O Zelador

O zelador Cowan estava de pé, mãos nas cadeiras, no meio do gramado do campo de esportes, como que contemplando a beleza da Criação.

- Sr. Cowan? - Chamou Williamina, aproximando-se.

O zelador virou-se para ela, ainda retendo um ar de beatitude no rosto.

- Não é magnífico? - Indagou, fazendo um gesto abrangente para o mar de verde orvalhado ao redor deles.

- É muito bonito mesmo, Sr. Cowan - acedeu Williamina, sentindo-se subitamente tímida.

- Você não é da equipe de esportes, não é? - Inquiriu o zelador, parecendo subitamente se dar conta da presença da jovem.

- Não senhor - admitiu ela. - Mas me disseram que o senhor trabalha aqui há muitos anos, e que poderia me orientar numa situação...

- Oh, sim, muitos anos - ele fez um aceno afirmativo. - E a sua dúvida certamente não é sobre a grade curricular deste semestre.

Williamina deu uma risadinha sem graça.

- É um outro tipo de informação que busco... o senhor tem contato com os... Residentes?

Cowan a encarou com atenção.

- Esbarro com alguns deles, de vez em quando. Poderiam estar na equipe de esportes... se fossem alunos regulares da universidade. Mas isso seria desleal, não é?

E piscou um olho para Williamina.

- Bem... creio que sim - redarguiu a jovem cautelosamente. Ela não sabia exatamente do que os citados Residentes eram capazes, embora imaginasse que tivessem poderes dos quais ela não fazia a menor ideia.

- Quem lhe falou dos Residentes? - Inquiriu o zelador, mãos novamente na cintura. - Esse é um assunto que boa parte dos alunos evita, até para não atrair atenções indesejadas...

- Tenho uma amiga do terceiro ano... - confessou Williamina - ela me falou dos Littlefield, e depois disse que também eram chamados de Residentes, porque nunca saem daqui, mesmo durante os meses de férias.

Cowan olhou ao redor, olhos semicerrados.

- Cuidado quando citar esse sobrenome... se um deles o ouvir, pode ficar muito interessado em você; e isso nem sempre é uma boa coisa. Melhor falar apenas em Residentes, mocinha. Aliás, como se chama?

O zelador voltou a fixar-se nela e Williamina percebeu que, estranhamente, as pupilas dos olhos dele agora estavam contraídas, como as dos olhos de um gato num ambiente bem iluminado. Williamina respirou fundo, enquanto o encarava.

- Azul - respondeu num átimo. - Meu nome é Azul.

E girando sobre os calcanhares, bateu em retirada para fora do campo, sem ao menos se despedir.

- [19-08-2021]