O SONHO DE ANITA

Naquela manhã ensolarada,Anita acordara feliz.

Algo no ar parecia-lhe diferente, tracionou as cortinas do quarto, abriu a janela e sentiu vontade de voar, pelo frescor da nova alvorada...

Por ali passavam os pássaros que vinham de longe, e tranquilos, chegavam para ficar.

Anita olhou para o calendário e percebeu que a estação voltara, e de súbito viu as mesmas azaléias que sempre permearam os seus mesmos sonhos...

Sonhos são silêncios barulhentos.

E Anita já não era mais silêncio de inverno.

Nela tudo mudara, florescia lúcida com uma gérbera, aberta para novos tempos.

Agora sentia-se flor!

Mas precisava voar. "Há tempos que não nos permitem mais ficar..."-concluiu em pensamentos.

Vasculhou a gaveta do tempo.

Alguém lhe havia dito que o bilhete, cuja inscrição quase não se lia, ainda teria validade.

Leu um curto lembrete:

"Se existir , ainda que o vapor dum sonho...ele ainda terá validade. Embarque.

Esperou pelas asas do primeiro sabiá.

-Posso, senhor sabiá?

E num único salto, partiu para a felicidade de florescer na liberdade de existir...

Afinal, Anita que sempre foi flor, sonhava em ser primavera.