A fera

Maike corria em disparada, chocando-se contra algumas poucas pessoas, que circulavam pelas ruas a luz do luar, mas nada era capaz de detê-lo. Precisava sair dali, precisava fugir para longe. Suas pernas começavam a fraquejar e seus passos iam ficando cada vez mais vacilantes. A dor que sentia era insuportável.

Suor se acumulava em sua testa e na gola da camiseta cinzenta que vestia. Se apoiou na parede de um prédio comercial, uma mulher passou por ele e o encarou espantada. Maike olhou ao redor e voltou a correr. Sabia que a qualquer momento iria desabar, sabia que a qualquer momento seu corpo não iria suportar as dores. Respirou fundo e acelerou os passos.

Seus pés se enroscaram e ele desabou, seu rosto se chocou contra o concreto e um pequeno corte se abriu em sua testa. Não estava suficientemente distante, mas ninguém passava por ali. Estava sozinho. Um grito lamuriento escapou de seus lábios e seu corpo se contorceu. Seu olhar estava aterrorizado.

Um cachorro uivou ao longe e ele abafou outro grito. Olhou na direção da lua, sentia a fera tomar seu corpo aos poucos. Se apoiou sobre os joelhos e as mãos, encarando o chão com os olhos semicerrados.

- Maike, o que está acontecendo? Por que saiu correndo daquele jeito? – Perguntou uma jovem, ao se aproximar, olhando-o assustada.

- Eu pedi para você não vir atrás de mim.

Ele não estava zangado, mas entristecido.

- O que está acontecendo? Por que você está assim?

- Vá embora daqui. – Olhando-a de soslaio. Uma veia calibrosa saltou em sua testa.

- Eu quero te ajudar. Não vou te deixar aqui nessa situação. – Ajoelhando-se ao seu lado.

- Vá embora. – Cerrando os dentes.

- O que está acontecendo com você?

Maike soltou um urro gutural. Os ossos de suas costelas começaram a se quebrar e a jovem saltou apavorada.

- Meu Deus! Maike, o que você é? – Levando às mãos a boca.

Seus braços e pernas deram lugar a membros caninos compridos e garras mortais substituíram suas unhas. Seu rosto se alongou em um foucinho e fendas surgiram em seus enormes olhos dourados. Saliva escorria de sua boca enquanto ele gritava e se contorcia. Tufos de pelos castanhos sedosos surgiram pelo seu corpo e rapidamente se espalharam, cobrindo-o.

A jovem deu alguns passos cambaleantes para trás, encarando o enorme lobo que o irmão havia se transformado. O animal a encarou com o olhar predador. Ela disparou para longe, mas ele a seguiu e saltou sobre suas costas. O bafo do animal era quente em seu pescoço. Tentou se levantar, desesperada, mas ele era pesado demais.

Sua mão alcançou uma pedra pontiaguda e ela conseguiu girar o corpo, golpeando-o na cabeça, mas o golpe não foi suficiente para tirá-lo de cima dela. O animal rosnou e a atacou com as garras, abrindo grossas fendas em seu rosto. Sangue minou dos rasgos e em poucos instantes seu pescoço e blusa ficaram ensopados.

- Maike, por favor, não faça isso... Sou eu, July. – Com a voz suplicante.

Mas o animal sequer ouviu seu clamor. Afundou os caninos em seu pescoço e rasgou sua pele como se fosse um pedaço de papel. Um jato arterial manchou seu pelo. Sangue começou a escorrer pela boca da jovem. Seus olhos fitavam o céu, lacrimejantes. Grunhidos escapavam de sua boca, sentindo sua carne ser mastigada. O animal uivou, sangue cobria toda a sua boca. Rosnou para sua vítima e desapareceu pela escuridão da noite.

Alice Moraes
Enviado por Alice Moraes em 27/04/2017
Reeditado em 25/11/2017
Código do texto: T5983019
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