Trem de Moscou - relfexão sobre a morte de Jaime

Minha talvez não fosse mais a mesma depois daquele dia. Dia tenebroso? Funesto? Mortal? Talvez me faltem adjetivos para defini-lo. Sinto que devo prolepsar, e então explicar este dia. Sinto que devo. Mas conversando comigo mesmo eu, por mim mesmo e mais ninguém, descubro que não me adiantaria nada, nada mesmo, falar sobre um dia, que futuramente eu viverei. É estranho falar de um dia que ainda não veio. Um dia que talvez nunca venha, um dia que talvez eu premoniticamente tenha vivido. Eu gosto de pensar no futuro como algo que voa, não fugindo, mas liberto do mundo. Quem sabe um dia o futuro chegue, quem sabe um dia o barco seja finalmente completado. Quem sabe de tantas respostas sobre algo que tenho tanta duvida? Quem sabe se talvez eu mesmo não saiba as respostas para todas as minhas duvidas, para todas as minhas questões, meus medos e anseios, sobre este tão “esperado” dia. Digo esperado entre aspas porque irei “metalinguar” sobre este termo: é esperado porque eu nunca esperei. É tão esperado porque tive sempre muitas duvidas medos e anseios. O dia enfim pode chegar, ou talvez – com um pouco de sorte – nunca chegue. Mas que dia é este que tanto me assola? Assola não por medo. Mas pelo anseio, pelo desejo.

Poderia ficar por digredir e dar voltas e voltas sobre o tema e nunca mesmo chegar a uma conclusão, sem variáveis. O dia de que trato é exatamente este. Porque cada dia é um futuro, o dia que falo é o dia de minha morte: eu morro. Todos morreram. Quando? Esta é a graça da vida, nunca saber. Imagine viver uma vida da qual teríamos a chance de sabe o final? Saber quando será feita a analepse da prolepse inicial? Confuso? Pois eu sei, assim somos. Personagens complexas de um monólogo. Entramos no palco, e narramos – por nós mesmos – nossas infames vidas. Cheias de erotismos, vulgaridades, eloqüências e barbarismos.

Imagine saber que (prolepse) morremos um dia? Agora imagine saber quando (analepse) será esse dia? Retomar no final da vida, as questões do principio? Ver na hora da morte, as respostas para uma vida inteira?

Assim estava Jaime. Vendo na hora da morte, todas as questões da vida. Vendo suas tardes que de nada mais valeriam, vendo tudo o que tinha conquistado ir embora. Fugir de suas mãos como se fora um pássaro livre.

É interessante como uma pessoa pode ver toda a sua vida em um misera segundo. O tempo de cair no chão, o tempo de viver o que resta da vida. O segundo final. O tempo de uma vida. É interessante como tudo muda na hora da morte...

"Leiam minha apresentação: http://www.recantodasletras.com.br/cartas/2394709"

Le Vay
Enviado por Le Vay em 14/06/2010
Reeditado em 23/07/2010
Código do texto: T2319733
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