O Marketeiro dos Mortos
Ainda faltava alguns metros para João chegar a casa de Jailton, também conhecido como o marketeiro dos mortos. Isso porque todos na cidade o convidavam para escrever discursos memoráveis àqueles que já não eram encontrados entre os vivos.
De maneira que João tinha que realizar o pedido de seu pai, um discurso o qual tocasse as almas até dos mais insensíveis. Aqueles, por tanto tempo sem se emocionar, chorariam cacos de vidro, mas chorariam.
Já próximo ao portão da casa de Jailton, o cliente viu algo inusitado, uma fumaça saia pelas telhas da casa. Mesmo assim, João não recuou e bateu palmas.
- Seu Jailton! Seu Jailton! - João esperou por alguns segundos
João então viu a porta se abrindo. Quem saia era o próprio marketeiro dos mortos. Estava arrumado.
- O que quer jovem? - disse Jailton
- Quero um discurso para o enterro de meu pai. - João sabia que seria atendido
Jailton fez um sinal para João entrar. Este abriu o portão e acompanhou o anfitrião. Ficando surpreso com a simpatia demonstrada.
Mas, antes de passa da porta, João fez uma pergunta, pergunta simples, porém que poderia ser cultura na casa de Jailton.
- Entro calçado ou deixo meus chinelos aqui na porta? - por não ter entrado outras vezes na casa, era uma pergunta pertinente
- Pode entrar calçado. - respondeu Jaiton
Os dois indo para sala, Jailton fez outro sinal, agora para João se sentar. Era um sofá não tão novo, entretanto, conservado.
- Vou pegar um chá para nós.
Jailton saiu e voltou com os copos de chá. Entregou uma João ficando com o outro.
- Quer um discurso!? É isso? - Jaiton olhava fixamente para João
- Isso mesmo. - para João, o importante era cumprir a vontade do pai
- Pode beber o chá e voltar para o velório, no enterro entrego o discurso. - os dois aparentavam estarem em acordo
Em pleno enterro, a espera de João foi angustiante até o fim da mensagem do padre. Só depois, excepcionalmente, chegou Jailton e entregou o discurso.
Com o papel em mãos, João leu e jogou o primeiro punhado de terra no caixão.
Viu também que muitos ponderavam em estado de forte emoção, pois as linhas do discurso tinha um pouco das mensagens dos enterros de algum ente querido.