O LIVRE GARANHÃO COR DE ÉBANO

Um garanhão negro espetacular, seu pelo brilhava nos galopes e corridas,  sua musculatura, era perfeitamente delineada, a crina de comprimento médio esvoaça com o movimento do vento, um animal perfeito, um deus de ébano livre na natureza.

Uma tempestade inusitada e imprevista, chegou alucinando o dia trazendo a escuridão. As rajadas de vento lambiam as árvores, telhados, alpendres, tampas de caixas d'água,, etc...

Raios riscavam o céu e trovões rugiam ferozmente assustando todos os moradores daquelas paragens, as águas caiam torrenciais, mantendo o tom inusitado, tudo terminou em três horas. As horas seguintes foram para juntar os cacos, contabilizar os prejuízos.

Um sitiante carroceiro, que estava levando entulhos e galhos arrancados pela tempestade, puxou as rédeas de seu cavalo com tanta força que o animal se ergueu, tentando se livrar da dor. Ao lado de uma árvore à direita do caminho, um brilho negro muito conhecido, sangrava. Na realidade uma anca inteira com joelho e pata do garanhão negro, talvez o único ser realmente livre naquele lugar, seria possível que um raio tivesse cortado o belo espécime daquela maneira? E onde estava o resto do animal?

O homem, procurou bastante em ambos os lados da estradinha, mas, nem sangue tampouco sinal do restante do corpo. Com um esforço muito grande, colocou a anca sangrenta na carroça e retrocedeu o seu caminho. Alguma coisa chamou sua atenção logo uns quatrocentos metros depois, só que desta vez à esquerda, a cabeça e a parte da frente do garanhão cor de ébano cheia de sangue.
Como não percebera isso quando passou por ali. Desta vez não aguentou colocar as partes encontradas na carroça, pobre liberto, quem fizera isso, pensou...alguém cheio de ódio ou talvez invejoso de tanta liberdade, um escravo de si mesmo...observou que os cortes eram precisos. Com suas interrogações seguiu o caminho pedregoso, tentando achar o restante do garanhão cor de ébano. Mais quatrocentos metros e achou de novo à direita, a outra anca com joelho e pata do animal, tirou a anca que estava na carroça e jogou junto à outra antes encontrada...para quê levaria para casa. Seguiu em sua retrocedência tentando achar o resto, faltava o centro do animal, não encontrou e resolveu voltar direto para o sítio.

No percurso, a muito custo queimou os entulhos e galhos. Mesmo tentando não pensar nos recortes sangrentos do ébano de quatro patas, continuava encasquetado com os cortes precisos, que pareciam ser de uma lâmina grande muito afiada, uma espada talvez...mas, quem teria uma espada naquele lugar?

Chegou ao sítio, pulou da carroça puxou uma mangueira lavou o veículo, deu água e ração ao cavalo. Foi para a parte de trás da casa, onde vivia sozinho, girou no fogo de chão uma peça enorme de carne, que já deixara salgada antes de sair com a carroça. Sentou num tronco cortado, puxou um espada ensanguentada de perto do fogo, passou nela um pano sebento e enquanto aguardava o ponto desejado do churrasco, afiava a lâmina com uma pedra...
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 12/04/2019
Reeditado em 13/04/2019
Código do texto: T6622179
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