A OUTRA FACE

Interrompeu seus passos para que o carro entrasse na garagem. Enquanto o motorista manobrava gritou-lhe:

_ Venha! Pode entrar por aqui mesmo!

Izabel espantou-se com a fala do desconhecido, sem dúvida um equívoco grosseiro. Obviamente não entraria naquela agência. Continuou o trajeto que cumpria a pé para casa, de volta do serviço.

Na semana seguinte, é abordada por uma senhora que lhe pede para confirmar sua consulta no posto de saúde:

_ Desculpe, não sei de que está falando, eu não trabalho neste local!

_ Mas tenho certeza de que é com você que conversei, porque não quer me fazer este favor?

_ Escute, eu sequer conheço este posto, nunca estive lá.

Lembrou-se do ocorrido anteriormente, estranhou, haveria alguém tão parecida com ela? E ainda no mesmo bairro que morava?

O cabeleireiro ficou intrigado , havia cortado seu cabelo há duas semanas:

_ Não foi meu cabelo que cortou, veja, ainda está grande!

_ Não é possível! Você tem uma irmã?

_ Não, mas parece que tenho um clone. Estou ficando curiosa, já é a terceira vez que me confundem com ela!

Comentou o que estava acontecendo com o marido. Brincando ele respondeu que se houvesse mais de uma Izabel, iria querer as duas.

As incidências do fato foram aumentado. Desconhecidos lhe acenavam; foi impedida de comprar uma promoção no mercado, pois o caixa afirmou que acabara de levar a quantidade permitida; o padeiro reclamou de uma encomenda que não buscara; na rua um mendigo estranho cobrou-lhe com violência a ajuda de sempre...

Esta situação incompreensível deixou de se caracterizar como coincidência. Ela estava perturbada e pior, sendo prejudicada. Como alguém poderia ser tão igual? Não tinha mais sossego, precisava decifrar o enigma.

Lembrou-se do posto de saúde, foi até lá, olhou todos os funcionários, perguntou por esta pessoa. Fez o mesmo nos outros locais em que havia aparecido, tentou conseguir um nome, uma pista, qualquer informação... Nada. Nenhuma descoberta.

As aparições continuavam, mas nunca para ela... Entrou em pânico com este pensamento, teria dupla personalidade! Estaria vivendo uma vida à parte sem ter a menor consciência dela? Não... não era possível, não ocorriam queixas em seus relacionamentos pessoais... e ainda havia o cabeleireiro... ele tinha cortado o cabelo dela antes... sim, esta era a prova que eliminava tal possibilidade.

Desorientou-se, procuraria um detetive, isso tinha que se esclarecer.

Ligou a televisão tentando se acalmar um pouco e arregalou os olhos com a notícia... era a sua foto na tela sendo procurada por assassinato, em seguida mostravam o rosto da vítima. Um homem que nunca vira...

Seu grito juntou-se ao soar da companhia, estava na hora do marido chegar. Correu desesperada, abriu a porta e deparou-se com... ELA.

A outra estava ali! Idêntica e concreta.

Acuada berrou por socorro tentando desvencilhar-se da investida da sósia. Viu o pesado cinzeiro ao seu alcance e com ele desferiu seguidos golpes em sua cabeça. A mulher caiu de bruços, inerte. Izabel ficou em choque, paralisada.

O marido entrou neste momento. Viu o corpo... do homem no chão... ao virá-lo, revelou-se à Izabel o mesmo rosto que aparecera na TV...

A polícia fez o reconhecimento, era um bandido perigosíssimo, há muito procurado e as estranhas ocorrências, nunca foram explicadas.