A Jornada do Ego

Ainda era dia quando me levantei.

O sol despontava nos montes,

em finos raios cintilantes,

como a coroa de um rei.

Havia uma estrada,

que cortava serras, planícies

e até mesmo o mar.

Cedo eu descobriria,

que subir iria,

até mesmo pelo ar.

Não havia escolhas,

ela eu deveria trilhar.

Nada mais eu poderia fazer ou querer,

a não ser por ela peregrinar.

Sabe, haviam outras estradas...

cada uma delas levava a um sol diferente,

embora sobre a minha cabeça apenas um brilhava,

não importando qual estrada eu trilhava.

Não havia na próxima curva,

nada do que eu via,

não importa quão alto eu subia,

tudo mudava e se transformava,

quanto mais eu pensava ou sonhava.

Começa ali, pelos pés,

a jornada que passará pelo coração e pela mente,

nas contas minhas...

...que oculto recado estará entre estas tortuosas linhas?

Andei pelas trilhas da estrada,

que crescem como finos ramos,

de um grosso galho de uma árvore espaçada.

Nos lugares que fui,

nada trouxe que pudesse pegar,

lá, deixei profundas lembranças,

que espero um dia relembrar.

Na doce lembrança,

do que fui um dia,

guardado na infância,

que se repete na manhã de cada dia,

como fios de uma trama, que cada um por si mesmo fia.

Pesado tornou-se o meu caminho,

dos pés para o coração o fardo fez seu ninho.

E lá agora ele repousa, quanto mais prossigo,

mais ele ousa, mas mais forte fico.

Nesta jornada, num vale adentrei,

dentro deste magnifico vale, uma sombra enfrentei.

Não podia vence-la, pois de mim tudo ela sabia,

dos mais baixos desejos, até os sonhos mais sublimes do dia.

Como vencer algo assim tão medonho?

Precisei, para sobreviver, deixar pedaços de mim,

um deles, descobri depois, era a própria sombra que queria meu fim...

No próximo vale, sombras não tinhas,

era descoberto e amplo, como um mar de areias infindas.

Erguendo-se do chão, como árvores petrificadas,

todos os deslizes de cada uma das minhas jornadas.

Ali de pé, não me deixavam esquecer,

de que tudo o que se faz nesta vida,

não chega a perecer.

Quantas dores e desalentos causei,

quando fui um plebeu e quando rei.

Uma coisa sabia,

que cada um desses atos que desejava

mudar, não podia.

Chorei tristemente,

quando vi espantado,

que cada uma das dores que causei

tinham me alcançado.

Ali, entre as imagens petrificadas,

outra parte de mim ficou,

naquela paisagem insólita, agora imortalizada;

meu lamento ecoou.

Um grande jardim apareceu,

tão amplo, brilhante e belo,

coberto dos raios de sol,

como um grande diamante amarelo.

Cada flor que havia,

para mim se inclinava,

todas eu conhecia,

pelo fino aroma que eu inalava.

Foram as gentilezas que plantei,

as alegrias cultivadas,

o doce bem que desejei,

a cada um que amava.

Não sabia ter amado

tanta gente assim,

mas a razão disso,

eu descobriria no fim.

Deparei-me com todos os meus medos,

semelhante a um bosque de mil arvoredos,

na fenda estreita de uma infinita montanha,

do mais vigoroso, ao mais tacanha.

Fui estraçalhado, destruído e retalhado,

e quando achei que nada de mim sobraria,

surgi assombrado,

do outro lado daquela travessia.

Por lá ficou o coração outrora meu,

e o peso que nele carregava por fim desapareceu.

Para minha mente migrara,

um estranho fardo,

que agora carregava.

Essa estrela que me guiava,

de repente me deixava,

e o seu brilho fora substituído,

por outros tão mais cintilantes,

que eu jamais tinha visto ou ouvido.

A partir de agora, a cada passo dessa trilha,

eu podia me machucar,

azar,

a magia de todo equilibrista,

é saber que o show de todo artista,

sempre tem que continuar.

Fui descoberto, transformado,

e em mil facetas lapidado,

mas, essas são as características valiosas,

das gemas raras mais formosas.

No início da jornada era um,

por agora, incontáveis,

e não estou nem no meio,

destas infinitas variáveis.

Por onde cada um de mim passou,

ainda estou...

e nos sonhos deles,

abro novos caminhos,

por onde agora,

jamais sozinho,

volto e vou.

Quando eu morro, eu mudo,

e crio novos caminhos,

como as veias do meu corpo

e os galhos que sustentam um ninho.

A mudança é necessária,

como as estações do ano,

mudam a paisagem,

e tornam mais exuberantes os ramos.

Morrer, não é mudar, é verdade...

é apenas abrir os olhos,

para outras realidades.

Seu ego é a sua lembrança,

de cada caminho que percorreu,

daquilo que ganhou,

e daquilo que perdeu.

O que cultivar disso é quem você é.

Por cada trilha que percorre,

mais você vê de si e escolhe,

Porque na vida o que menos importa é ter.

Como não há fim,

estamos num eterno vir a ser...