Orientação Estudantil

Alison Mew respirou fundo antes de dar duas batidas na porta de mogno envernizada, na qual estava afixada uma placa de latão onde se lia "Orientação Estudantil".

- Entre! - Exclamou uma voz masculina lá de dentro.

Alison entrou. A sala tinha uma decoração sóbria, com alguns quadros e diplomas pendurados na parede, duas pequenas estantes frente a frente, abarrotadas de livros, duas cadeiras e uma escrivaninha ao fundo do pequeno aposento. Por trás dela, outra cadeira, estofada, na qual estava sentado o Sr. Lemar. A janela atrás dele estava aberta para um pátio interno da universidade, onde era cultivado um jardim de inverno.

- Sr. Lemar, boa noite - saudou-o Alison.

- Boa noite, Alison - replicou o orientador, indicando uma das duas cadeiras vagas. A jovem tomou assento.

- O que temos para hoje? - Inquiriu ele, lançando um olhar arguto para Alison. - Dúvidas sobre o caminho a seguir?

- Não, não senhor - ela sacudiu a cabeça negativamente. - Sempre quis trabalhar numa livraria especializada, preferencialmente no turno da noite.

O orientador fez um aceno de aprovação.

- Justamente, o mais perigoso - avaliou.

- É onde as coisas acontecem - justificou-se Alison. - Mas estou aqui por um outro motivo... a minha colega de turma, Williamina... parece estar descambando para o caminho do meio.

Lemar abriu as mãos.

- Seguir pelo caminho do meio não é necessariamente uma coisa ruim... apenas, foge ao objetivo primordial desta universidade; não há diploma nem formatura para quem toma essa decisão, e muitas vezes sequer como desistir, no caso de arrependimento. Mas por que Williamina não está aqui, em vez de você?

Alison ajeitou os óculos sobre o nariz.

- Bem, Sr. Lemar... Williamina é muito determinada em tudo o que faz, mas talvez esteja se deixando levar por aquela terceiranista, Margeret Northwood.

Lemar ergueu os sobrolhos.

- Ah, Margeret Northwood... imaginei quando iria ouvir o nome dela citado nesta conversa.

Entrelaçou os dedos sobre a mesa.

- Margeret é uma boa aluna, tenho que ressaltar; algumas das suas colegas a acusam de pegar atalhos para obter resultados que suam para atingir, mas se ela não fosse boa no que faz, para princípio de conversa, dificilmente saberia da existência desses atalhos.

- A universidade é tolerante com a atitude dela, então? - Questionou Alison.

Lemar reclinou-se na cadeira, pensativo.

- A universidade evita atritos desnecessários - disse por fim. - Se optar pelo caminho do meio for a escolha consciente de Williamina, não há nada que nós devamos obstar.

- Não devem... mas podem? - Inquiriu Alison, inclinando-se na direção do orientador.

Lemar suspirou.

- Peça para que sua amiga venha me ver; eu vou conversar com ela - prometeu.

- [23-08-2021]