Desolador, consolador, esperança?

Jotasar o homem que veio de terras distante, agora residente no grande Estados Unidos, na idade já passava dos oitenta anos, na sua pele lisa e escura mostrava no semblante algo misterioso, não era tristeza, nem alegria, um esperto decifrador do ser humano diria que naquela mente havia uma mistura de medo, alegria, tristeza, a mágoa estava num canto escondida, mas o bom era que a esperança ultrapassava os outros sentidos.

Esse enigmático velhinho estava na sua varanda a pensar enquanto seus netos já americaninhos brincavam no imenso pomar. O velho Jotasar não tinha como desviar suas lembranças, bem tristes, dramáticas mesmo!

Na sua mente ele retrocedia no tempo, era como se tivesse vivendo aquele terror novamente. Lembrava conversando com ele mesmo:

---- Bendito o país que me acolheu, deu guarida para o meu povo. Entrei nesse país quase sem esperança de continuar a viver, no meu país de origem, sofri duras penas, na distante infância, quando vivia com meus pais e dois irmãos numa terra distante, em que não existia lei, os fortes é que sempre prevaleciam, e faziam muitas covardias. Os fracos sucumbiam sob as lanças, facões ou armas de fogo. As disputas muito acirradas, cada grupo se sentia donos de situações, propriedades, fazendas, indústrias desapropriadas.

Numa dessas invasões na minha casa, os criminosos mataram meus pais e irmãos consegui fugir, eu o menino de 10 anos apenas consegue entrar aqui junto com outros imigrantes. Ele ia lembrando:

- Quantas lembranças, meu Deus! Naquela idade completamente sem esperança, naquele acampamento de refugiados centenas de rostos aflitos à espera de uma mudança brusca, os alimentos apenas jogados do alto, centenas de pessoas amontoadas. Consumiam-se em doenças sofrimentos se via a todo lado. Eu o menino Jotasar maldizendo a minha vida. Jurando vingança aos meus algozes que com suas armas mortíferas, na truculência destruírem meus pais, meus irmãos, meus amigos. tomaram nossas terras. Impediram principalmente a nós crianças de continuarem vivendo naquela imensidão de terra, onde lado a lado com os animais cavalgávamos no causticante e luminoso sol. Luminosidade exuberante que só desaparecia quando chegava a noite, mudando o cenário mostrando um céu cravejado de luminosas estrelas.

Demônios cruéis que trucidaram até os missionários, pessoas santas que nos evangelizaram. O menino queria odiar, mas os ensinamentos cristãos me impelia perdoar. Mesmo assim insistia em indagar:

--- E aí Jesus, quando serei feliz novamente?

A dor intensa, esta mágoa cortante sairá de mim?

Os céus parecia ouvir a minha voz, o suplício do menino impregnado de tormentos (continuando Jotasar nas suas lembranças) ordens expressas diziam que alguns que estavam à espera da imigração iam estabelecer nos Estados Unidos uma nova pátria os acolheriam. No avião com alguns eu chorava muito, não aquele choro de sofrimento que cansei de chorar. Uma alegria estonteante pela quase certeza da felicidade vindoura.

Agora depois de décadas passadas, aquele velho Jotasar observava seus netos brincarem livres e protegidos. Não conseguia conter as lágrimas, emoção provocada pela intensa alegria. Insistia as afirmações nos seus pensamentos:

---- Bendito país que me acolheu e os outros países que ampararam os imigrantes.

Depois uma leve ponta de preocupação perguntava:

--- E os outros que ficaram, quantos sobreviveram ou quantos tiveram ou terão esperanças de viverem novamente ?...

HISTÓRIAS E MAIS HISTÓRIAS, MAS A REALIDADE ESTÁ AÍ... SERIA BOM QUE O CÍRCOLO VICIOSO DA MALDADE FOSSE CORTADO COM A INCRIVEL ATO BOM DA BONDADE, PORQUE O AMOR POSSIBILITA PARA QUE AS PESSOAS TENHAM REALMENTE VIDA EM ABUNDÂNCIA...