Dr. Dimitri N°02

Ronyvaldo Barros dos Santos

Dr. Dimitri

N°02

Parte I – Do que se conta sobre o roubo da jóia da Condessa de Medley

A Condessa de Medley era conhecida pelo seu glamour. Vivia rodeada de sentinelas. A sua limusine era muito pomposa e levava-lhe aos eventos. Participava desde congressos internacionais até lançamentos de CDs e filmes. Apesar de feia, era desejada por muitos homens. O seu nariz era pontudo, os seus lábios eram muito carnudos e o seu corpo era desproporcional.

Certa vez, entrementes, participara do Evento Anual de Medley. Era um acontecimento dos mais contundentes, faziam-se doações às instituições de caridade da cidade de Medley. A sua participação era muito importante e seria celebrada com gozo. Quando chegara a convidada especial, fora recebida com abraços e congratulações. Muitos se ajuntaram a fim de vê-la de perto. Aquela onda de satisfação e apreço fez com que a nossa personagem perdesse um pomposo colar de pérolas avaliada em cem mil euros. Após esta perceber do ocorrido, informou a um dos seus seguranças, que procurou pela jóia durante toda a celebração.

Ao fim da comemoração a condessa se preparava para partir quando escutara um forte estampido. Os seguranças agiram prontamente, encarregando de resguardar a mulher a todo custo. Um tiroteio se principiava à base do Evento Anual de Medley.

Parte II – Dr. Dimitri está doente

Dimitri tomava lentamente o seu chá da tarde. O seu olhar estava fixado no relógio que estava na parede. De tempo em tempo observava através de uma ampla vitrine que há muito havia na padaria do senhor Vicente. Esperava ansiosamente o seu aprendiz que saíra até a botica a fim de comprar-lhe comprimidos para curar uma súbita cefaléia. Naquele dia o detetive não havia tido nenhuma aventura e achava tudo muito sossegado. Para ele a placidez representava um mistério dos mais irresolutos.

À luz da sua sanidade, recordava-se de um caso que o havia surpreendido. Vendo-se frente ao co-autor de um crime, lidou com ele de uma forma muito grosseira, ameaçando-lhe denunciá-lo ao distrito. Porém o homem, muito maltrajado, não queria confessar o delito. Descobrira em seguida que o criminoso era filho do cúmplice e de forma alguma denunciaria o ente. Dimitri teve então uma ligeira idéia e o pôs em prática. Dissera que encontrara uma prova contundente que poria o autor do delito na prisão. O homem sorrira e troçara. Neste momento entrou o delinqüente. Dimitri havia-lhe dito que o pai confessara o seu ato. O garoto tinha acabado de completar dezoito anos e, por isso, não compreendia o que se desenrolava, ele apenas fitava o pai com suma fúria. Porém já estava feito.

Julius aparecera com boas novas. Dissera ao mestre que havia sido chacinada a senhora Condessa de Medley.

— Mas como? Não conheço tal figura, insolente! Pois me conte mais sobre a Srta. Kristin, esta sim merece tal título; mas a compensaria como condessa da nação, única e proba.

— Contudo, senhor, não posso evitar dizê-la, porque eu nasci em Medley e conheci há muito a nossa grata senhora, filantropa e pacificadora.

— Já foi tarde que lhe disse que nunca deves contestar autoridade alguma! Aprenda, senão deixar-te-ei aqui só em companhia do fantasma dessa condessa.

— Entretanto fico com as memórias de uma vida melhor, quando a Condessa de Medley doava as suas riquezas aos pobres e oprimidos.

— Façais o que quiser!

Dr. Dimitri sentia uma grave dor de cabeça.

— Onde está o comprimido? — sussurrou ao aprendiz.

Parte III – Dimitri resolve ir até a cidade de Medley

A senhorita Kristin iria até a cidade de Medley gravar um novo produto. A linda donzela aproximar-se-ia do local do ocorrido e Dimitri, sabendo da oportunidade que se abria, pediu para que fosse transferido para Medley naquele tempo. À procura da sua senhora, chegou ao aeroporto da cidade às onze horas da manhã do dia dois de janeiro. Ficou hospedado no Luxury Hotel de Medley. Porém o que não se esperava é que encontrasse reservado apenas um quarto em que jazeria também o seu aprendiz Julius. Irritou-se, recorreu ao gerente, mas não teve jeito e fez-se de diversas parábolas que foram dirigidas ao inexperiente Julius. Tratou logo de pedir o seu indispensável chá da tarde. Tomou mais de vinte xícaras de chá e adormeceu em seguida. Ao despertar, já às sete horas do outro dia, pediu que lhe servissem o chá das sete. Não sentia mais dor de cabeça a essa altura. Ao ver o seu aprendiz foi logo lhe contando sobre as suas extensas aventuras. Não deixara, todavia, de enunciar o nome da senhorita Kristin, dizendo achá-la vivaz e casta. Ao terminar o chá, o detetive correu à procura da atriz. Logo fora chamado para comparecer à mansão da Condessa. Desesperou-se por não ter visto a sua senhora até aquele momento.

— Sabe, caro Julius, não sei como proceder em caso de assassínio a uma fidalga. Preferiria comparecer ao ensaio da senhorita James. No entanto não me falaram sobre morte da condessa, mas sobre furto à sua jóia valiosa.

— Pois ela não morreu? Deus seja louvado pra sempre! — disse o aprendiz com um ar mais vivo.

— Não és nenhum pouco sábio, caro confrade. Mas não tens culpa, uma vez que não se deve culpar quem teve má sorte de nascer parvo — enunciou o nosso detetive com um ar austero.

Dimitri e o seu companheiro chegaram à mansão da Condessa de Medley cinco minutos depois. O detetive apresentou-se e conheceu aquela feia figura cheia de indumentos reais. Disse que lhe haviam dito que a condessa se via morta e ela contou que seus inimigos certamente espalharam estes rumorosos e caluniosos boatos acerca do ocorrido. Apresentou-se como senhora discreta e grave. Disse que o seu colar era valioso porque fora um presente do seu falecido pai e desejava recuperá-lo a todo custo. Completou ainda que estava só, perdera quase todos os seus familiares e os que ainda estavam vivos não suportavam-na. Ficava em companhia da sua cadela Morgana das Fadas, preciosa história que lhe contaram sobre as Brumas de Avalon.

— Fizeram-me muito mal os criminosos, por isso tenha certeza que desvendarei este enigma. Traçarei uma árvore e porei em cada ramificação um dos personagens que ali estavam, eliminarei um por um incansavelmente até chegar ao criminoso — disse Dimitri por fim.

— Ora, tínhamos pelo menos mil convidados, sem contar com os indesejados, seria impossível analisar cada caso — retrucou a condessa.

— Não será impossível, uma vez que estás conversando com o mais árduo dos profissionais em desvendar casos indesvendáveis — treplicou o homem.

— Por ora lhe recompensarei com todos os mimos que forem necessários — disse a Condessa de Medley.

— Porventura necessito penetrar nas gravações da nova telenovela. Preciso ter com a senhorita Kristin James — aproveitou o Dr. Dimitri.

Parte IV – O nosso herói principia as investigações

Dimitri, grande investigador que era, resolveria o caso? Este seria o mais difícil e árduo inquérito, simplesmente porque havia centenas de suspeitos e nenhuma pista. Entendia-se somente que uma multidão se formou antes do desaparecimento do colar da condessa. Toma-se nota, todavia, que alguns dos convidados não compareceram. Somavam onze no total aqueles que ficariam automaticamente longe de suspeitas do nosso herói.

O detetive acreditava que o colar poderia ter caído ao chão no meio do tumulto e então alguém deveria tê-lo encontrado. A primeira proposta do senhor Dimitri foi anunciar a perda do colar no jornal da cidade sugerindo ainda uma recompensa a quem a devolvesse, certo que a pessoa que fizer a restituição não será questionada. E o resultado fora imediato, uma vez que um homem que andava ao maltrapilho tratou de entregar a jóia à polícia. A condessa reconheceu o objeto e agradeceu ao Dr. Dimitri, que tomava o chá das vinte. A mulher estava muito feliz e fora para casa em companhia de dois seguranças. Ao chegar à sua residência, guardou o colar num porta-jóias e deitou sobre o seu tálamo, adormecendo em seguida. Ao alvorecer, um dos seus seguranças adentrou em seu quarto e se retirou dali abruptamente, chamando os demais guarda-costas. A condessa estava nua e distendida sobre o leito submergida em um envolto de sangue...

Continua.