A mala

Roberto estava cansado. A rotina de viagens constantes o mantinham como um eterno prisioneiro. Agora teria que ir a Dubai, ficaria sete dias, e claro, que não trataria só de negócios.

Aliás, "negar o ócio" às vezes, deixava saciado, mas negociar com aquele povo, ele pensava, era demasiado extenuante.

O povo que a que ele se referiu, é o povo do estamento capitalista, ou melhor, ultra capitalista.

Entre malas e tecnicismo, lá ia novamente Roberto. Afinal, ser um ceo lhe ofertava uma apocalíptica gerência geral, de si mesmo, e lógico da Empresa. Ultimamente, o ramo da informática domina o globo, as ferramentas ofertadas pelas TICs rompem com às barreiras da globalização, e redundam em um modus operandi capitaneado por negociações à distância, porém a presença física também é exigida.

Geralmente, ele leva pouca bagagem, uma mala no máximo. E agora não seria diferente. Divorciado há dois anos, o chefe das organizações F de televisão escuta a funcionária Teresa, que o chama dizendo alto: - Doutor Roberto, sua mala cinza está pronta. Ele retrucou, entre os dentes: - Fala baixo, minha cabeça está estourando. Esta viagem não estava em meus planos, para este semestre, mas necessito ir, e olha minha cara, não serão seus quase três anos aqui, que irão me impedir de te mandar embora. Na volta a gente se acerta.

A mulher que estava preparando o café da manhã do empresário, olhou para aquela mala, com um sorriso de canto de boca.

O homem saiu, e nem olhou para o farto café da manhã posto à mesa: frutas variadas, leite morno com canela, café gostoso, no capricho. Ele passou batido, abriu a porta, e lá embaixo, o motorista Eduardo já o esperava. Quando estavam no meio do caminho rumo ao Aeroporto, o novo motorista, indicado por Teresa, parou o carro, saltou e foi até o porta-malas,. Durante esta dinâmica Roberto gritou: - Cara, tá louco? - Não senhor, estou te livrando de uma grande roubada. Voltou ao carro, trazendo dois pacotes grandes que continham algo ilícito, e mostrou ao chefe...

E ainda acrescentou: - Só quero o lugar dela, será uma forma de agradecer, bem diluída, mas tá bom, não acha chefinho...que armação bem tramada hem, se não fosse minha perspicácia, o senhor iria preso, no Aeroporto. Roberto estava amarelo, branco e vermelho, balbuciou entre os dentes: - Quem é você? Você armou isto com aquela FDP. O rapaz de olhos fundos e castanhos mel apenas meneou a cabeça negativamente e proferiu: - Estamos atrasados chefinho.

Realmente, Roberto calou-se e foi direto ao seu intento, lá chegando embarcou com a cabeça estourando, e refletia: - O que houve com o país colonial, que sempre colocou o "zé povinho" no seu lugar, e hoje tinha este tipo de gente armando golpes contra os "Homens de bem". Seguiu a viagem, e precisava de uma ideia para se livrar daquela dupla de golpistas. Depois das reuniões importantes das quais

participou durante uma semana, no último dia fez uma ligação para um grande amigo no Rio de Janeiro. Contou o que houve, era advogado o tal amigo de Roberto. O homem investigou os dois funcionários de Roberto e avisou que a mulher tinha sido morta, durante um tiroteio em sua comunidade, e Eduardo estava sumido.

Roberto ficou atônito, resolveu esticar sua viagem, por pelo menos mais quatro dias, então resolveu descansar, então abriu sua mala cinza para pegar alguns papeis importantes que deveria ler. Sentou na beira da cama, e enquanto lia escutou um som estranho, que nunca havia ouvido, tipo um amassar de plástico, não ligou para aquilo, achando que fosse estresse. Entrou no banho, ficou na banheira, quando levantou molhado... e se enxugava sentiu uma dor aguda sem precedentes nas costas, caiu sangrando profusamente, ante de morrer viu através do espelho um homem idêntico a ele, que sorria maquiavélico dizendo: - agora chefinho eu sou você. O empresário tentando gritar, só conseguiu dizer baixinho: - Não escaparás. Antes de dar o último suspiro, Roberto pode ver seu corpo sendo sugado para dentro daquela mala cinza, de uma forma absurdamente tecnológica. Qualquer vestígio da morte dele foi extinta, através daquela ação.

Agora, o ceo Roberto, está sentado à beira da piscina de um dos Hotéis mais caros de Dubai, tomando champanhe tranquilamente, seu olhar, é a única diferença anatômica entre a cópia do Roberto e Roberto: é um olhar robótico, artificial, típico de uma I.A.

Valéria Guerra
Enviado por Valéria Guerra em 18/03/2024
Reeditado em 28/03/2024
Código do texto: T8022350
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