A chuva
_Menino, saia dessa janela.
_Mãe, eu preciso saber se vai chover.
_Você pode controlar isso?
_Não; claro que não.
_Então, sossegue. Não vai adiantar tentar fazer com que não chova. Lembra da sua tia Judite?
_Sim; o que tem ela?
_Bom, ela tinha labirintite.
_Tá, mas o que isso tem a ver?
_A labirintite é relacionada à tentativa de controlar as coisas.
_Sim, mãe, mas eu não quero sair na chuva.
_Eu entendo, querido. A chuva pode ser assustadora.
_Pois é. Não sei como essas pessoas conseguem ficar lá. E elas nem reclamam.
_Ah, filho, claro que não. Veja! Tem até algumas dançando nela.
_Eu tenho medo, mamãe.
_Filho, não veja as pessoas que dançam na chuva como inferiores a você. Você mesmo pode um dia estar lá. Perceba a importância de amá-las da mesma forma que você nos ama; nós, os “sequinhos”.
_Eu não as odeio, mãe. Eu só tenho medo de ser como elas. A chuva machuca. Você sabe que elas estão sempre espirrando e com frio. Eu prefiro ficar aqui dentro.
_Filho, o que você precisa saber é que, mesmo lá, na chuva, essas pessoas estão felizes. Não é porque elas estão lá que deixaram de viver, entende?
_Eu entendo, mas será que eu conseguiria ser feliz se estivesse na chuva; assim como elas?
_Ah, meu querido... Observe melhor essas pessoas. Está vendo aquela chama que elas guardam no peito? Aquilo se chama esperança. Elas sabem que a chuva poderá feri-las a médio e longo prazo, mas mesmo assim elas mantêm suas chamas acesas. Elas estão vivas e estão sendo felizes à sua maneira.
_É, mamãe, a senhora tem razão. Mesmo estando “sequinho”, eu devo vê-las como vencedoras. Elas são muito fortes.
_Você também é, filho. Agradeça por estar “seco” e aprenda que mesmo que estivesse molhado, você ainda poderia ser feliz.