A LENDA DO BARBA RUIVA!!!!!!!

Na região conhecida por Salinas, a leste do povoado de Paranaguá, no Piauí, um pequeno rio se encontrava com uma lagoa de uns dois quilômetros. Numa casa simples morava a viúva Sebastiana e suas três filhas. Rosenilda tinha quinze, Selma treze e Rita oito anos, respectivamente. Aquela lagoa era tida como encantada pois nascera da noite pro dia, após um mês de chuva ininterrupta. Às águas cobriram a vegetação, pontes e estradas. Um dia, Rosenilda caiu doente. Queixando de dores nas costas, dia após dia. -" Vamos pra Rio Novo, onde tem médico e posto de saúde, Rose!!!!" Uma hora de viagem. O médico não viu enfermidade nenhuma na menina. Sebastiana voltou pra casa com a filha. A jovem tinha aulas de manhã. Auxiliava, às vezes, no armazém do velho Luciano. Leonardo, namorado secreto de Rosenilda, embora com dezessete anos, vivia caçando tatus e preás. No mato, distraído e pensando em Rosenilda, dormiu a sombra de um cajueiro. Acordou com a picada de uma cobra venenosa. A perna doendo. Ele correu até a casa do pescador Valdemar, perto dali. Os cães latiram. Leonardo caiu no terreiro. Valdemar saiu no quintal. -"Eita, ferro. É o Léo!! Ajuda!!!!" A esposa Josefa e o filho Danilo vieram. Valdemar viu o sangue na perna do jovem. -" Picada de cobra. O Léo tá morto!!!! Gelado e sem vida!!!!" Disse o choroso Valdemar. O carro de boi chegou ao povoado, tempo depois. Os moradores cercaram o carro. O corpo do jovem, estirado. O choro dos amigos e familiares. No mesmo instante, o ônibus chegou. O ponto de ônibus em frente ao armazém de secos e molhados. Sebastiana e Rosenilda desceram da jardineira. Um corredor se fez. Elas passaram e foram ver o jovem. Rosenilda desmaiou. Seu Léo estava morto. Um dia triste. Rosenilda, nos dias seguintes, estava calada. Tristonha e calada. Chorosa e abatida. Um mês. Dois. Três meses. Rosenilda estava grávida. -" Pobre Léo. Não verá o filho!!!!!" A jovem amarrava um lençol na cintura, a fim de esconder a gravidez. Procurando disfarçar ao máximo sua condição de gestante. Era vergonhoso. Seria um escândalo. Cinco meses. Sebastiana não desconfiava de nada. Rosenilda escreveu uma carta. Mentiu que viera pelos correios. Leu a carta pra mãe analfabeta. -" Sua tia Érica quer que você vá ajudar nas tarefas do lar. Selminha vai pro armazém, se precisar!!!!! Vá ajudar a sua tia em Rio Novo! Ela tá doente e precisando!!!!" Assim, a mentirosa Rosenilda tomou o coletivo na manhã seguinte, rumo a casa da tia, distante trinta quilômetros. A jovem saltou na estrada, tão logo o ônibus deixará pra trás o povoado. A moça se embrenhou no mato. Desatou o lençol da cintura. A barriga saltou. Enfim livre, a mostra. Descendente de índios, ela conhecia a tradição das mulheres terem seus filhos, sozinhas, na floresta. Era hora da criança nascer e conhecer o mundo. A sombra de um umbuzeiro. Dormiu o resto do dia. Uma cabaça com água. Um tacho de cobre. Álcool e tesoura pra cortar o cordão umbilical. Rosenilda caminhou até às margens da lagoa Paranaguá. Dormiu por horas. Noite. As dores. Contrações. Suor. Os gritos da moça ecoaram pela mata. Gritos de dor. O menino nasceu. Rosenilda fez os procedimentos. Colocou o menino no tacho de cobre. Era um bebê forte e robusto. -" Não posso aparecer com isso!! Não posso criar!!!" A moça colocou o tacho na água. Fechou os olhos. Os braços da criança estendidos. Um olhar suplicante. -" Não me olha, coisa! Vai se encontrar com seu pai!!!!! Eu devia ter aceitado o chá abortivo da benzedeira Jacinta!!! Fui tola!!!!" O tacho com a criança afundou nas águas cristalinas. Uma sereia saiu das águas. O tacho com o bebê chorão nós braços. -" O que quer fazer, desmiolada?!!!! Matar esse inocente????" Rosenilda estava estática, paralisada e sem voz. -" Na hora de fazer foi bom!!! Amaldiçoada seja. Não terá filhos, ficará cega e muda!!!!!" Rosenilda jamais vira ser tão belo. Cabelos longos que se misturavam por dezenas de metros com as águas. Olhos de esmeraldas e pele de peixe da cintura pra baixo. Boca vermelha como sangue. Era a Iara, a Mãe d'água. Ela brilhava. Foi a última coisa vista por Rosenilda. A jovem caiu desmaiada. -" Eu irei criar como meu filho!! Meu filho!!!!!" A sereia sumiu nas águas, levando o menino pra dentro da lagoa. Uma chuva começou. As águas subiram de repente. A enchente chegou ao povoado. Três pescadores encontraram Rosenilda. -" É a filha mais velha da Tiana. Vamos levá-la!!!!" Disse o Dito, líder dos pescadores. Toda a várzea alagada. Pontes destruídas. Um mês de chuvas. Taquara, cidade vizinha, foi também alagada. Algo jamais visto. -" Deus nos abençoe. Isso é assombração das grandes!! Estranho demais!!!!" Dizia o Dito. Sebastiana não desconfiava de nada. Rosenilda ficava em casa. Sem ânimo, sem comunicação. O Bartolomeu foi levar alguns pescados pra viúva Sebastiana, como fazia toda semana. -" A gente tá pescando só de dia, comadre Tiana!! A lagoa Paranaguá tá enfeitiçada. Eu e o Zeca escutamos um choro de bebê, pedindo mamãe, mamá, sei lá. Arrepiei mesmo!! Um choro vem lá de dentro das águas!!!! Alguns já ouviram vozes e viram luzes na lagoa!!" Rosenilda ouviu aquele relato. Era seu filho... certamente!!! No dia seguinte, Rosenilda tomou uma corda e foi até o quintal. O abacateiro. Ela subiu na árvore. A corda no pescoço. Um salto para a morte. Pensou em Léo. Apenas nele. Sebastiana se levantou. O quarto da filha. A cama vazia. A brisa da manhã. Um corpo pendurado no galho do abacateiro. Um dia de luto no povoado. Sebastiana deixou o lugar e foi pra Teresina com as filhas Selma e Rita. Muita gente afirmava ter visto uma criança, brincando, às margens da lagoa. Uma criança branca, de oito ou dez anos de idade. Muito tempo depois, outras pessoas diziam ter visto um moço na lagoa. Era belíssimo e atlético. Tinha cabelos longos e barba ruiva. Uma beleza estonteante, semelhante as esculturas dos deuses gregos. Durante a noite, sua aparência é de um homem mais velho, de barba branca. Ele tem medo e foge de homens. Gosta mesmo de espionar e assustar as mulheres que lavam roupas nas margens de rios e lagos. Agarra as mulheres com força sobrenatural, beijando-as muito. Corre e pula nas águas, desaparecendo por encanto. -"Nenhuma mulher deve se banhar nos rios ou lavar roupas sozinha. O filho da Mãe d'água aparece e a pega!!!!" Ensina o Dito velho pescador, aos netos. -" Ele é inofensivo. Só assusta. O Barba Ruiva vai perder o encanto somente no dia em que uma mulher corajosa colocar um rosário no pescoço dele e o batizar com água benta!!!! Assim, ele deixará de ser filho da Mãe d'água. Até hoje essa mulher corajosa não nasceu. O Barba Ruiva ainda está lá, na lagoa Paranaguá, nas águas claras, cristalinas e encantadas!!!!!" FIM

marcos dias macedo
Enviado por marcos dias macedo em 25/01/2020
Reeditado em 25/01/2020
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