A Maldição de Lucas

Sempre que acordavam, Lucas e sua família se reuniam para tomar o café da manhã juntos. Eles eram muito unidos. Sua mãe era advogada e tinha um ar altivo em seu rosto. Ela era uma mulher elegante e cheia de manias, dentre elas, antes que todos acordassem, ela já havia preparado a mesa com pães, café, manteiga, ovos... O cheirinho do despertar era um dos favoritos de Lucas. Seu pai era um escritor um tanto desconhecido do público, mas nunca se arrependera da escolha de vida, pois escrever era uma necessidade de sua alma. Lucas não tinha tios nem tias, avôs nem avós e era filho único.

Naquele dia, 29 de dezembro, ele completaria 15 anos. Ele tinha planos de comprar um videogame com o dinheiro que ganhou dos pais. Mas não podia sequer imaginar o que lhe esperava. Seus pais sabiam do que estava por vir. A mãe resistiu em acreditar. Lucas vivia numa família de bruxos. Era um segredo que não envolveria o filho, um humano normal. No dia em que nasceu, entretanto, foi amaldiçoado por uma temida feiticeira chamada Bárbara. Por vingança de ter perdido o amor de sua vida, pai do garoto.

Então, Lucas foi ao shopping e comprou seus jogos e comeu bastante e cantou com os amigos e voltou para casa. Foi deitar. Os pais estavam preocupados, mas não havia nada o que pudessem fazer. Quando no relógio deu meia-noite, ele começou a suar e a sentir calafrios e a se debater na cama sozinho... parecia que estava tendo um ataque epiléptico. Seus pais correram para acudi-lo, mas era tarde de mais, pois Lucas havia se transformado em um assassino. O pai quis matá-lo ao nascer, pois Bárbara queria a morte da mulher que lhe roubou o homem que tanto amava, mas a mãe nunca permitiria. Era seu único filho.

Lucas não esperou para começar suas atrocidades. O pobre garoto havia sumido. Era apenas um corpo dominado pelo ódio. A primeira vítima foi sua mãe. Ele pegou uma faca na cozinha. Os olhos estavam completamente brancos. Foi então que começou a cortar o próprio rosto. Fez cortes na boca para que parecesse que nunca mais iria parar de sorrir.

Depois disso, chamou pela mãe dizendo:

— Mãe, eu tô lindo? Olha pra mim que eu tô mandando. Assim, vou estar feliz sempre.

A mãe do garoto, apavorada, disse:

— Sim, filho. Está lindo.

E saiu correndo para o marido. Ela gritava assustadoramente.

Lucas, então, disse explosivo:

— Você não gostou. Por que você não gostou, mamãe? Anda. Responde sua vaca!

E esfaqueou a própria mãe. O pai estava sem ação. Trêmulo. Não fez nada. Ainda assim, Lucas o matou logo depois.

A feiticeira que tinha feito o encanto se arrependeu ao saber que seu maior amor havia sido morto. O feitiço foi contra o feiticeiro. Então, ela decidiu desfazer a magia.

Quando o garoto voltou a si, deu-se conta do que tinha feito. Ele não lembrava de nada. A faca em suas mãos ensanguentadas. Sua mãe, jogada no sofá com o corpo mutilado. Seu pai, estirado no chão aos seus pés. Seus olhos se encheram de lágrimas. Ele não compreendia. E ao ver seu reflexo no espelho, descobriu o motivo de sentir tanta dor no rosto. Sua boca estava toda rasgada e ardia tanto...

Lucas só queria que tudo aquilo fosse um pesadelo. Ele estava esperando a hora de acordar e de novo sentir o aroma do café da manhã. Mas ele não acordava... Diante de tanto terror, o garoto decidiu que iria se matar, pois, para ele, viver nunca poderia ser tão terrível.

Quando ele empunhou a faca sobre o peito, eis que surge uma imagem de sua mãe diante dele. Era apenas imaginação, mas parecia tão real. Ele estava hipnotizado por aquela figura pura. A mãe disse então:

— Mate todos! Mate por nós! Mate todos! Mate por nós!

E ele já enlouquecido matava. Saiu de casa naquele estado. Matava quem passasse por seu caminho. E voltava para casa. E dormia. E acordava. E todas as noites seguiram assim...

Lucas era como um fantasma. E tornou-se a Lenda.

Isis do Vale
Enviado por Isis do Vale em 19/12/2019
Reeditado em 19/12/2019
Código do texto: T6822606
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