Leito

Véspera de Finados, estando eu à porta de um cemitério, lembrei-me de haver visto um velho que levava sem esforço um caixão. Coveiro seria? Pagador de promessas? Seria Django de Franco Nero? O velho carregando o caixão estava curvado quase a tocar o chão, alheio ao negrume da noite que ciumento de seus tesouros, esconde-nos os corpos celestes em lugar distante. Espantado e trêmulo, segui lado a lado ao velho que carregava o caixão. Disse-lhe: “deve ser a loucura que guia teus passos, ou deve ser um bêbado metido a excentricidades mórbidas”. Como o Cristo carregando a cruz, o velho seguia impassível levando o caixão, e quando, por fim, decidi afastar-me de insólita criatura, soube quem era aquele que desaparecia em meio as brumas: Esteban Donato que carregava seu derradeiro leito.

Esteban Donato Ardanuy
Enviado por Esteban Donato Ardanuy em 08/08/2020
Reeditado em 08/08/2020
Código do texto: T7029885
Classificação de conteúdo: seguro