O REI DE COPAS
Zé Zangado atravessou o saguão até o Hall principal e acendeu o candelabro. Morcegos guincharam no teto abanando suas assas e gritando desesperados. O pô dos moveis voou, quando puxou o pano sujo que cobria um piano antigo. A luz do candelabro não parava acesa, as janelas quebradas no alto das paredes deixavam uma brisa incomoda penetrar no salão. Zé, deixou uma moeda sobre o piano e então uma vela ascendeu próximo de onde sua vista não conseguia enxergar. Um uivo macabro entonou, diminuindo em intervalos constantes. Haviam sombras no alto das plataformas, pareciam estar sendo projetadas pelos equipamentos antigos pendurados em cordas antigas, mas haviam mais sombras nas paredes do que a quantidade de objetos existentes. Zangado colocou o capuz e diminui a luz do candelabro, então um som de trovão ressoou, em seguida era mais que evidente um ruído continuo de chuva, caindo na calha.
O palco estava aos pedaços, se Zé não tomasse cuidado poderia acabar se machucando. Uma foice desceu do alto do palco, Zé Zangado virou o rosto e deixou-a passar a lamina centímetros de sua cabeça. Um véu banco apareceu por trás das cortinas e veio em sua direção, Zé Zangado continuou andando e deixou a coisa cair em um buraco no chão. O chão estava grudento. Sangue e vísceras cobriam quase todo o palco, fora ossos humanos e dentes. Por fim, antes que chegasse ao centro do palco, um homem alto, com a cabeça coberta por um pano negro surgiu do escuro, carregando uma lança. Zé continuou andando, e mesmo que o homem alto e horrendo estivesse tão próximo que poderia alcança-lo esticando o braço, ele não ficou com medo.
Zé Zangado parou abrupto e olhou para o palco vazio. O carrasco parou junto a ele e levantou a lança para o alto, apontando-lhe para sua cabeça, então a porta do teatro abriu-se e a luz pálida da lua penetrou no palco como um farol, iluminando o homem alto, fazendo-o desaparecer. Zé Zangado, tirou o capuz, olhou novamente para o palco e com um sentimento nostálgico desapareceu como o carrasco.