1167-CAIM O SENHOR DA ESPÉCIE

CAIM O SENHOR DA ESPÉCIE

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O ELO PERDIDO

3ª. PARTE-final

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Havia terminado a tarefa de preparar a caverna para seu uso e estava deitado numa espécie de cova que enchera com de folhas secas, quando ouviu o barulho vindo da boca da caverna . Mantendo o corpo imóvel, levantou lentamente a cabeça na direção de onde vinham os sons de bichos querendo entrar. No lusco fusco do anoitecer, viu três formas conhecidas: três cabeças de peludos.

Me acharam! Vão me matar! - pensou.

Levantou-se em um salto e correu para o fundo da caverna. Não foi longe, pois logo encontrou a parede de pedra que era o final do pequeno antro.

Apavorado, sem poder se defender, pois havia deixado o arco, as flechas onde pretendia dormir, agachou-se cobriu a cabeça, num ato instintivo de se defender de punhos e pauladas que viriam a seguir.

Os recém-chegados, entretanto, demoram-se vagando pela caverna, cheirando a palhada sobre a qual Caim deitara-se, passando as mãos pelas paredes e olhando para o fundo, onde estava o apavorado homem todo encolhido.

Um dos bichos acercou-se de Caim e puxou seu braço, dando um grunido que soou aos ouvidos de Caim náo só amistoso como conhecido. Abriu os olhos e viu: era a femea que estivera com ele naquela manhã. Levantou-se com cuidado caminhou na direção das duas outras figuras, temendo ser machos que o seguiram o dia todo para o matar ali na caverna.

Viu que eram todas fêmeas: aquela do encontro da manhá e duas outras do mesmo bando. Elas mostraram-se pacíficas: passavam as mãos pelo seu corpo branco e sem pelos com suavidade, querendo mostrar que não estavam ali para brigar.

Aos poucos, foi entendendo que as fêmeas queriam ficar por alí, pois já se ajeitavam pelos cantos, deitando-se para dormir.

Naquela noite Caim não dormiu. Ficou atento, não fossem as peludas aproveitarem-se de seu sono para matá-lo.

No dia seguinte não viu sinal das fêmeas.

Melhor assim. Que não voltem, pensou.

Saiu para a caça. Encontrou um poço onde os animais iam beber. Logo um filhote de cabra estava espetado na ponta da sua flecha. De volta á caverna, destrinchou a caça, separou as melhores partes de carne que colocou sobre as brasas e jogou o restante fora da caverna.

Estava saboreando sua carne Mal assada quando as fêmeas chegaram. Levantou-se em defensiva, mas elas se aproximaram com gritinhos que mostravam alegria, as bocas ainda com restos de frutas e folhas recém comidas. Caim ignorou-as.

Com o passar dos dias, Caim foi se acostumando com a presença das peludas e elas também mostravam-se afeiçoadas ao caçador. Ele jogava restos da caça e até pedaços de carne assada, que elas passaram a apreciar, sem deixar de sair todos os dias para comerem frutas e brotos de certas arvores.

Caim deu-lhes nomes, com sons diferentes que elas podiam articular, aos quais as peludas atendiam, sendo esse o único sinal de inteligência cognitiva que mostram as peludas. Chamava-as com gritos pelos sons de Ruá-ruá (a peluda que fora a causa de sua fuga da tribo), Grrr-grrr e Ou-ou-ou. Mostrou Caim, também por meio de tapas e beliscões, que ele era o chefe e que elas deviam se submeter. O estranho clã estava formado.

Todavia, a ordem estabelecida por Caim foi interrompida pela chegada de mais peludos. Certa tarde, as fêmeas do grupo chegaram acompanhadas de mais dois peludos. Caim viu logo que era um casal, egressos da tribo da qual Caim e as três fêmeas haviam fugido. Conforme o costume, o casal havia abandonado a tribo para formar nova família, e foram trazidos á caverna pelas companheiras de Caim.

Não houve estranhamento nem impedimento para que o casal fizesse parte do bando de Caim. E para conveniência no trato entre eles, Caim os nomeou pelos gritos de Tou-Tou (o macho) e Cá-ca-ca (a fêmea).

A implacável lei da natureza animal levou Caim e as fêmeas á prática daquele ato prazeroso tanto para ele como para as peludas. Desconhecendo qualquer limitação de relações, aconteceu que as fêmeas é que escolhiam, e tanto Caim quanto Tou-Tou eram assediados por Ca-ca-ca, Ruá-ruá , Grrr-grrr e Ou-ou-ou.

Após uma sucessão inumerável (pois não sabiam contar...) de dias e noites, em que se sucederam chuvas, ventos, dias secos e quentes ou muito frios, em um dia de muito sol, Ruá-ruá, a peluda que fora fecundada por Caim há mais tempo, apareceu com um .bebê

Caim assustou-se mas para todo o bando aquela pequena criatura era normal, embora a pelagem fosse clara e rala. Mas os gritinhos selvagens eram completamente compreendidos por eles.

Caim deu-lhe como nome o guincho de Grrit, ensinando a Ruá-Rua que com esse grito deveria o pequeno ser chamado.

Estava estabelecida a primeira mestiçagem entre o homem chamado Caim e os peludos, conhecidos modernamente por orangotangos.

Eis então o ELO PERDIDO irá unir a mitologia bíblica à ciência e ao evolucionismo.

ANTONIO ROQUE GOBBO

Belo Horizonte, 15=março-2022

Conto # 1167 da série

INFINITAS HISTÓRIAS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 14/08/2023
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