MOSAICO DE LUZ

Ele sempre fora meu objeto de desejo...de consumo.

Assim que passava por ele, eu o imaginava imponentemente aceso, após meu toque no "start" da sua haste de bronze, a relampejar luminosidade pelo meu quarto, sob seu artístico e exuberante chapéu de luz, ele, um solitário e esguio "senhor", de "quebra-cabeças" apagado, milimetricamente arranjado em pedacinhos coloridos, destinados... a iluminar.

E foi numa dessas minhas corriqueiras ilusões de "pedacinhos de luz", que certo dia, alegre como uma criança, eu o arrematei daquela vitrine inóspita dum velho antiquário da cidade, aonde repousava também empoeirado, para de lá colocá-lo no seu devido destino-de luz!- sobre um "criado-mudo", ao lado da minha cama.

Assim, trocaríamos nossos flashes...

Depois que para lá se mudou, não tardou muito, e uma ventania adentrou pela fresta da janela semiaberta, derrubando aquela minha tão delicada peça de arte, que se espatifou no chão.

Ele, um legítimo abajour Tiffany, cujo destino não lhe permitiria desfutar sequer dos seus caquinhos de luz.

Tentei desesperadamente restaurá-lo, porém, na sua primeira emenda já me ensinou que jamais nos foi possível iluminar cicatrizes...

Nota: Insólito mas verídico.