duas eram colegas de faculdade e Nancy tinha realmente muitos amigos e namorados com quem saia frequentemente. Será que o assassino era alguém do grupo? Só as investigações da polícia poderiam agora resolver o mistério. Castro chegou em casa após o expediente e após um banho fez um lanche e foi para sua biblioteca onde tinha o computador instalado. Costumava trabalhar até tarde quando tinha um caso complicado e a muito serviços como o Orkut e mapas da internet passaram a ser ferramentas úteis. Não tardou a localizar a página de Nancy no Orkut. Realmente a garota parecia sair com metade da cidade. Mas um tal Roberto parecia ser o mais freqüente pelas mensagens constantes que trocavam. Castro imprimiu a lista de nomes e mandou um e-mail para o escritório. Precisava conferir com a lista de depoentes convocados. A autópsia revelou que Nancy havia praticado sexo pouco antes de ser morta na véspera do dia em que o coronel Mathias recebera o telefonema. Teria morrido entre 18 e 19 horas. Castro ordenou a coleta de material para exames de DNA de todos os suspeitos. Haviam na verdade 18 suspeitos que não tinham sustentado um álibi concreto.

– Esta juventude parece desligada mesmo. A maioria nem sabe o que estava fazendo, muito menos dizer onde estava na hora do crime. Resmungou Castro falando sozinho. Os exames consumiriam uma semana até que pudessem ter o DNA comparado com as amostras de esperma colhidas na cena do crime. Castro costumava fazer suas próprias diligências e não tinha hora para isso. Pouco se importava se fosse ou não horário de expediente.

Roberto Moratti pareceu meio nervoso ao ser inquirido pelo inspetor. Afirmou que na hora do crime estava em companhia de Luci, uma loura sardenta que confirmou embora parecesse também nervosa. Falava procurando desviar o olhar do inspetor. Durante a entrevista com Roberto o inspetor repentinamente falou.

– Você está com seu celular?

– Porque pergunta inspetor? Respondeu Moratti.

– Rotina policial, posso dar uma olhada?

– Claro, respondeu Roberto alcançando o celular.

–Você namorava Nancy? Perguntou o inspetor enquanto examinava o aparelho.

– Hora inspetor eu saia com ela, mas não era nada sério. Você entende?

– Sim, respondeu castro. Aparelho interessante, tem mp3, internet, rádio FM. Nem sei usar isso, falou devolvendo o aparelho à Moratti. Porque matou Nancy?

– Inspetor que papo é esse?

– Vamos lá! Se você confessar, isso será ponto a favor.

– Inspetor! Eu não matei a Luci!

– Matou sim! Agora apenas me diga, porque ligou para o Coronel Mathias simulando um seqüestro de sua filha. Aliás, a cúmplice Luci foi brilhante. Daria uma boa atriz. Além disso as provas de DNA o colocarão na cena do crime. Luci abriu o bico e contou tudo.

– Aquela desgraçada me paga.

– Júlio! Falou o inspetor. Providencie uma ordem de prisão. Júlio obedeceu, imaginando que o inspetor utilizara mais uma vez de um de seus truques. Mais tarde comentou.

– Inspetor! A Luci não falou nada.

– Sim! Mas ele não sabia.

– Ok! Falou Castro dirigindo-se à Moratti. Agora conte porque a matou e porque simulou o seqüestro. Foi porque você não usou preservativo? Moratti baixou a cabeça e começou a chorar, Foi. Ela ficou muito brava quando se deu conta de que eu não estava usando preservativo e então eu a matei. Ela tinha 18 anos e uma gravidez seria um desastre.

– Sim respondeu o inspetor. E aí você precisava de dinheiro para fugir e então usou Luci para simular a vítima, só não contou com a possibilidade de ela estar em casa? Como obteve o número do Coronel?

– Eu havia dias antes ligado para Lili a pedido de Nancy. Inspetor, como sabe tudo isso?

– Hora! Você nem se deu ao trabalho de apagar as ligações feitas de seu celular.

Dias depois Lili chegou em casa após as aulas e seu pai estava no jardim cuidando de umas roseiras.

– Pai!Tem um cara com cara de macaco me seguindo o tempo todo.

– Humm! Eu sei. Aquele é seu segurança.

– Meu segurança? Você pirou?

– É só precaução! Depois que aconteceu tudo isso com sua amiga é melhor tomar cuidado. Por falar nisso você ainda namora aquele cara do bigodinho?

– Não pai! Aquele já era.

– Ok! Do próximo eu quero a ficha completa até do bisavô!

– Credo pai! Não exagera!

– Humm?

Lauro Winck
Enviado por Lauro Winck em 30/04/2010
Código do texto: T2229103
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