Perícia Operacional

Perícia Operacional

É manhã de quinta-feira, no bairro de Lapinha.

O dia está claro e as pessoas caminham tranqüilas, nas ruas seguras do lugar.

Um carro-forte pára em frente ao caixa eletrônico.

Supostamente veio suprir o caixa com dinheiro novo.

As pessoas na fila demonstram um misto de satisfação e raiva.

Não podem fazer isto outra hora?

Geralmente levam mais de uma hora fazendo o que têm que fazer e o sistema acaba saindo do ar.

Para a surpresa de todos, homens armados descem, todos vestidos de negro, mas encapuzados e um veículo preto com luzes intermitentes encosta atrás do carro forte.

Deste último veículo descem quatro homens também encapuzados e um deles permanece ao volante.

Ambos os veículos, silenciosos, permanecem ligados.

Os primeiros homens que chegaram estendem um amplo lençol preto no interior do caixa e de fora se vê uma faísca de luz e ouve-se um ruído rápido e estridente.

As pessoas afastam-se ainda pasmas. Por que os capuzes?É um assalto?É uma operação da empresa de valores ou da polícia?Os uniformes e os veículos são tão parecidos a ponto de ninguém ter certeza de quem é quem.

Na central 190 o despachador de ocorrências recebe o registro de furto a caixa eletrônico.

O comando da área é informado e em alguns segundos o cerco é realizado, colocando os recursos disponíveis em pontos estratégicos.

O sistema de vigilância por câmeras é direcionado para a área e lincado aos sistemas privados de vigilância a distância.

O chefe de operações assume o controle das informações e as repassa ao comando da área.

Um minuto e meio após vàrias sirenes são ouvidas a poucos metros da ação marginal.

As pessoas vêem as viaturas a cerca de vinte metros da cena e não compreendem o porquê de não haver um tiroteio no local.

Já imaginam a carnificina e as vítimas entre, policiais, civis e marginais. Mas a preocupação dos policiais é exatamente a de preservar as pessoas e agir sem disparar um tiro, se possível, apesar dos riscos inarredáveis.

Os marginais parecem saber da intenção dos policiais e mantêm-se absortos à atividade criminosa.

Dois minutos e dez segundos de ação criminosa. Uma dupla de marginais, nas extremidades da cena, apontam os fuzis em direção às viaturas, que cercam a rua de ambos os lados.

Conter, isolar e negociar é a tática.

O trânsito é desviado e as pessoas impedidas de acessar o local por questões de segurança. Tudo muito rápido. Três minutos e quarenta e cinco segundos do início da ação.

Um helicóptero da polícia já sobrevoa o local.

Várias equipes à paisana estão a postos e observando os locais a serem usados como prováveis rotas de fuga.

Súbito os marginais adentram a seus veículos e ouve-se um ronco de motores. Iriam tentar quebrar as barreiras da polícia com o carro-forte apoiado pelo veículo preto de quatro portas.

O ronco dos motores permanece. Uma fumaça branca envolve ambos os veículos ,quando um dos marginais atira duas,... três granadas de fumaça janela afora.

Nenhum disparo das armas até o momento.

O local está cercado. As pessoas estão protegidas. Os policiais a postos.

O ronco dos motores parece não cessar. Em contrário, torna-se constante e uniforme. A fumaça branca das granadas se dissipa e resta o silêncio, além do ronco dos motores.

Os policiais avançam taticamente até onde é possível até que o rádio informa ao comando: “Os marginais se evadiram pelos túneis do sistema de esgotos”. ”Verifiquem se os veículos estão vazios”. Positivo, informa o comandante do grupo de ação tática. Ok, retransmite o comandante da área ao chefe de operações.

Súbito a equipe de policiais civilmente trajados, cuja missão é obter informações necessárias à atuação eficiente das viaturas ostensivas com policiais fardados, informa que alguns indivíduos suspeitos adentraram a vários veículos e locais diversos e tomaram rumo à periferia.

As placas dos veículos foram retransmitidas ao chefe de operações.

Entendido equipe. Mantenha contato visual. Não atue a não ser sob ordens e mantenha a informação às viaturas ostensivas. Mantenham-se completamente incógnitos, compreendido? Positivo, responde a equipe.

As viaturas ostensivas devem abordar em posse de informações da equipe civilmente trajada. Não percam tempo com suspeitas infundadas.

Neste momento o comando da área retransmite informações essenciais pelo canal reservado, às viaturas ostensivas, que abordam vários veículos em locais distintos detendo seus ocupantes e os encaminhando à delegacia de polícia.

Enquanto isto as forças táticas locais diligenciam nos locais rota-de-fuga em busca de indícios e provas.

O trânsito o local de início da ação é liberado e uma equipe ostensiva permanece preservando o necessário para as ações da polícia investigativa.

As imagens das câmeras registraram as ações e em conjunto com as provas apreendidas a polícia logra prender os quadrilheiros.

Comando, alerta o chefe de operações a cinqüenta e três minutos do início da operação.

Na escuta tenente,prossiga, responde o oficial comandante das patrulhas ostensivas e da força de ação tática.

No total detectamos a ação de oito marginais. Cinco deles estão presos e sendo autuados pelo delegado da área. Notícias dos demais?

Estamos em diligências.Aguarde um momento.

Positivo, no aguardo, responde o chefe de operações.

Trinta minutos após o último contato o comandante da área e retorna com informações ao chefe de operações.

Nossas equipes à paisana nos informaram da localização dos três fugitivos.

As equipes ostensivas localizaram o montante que faltava do dinheiro furtado e acabamos por apreender várias centrais telefônicas, equipamentos de escuta e outros eletrônicos, armamentos e drogas.

Não foram necessárias ações extremas e nenhum disparo de arma de fogo foi necessário.

Tudo graças a uma ação possível e coordenada de meios.

As equipes ostensivas que efetuaram as prisões estão apresentando os detidos e provas ao delegado responsável pela apuração. Os demais serão remanejados e o nosso serviço continua. Obrigado pela ajuda, tenente, diz o oficial comandante ao chefe de operações.

Parabéns a todos os policiais comando e até a próxima.

Atualmente a idéia de que ações cinematográficas e o ímpeto sem técnica são a solução corajosa para reprimir a criminalidade está sendo substituída pela preocupação com preservar a vida de inocentes e até dos marginais, mas mesmo assim a polícia não deixa de ser eficiente, embora a maioria das pessoas sequer perceba.

É meio-dia de quinta-feira no bairro de Lapinha.

Tudo está calmo como sempre e parece que nada aconteceu.

Ninguém ferido. Ninguém morto.

De baixas, apenas os criminosos, que tentaram furtar um caixa eletrônico e estão presos.

Carlos Munindra