Herói ou Louco

Muitos defendem a tese de que João – este era o nome – fosse um herói. Essa ideia foi bastante difundida pela mídia que buscava, naqueles tempos, histórias de heróis com o intuito de vender jornais e alavancar a audiência na TV. Porém, logo após as investigações que revelaram a origem do “herói” - ex-presidiário, acusado e condenado por homicídio – João foi declarado um louco. Somente um louco, certamente, meter-se-ia em tal confusão que lhe custara a vida. Afinal, era uma briga de casal, eles que se entendessem, João morreu, a garota sobreviveu, e dizem, faz constantes visitas e juras de amor ao marido quase-algoz, que se encontra preso. Preso por matar o herói. Herói não morre, os heróis ficam com a garota, objetaram alguns, que certamente, são aficionados às fitas gringas. Eu me abstenho de tecer quaisquer opiniões sobre o caso, resignando-me a simplesmente relatar, brevemente, os acontecimentos daquela quarta-feira de cinzas.

No centro da cidade, um homem bêbado, louco de ciúmes, ameaça a esposa com um revólver. Um batalhão de camarógrafos se posicionam, e registram tudo daí em diante. As ameaças, o choro, o revólver que dança no ar enquanto o braço do marido treme. João entra em cena, empurra a mulher, entra em briga corporal com o marido ciumento. Na plateia se perguntam quem era aquele velho canastrão, um terceiro elemento na farsa de duvidosa qualidade. De repente um disparo, e depois outros dois. Um tiro acertou a porta de uma loja – até hoje, a bala encravada na porta de madeira pode ser apreciada por algum curioso – os outros dois acertam o peito de João, que depois de caminhar por alguns poucos metros como um bailarino sonâmbulo, cai sobre o concreto envolto em uma poça de seu próprio sangue. O marido, vendo o que acabara de fazer, arremessa o revólver para longe e é preso pela polícia, que até então assitia a tudo passivamente.

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