O CEMITÉRIO DOS RATOS
 
 
    Ketlin abriu a portinhola do armário e retirou um rato morto, disse-me que o havia encontrado debaixo da cama na noite que nos mudamos. Indaguei-a sobre o motivo de não ter me contado e ela respondeu que o garoto de vermelho não autorizara a falar. Pois, bem não achei necessário puni-la, mas tratei de leva-la no hospital, um rato pode transmitir muitas doenças, felizmente não havia contraído nada. Um dia depois Ketlin entrou em coma, não conseguia sair da cabeceira de sua cama, Janete minha esposa não ligava, na maior parte de seu tempo estava bêbada.
    Enquanto chorava ao seu lado, pedindo que acordasse, ouvi um barulho inconveniente vindo de debaixo de sua cama, tratei então de levantar o forro e arquejei o máximo que pude minha cabeça para baixo, então um rato saltou sobre meu rosto e mordeu meu nariz. Cai de ombros no chão, o rato havia prendido seus dentes profundamente na cartilagem do nariz, quando o arranquei da minha cara, joguei o mais forte que pude na parede, a pancada foi o suficiente para mata-lo, inclusive ouvi o som de seu crânio esfacelar-se no concreto.
     Enquanto recolhia o rato, minha filha começou a gritar em cima da cama. Ela gritava incessantemente, dizendo que os ratos estavam a devorando, ela pedia ajuda, e só parou de gritar minutos depois. Não senti mais seu pulso, e quando a ambulância chegou passaram-me a pior notícia da minha vida, prefiro não contar sobre isso, afinal é uma dor inominável, perder um filho.
     Após o enterro de Ketlin sua mãe não saia de seu quarto, dizia se arrepender de não ter tido tempo suficiente com sua filha. Queria poder acreditar nela se não fosse a bebida. Iria me mudar em uma semana, e neste período Janete não saiu do quarto de Ketlin. Ela acabaria jogada na rua, a maioria de seus familiares haviam abandonado ela, e provavelmente a abandonaria também, não suportaria ficar ao seu lado, não daquele jeito.
      Um dia antes da mudança, Janete havia desaparecido. Não dei muita atenção aquilo, estava empacotando as malas quando ouvi um ruído vindo do quarto de Ketlin. Pareciam ratos... notei enquanto cruzava o corredor que haviam marcas de patas no chão, que seguiam uma trilha de sangue. Aquela marca não poderia ser de ratos, afinal era grande demais. A trilha de sangue levou-me até o quarto de Ketlin, enquanto abria a porta, vi uma calda entrando debaixo da cama, e então uma serie de grunhidos estranhamente baixo ressoou de debaixo da cama, aproximei-me abrupto, aproximei-me com calma e devagar, abaixando-me, a trilha de sangue seguia para debaixo da cama, então quando estava próximo o suficiente para levantar o forro, a porta do quarto se abriu, era Janete, muito assustada, nunca tinha visto uma expressão de horror como aquela. No momento que desviei o olhar para ela, algo agarrou minha mão, e puxou-me para debaixo da cama, não consegui me segurar em nada.
      Janete não parou de gritar — faltam ossos no cemiterio. Então, quando já estava pela metade debaixo da cama, algo mordeu meu pescoço, senti duas presas aprofundando-se na minha pele, minhas pernas se debatiam no que pareciam ser ossos. Sentia um corpo peludo e esguio, quase do meu tamanho segurando minha cintura. — Papai, não tenha medo, tem mais gente aqui. E a voz da minha filha foi se dissipando até que desaparecesse debaixo da cama.
Vinícius N Neto
Enviado por Vinícius N Neto em 28/01/2018
Reeditado em 29/01/2018
Código do texto: T6238210
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