Dr. Dimitri N°03

Dr. Dimitri

N°03

Parte I – Do que se conta sobre o repentino assassinato da Condessa de Medley

Como se deu em última instância, a famosa condessa da cidade de Medley se via num evento patrocinado pelo governo federal. A título de compensação, ganhava fama ao redor do país. Porém um tiroteio se principiava. Um atirador de elite preparava-se para assassinar a senhora; mas todo o público que ali estava fez com que se espalhasse uma surpreendente balbúrdia. Os seguranças da condessa agiram prontamente, protegendo a mulher dos tiros. Como se não bastasse toda aquela algazarra, a nossa personagem perde o seu colar avaliado em cem mil euros. Após algumas especulações, encontra-se finalmente o colar. A condessa, felicíssima com o retorno da jóia que parecia que seria impossível de ser recuperada, retorna da delegacia de polícia para a sua mansão em Medley. Após guardar o seu colar num porta-jóias, deita em seu leito e percebe que uma gaveta do seu criado-mudo está aberta. Ela então dirige a sua atenção para o objeto que está do lado direito da cama. O que a havia surpreendido era que nunca deixava qualquer gaveta aberta, pois ficava apreensiva se isso ocorresse. Logo chamou um dos seguranças que ficava posicionado na entrada do seu aposento. O homem tratou logo de averiguar todo o quarto, constatando que ninguém estava ali e que de forma alguma alguém poderia adentrar naquele local que parecia mais uma fortaleza.

Verônica Russeau, nomeada a Condessa de Medley, adormeceu ininterruptamente durante toda a noite segundo testemunhas, por isso não poderia sequer presenciar o próprio homicídio.

Parte II – Dimitri Kosovski tenta desvendar o assassínio

Era exatamente sete horas da manhã. Dimitri tomava o chá das sete em companhia do seu aprendiz. Pensava em Kristin e em como conquistá-la.

— Sabe, senhor Julius, cogitava o quanto seria bom se eu me casasse. Quero ter em quem confiar todos os meus mistérios — disse o detetive.

— Pois não é bom que se case, passará por muitos desapegos. Um homem como o senhor não merece passar por estas coisas.

— Nada mais falarei a um desavergonhado! — disse Dimitri com muita cólera.

Por ora o nosso herói ainda não sabia do homicídio. Fora surpreendido pelo chefe de polícia de Medley, o Dr. Fernando Gutembergue. Contou-lhe dos detalhes sombrios e Dimitri disse que não descansaria até descobrir o culpado. Contudo o detetive estava indignado, pois não poderia mais encontrar-se com a senhorita James. Tomou a última xícara de chá e se foi. Julius ficara melancólico com a notícia e disse que ajudaria a desmascarar o réu.

Acerca do caso, não havia nenhuma pista do delinqüente e não havia suspeitos. Desta vez o nosso detetive teria que desvendar todo o mistério principiando pelos réus. A primeira atitude de Dimitri foi conversar com todos os seguranças que ali estavam naquela noite. Dois daqueles homens intrigaram o nosso investigador. Um deles chamava-se Jack e o outro Washington. Jack havia comentado que fora chamado ao quarto pela condessa para averiguar toda a acomodação e se deparara com Washington, que estava camuflado num guarda-roupa. Ele contara que Washington sussurrara que procurava por uma carta que havia escrito para Verônica, um bilhete amoroso ao qual se arrependera de ter-lhe escrito e gostaria de naquele momento se desfazer do rascunho. Escutando o amigo, Jack deixou que o colega ficasse no quarto a procura da carta.

Dr. Dimitri pediu para inquirir o suspeito.

— Qual a sua intenção ao adentrar no aposento da senhora? — indagou o detetive.

— As minhas intenções eram as mais sinceras quando lhe escrevi uma carta de amor. Naquele dia tumultuado eu havia deixado a carta em cima do seu criado-mudo. Contudo não sei se ela leu ou se alguém a encontrou primeiro e se desfez dela, pois não pude reencontrá-la.

Washington era muito austero e falava sem qualquer hesitação.

— A relação entre vocês era estritamente profissional? — perguntou Dimitri.

— Sinceramente não, pois uma vez ela me beijou e então disse pra eu ficar com ela naquela noite. Ela me tratara de uma maneira muito íntima e dinâmica, por isso me apaixonei.

— Então por que queria que ela não lesse a carta? Qual fora o propósito disso tudo?

— Bem, entende-se que ela é muito rica e vistosa aos olhos de todos, eu não teria a mínima chance, ainda mais porque havia descoberto o seu caso com o Dr. Soares, seu advogado e conselheiro — disse o segurança.

O detetive fitou bem o homem e disse por fim:

— Obrigado, pode se retirar.

Estava na hora de tomar o chá da tarde.

Parte III – Eis que surge a Musa da Perfeição!

Dimitri acreditava que seria difícil desvendar este crime, não apenas pela complexibilidade perceptível — por haver um emaranhado de suspeitos apontados por ele próprio —, mas também por considerar a vida da Condessa de Medley uma incógnita, uma vez que interpelara um dos suspeitos, o Sr. Soares, que se dizia ser filho adotivo do senhor Henrique Russeau, pai de Verônica. Disse ainda o advogado que sempre confiara na irmã e ela nele e se amavam, porém não passava de um amor fraternal. Outro suspeito apontado pelo Dr. Soares fora um ator conhecido como Ricardo Ramos, um homem atlético, alto e pouco confiável. Dizia ao nosso herói:

— Ela me vinha com muitos mimos, mas eu não facilitava, uma vez que eu tenho muitas amantes e todas belíssimas. Certa vez ela me ofereceu dois milhões pra dormir com ela e pra ser o seu namorado. Foi tentador, mas não aceitei.

— E o que aconteceu em seguida, qual foi a reação dela? — questionou Julius, que estava ao lado de Dimitri.

— Ela simplesmente disse que eu ia me arrepender daquele ato.

— Pois temos um conflito e um novo suspeito — findou Dimitri.

Em seguida Dimitri foi ao hotel tomar o seu chá das vinte e descansar. Após algumas horas, foi até a delegacia de polícia ao encontro de uma testemunha, chamada Daiane Lopez, que dizia ter encontrado a arma do crime. A mulher era belíssima, tinha os olhos verdes, os lábios rosados, a fisionomia mais esplêndida e o corpo mais formoso. Aquela perfeição agradara Dimitri em alto grau, tanto que se esquecera da senhorita Kristin James prontamente. O jovem Julius ficou perplexo diante desta beleza extremada. Disse-lhe logo o nosso detetive:

— Bom dia, mademoiselle, estou feliz por encontrá-la aqui. Queira acomodar-se em seu trono real, peça ao seu amo para servir-lhe de pronto e serás atendida em piscar de olhos.

A moça, sem compreender os desembaraços de Dimitri, consertou:

— Vim com o intuito único de apresentar-lhe uma prova do assassínio.

Sorriu-lhe meigamente o senhor Dimitri, que continuou:

— Pois bem, estás a salvo de qualquer intriga. Proteger-te-ei bravamente e honrar-te-ei para todo o sempre — ele então, num ato cavalheiresco, beijou-lhe a mão ajoelhado diante da mesma.

— Não poderei admitir tal embaraço, sou uma dama incorruptível — afirmou a mulher com suma fúria.

— Ora, vamos interrogá-la mais sobre o ocorrido, gostaríamos de saber como encontrou a arma do crime — disse o delegado Fernando Gutembergue.

— Mil perdões, formosa dama, ele não sabe como agradar a uma senhorita — protestou Dimitri.

O chefe de polícia fingiu não escutar as estabanadas do detetive e pediu à senhorita que o acompanhasse até uma saleta. Ela contou que odiava a condessa e que, porém, nunca lhe desejara a morte. E certa manhã Daiane Lopez encontrara a arma escondida em seu apartamento, ela fora levada até a sua residência pelo seu namorado, então amante da Condessa de Medley. Contudo não havia sido uma arma de fogo que matara a mulher, mas sim um golpe com uma adaga no peito.

Em seguida Dimitri se via de frente ao novo suspeito, o piloto Ricardo Sales. Questionou-lhe onde se encontrava a arma branca que fora responsável pelo assassinato da senhorita Verônica, mas o homem não conseguiu responder declaradamente à indagação. Havia algum porém que pudera ser percebido por Dimitri.

O que não poderia ser esquecido era o tiroteio que se instalara no evento anual de Medley. Havia alguma ligação entre o ocorrido e a morte da condessa.

Ricardo Sales disse que naquela noite chegara ao quarto da vítima que segundo ele já estava ensangüentada e que, porém, se encontrava viva. Ele havia questionado o que havia causado aquele sangramento e a mulher respondeu que um dos seus seguranças havia-lhe dado um tiro a queima-roupa e que se retirara acreditando tê-la assassinado. Ela agonizava e delirava em seguida. Ainda disse Ricardo que ela pediu para que ele terminasse o serviço, que a matasse, porque ela sofria muitas dores ocasionais. Contudo ele se retirou com a arma do crime, que estava ao lado da condessa e a levaria até a delegacia, mas antes pediria ajuda. Segundo ele tudo fugiu ao controle quando os seguranças disseram-lhe que não chamasse uma ambulância e que o levariam até a prisão acusando-lhe de assassínio. Ele fugiu com a arma do crime e guardou-lhe no apartamento da sua namorada. Contou que não sabia que ela havia falecido e jurara não ter matado a amante.

Parte IV – Uma morte encomendada

Dimitri tomava o seu chá da tarde em companhia do seu aprendiz. Estava emudecido, cogitando e arquitetando o que poderia ter acontecido na noite da morte da senhora Verônica Russeau. Analisara cada passo da execução, como um diretor cinematográfico enlevado pela perfeita atuação dos seus atores. Cogitou, cogitou e chegou a um veredito. Tudo seria concluído quando escutasse novamente todos os suspeitos, fazendo as corretas indagações para chegar ao verdadeiro ocorrido.

Segundo confiava o nosso detetive, a condessa tinha muitos inimigos e um homem que a amava. Todo aquele emaranhado antagônico fez com que se chocassem o amor e o ódio. Mas não podia aceitar que a preciosa Daiane Lopez fosse traída daquela forma. Tão linda que era, carecia de um homem que fizesse valer todo aquele encanto e formosura. Não obstante ia além daquela admiração, sabia necessariamente que deveria desvendar o crime da mesma forma que adorava contar com uma formosa figura, aquela doce figura que ao primeiro fito o havia conquistado de todo. Porém ela fora preenchida por um ódio incalculável. Primeiro fora traída pelo namorado, depois descobrira que a sua antiga amiga fora responsável por isso e que anteriormente Verônica já a havia feito passar por isso e neste momento tem a oportunidade de mudar tudo.

Num período Ricardo Sales tomara a autoria do crime; entretanto Dimitri já tinha, infelizmente, desvendado o caso. Fora encomendado o assassínio à Condessa de Medley. Todos os seguranças foram coagidos a cooperar. Até mesmo aquele que julgava amar a vítima havia-lhe traído da forma mais pecaminosa.

Dr. Dimitri ficara taciturno por muitos dias, pois não poderia crer que tão formosa figura seria capaz de propor um homicídio. Recordou-se da sua adorada Kristin James, tão bela, mas será que o seu coração é puro efetivamente? Encheu-se de indagações em companhia somente de algumas chávenas de chá.

Fim.