O despertar luciferiano: um discurso verdadeiro sobre o homem e o que ele é

Cap. 9 - A um passo da iniquidade

Invejou como de costume o sono e a capacidade dos seres humanos de adormecerem e serem levados por seus desejos e medos,

ainda que sem nenhum controle sobre as imagens e enredos oníricos que os inspiram. Com ajuda de velhas magias, pode então

Satanás experimentar o corriqueiro sono dos humanos e talvez dali tirar alguma experiência ou inspiração para levar a cabo

seu mais predileto desejo.

Enquanto sonhava, seu enviado a Terra, estava entre as diversas tribos e povos que os judeus haveria de exterminar para tomarem

posse de sua terra prometida. Observava aquilo tudo, crianças, mulheres e idosos sendo rasgados como se não fossem nada. Eram

na verdade uma limpeza o que faziam, pois os cortavam como quem estivesse arrumando uma casa ou ceifando um mato para dali

se aproveitar dos pertences, terras, outro e gado.

O mais intrigante é que faziam sob ordem do seu Deus. Sangue, mortos e saques. Um inferno na terra que os próprios homens

empreendiam. Aquilo o fazia pensar o seria o verdeiro santo, este escolhido nos últimos dias, aquele misericordioso ou aquele

capaz de fazer qualquer coisas por sua fé. Capaz das maiores e mais baixas atitudes contanto que não deixasse de ser fiel ao seu

Deus o adorando acima de qualquer coisa.

Tal era a naturalidade com que cometiam suas atrocidades em nome de Deus, que creio que o fato de ser em seu nome, os deixava

ainda mais tranquilos para passar a fio de espadas cidades inteiras e dependurasse ( depois de arrasarem povos inteiros, seus reis em forcas).

Escreverem eles mesmos num livro o que foi feito, como que um presente dado por Deus. O Livro de Josué é um livro que trata

do que se chamaria hoje de crimes de guerra. Um livro que se resume em quem matar e a quem distribuir as terras de quem teve o sangue

derramado sobre elas.

Se surpreenderá que Ló, um dos poucos a serem poupados do extermínio de Sodoma, oferecerá suas filhas a uma multidão de estupradores para que poupasse a vida de dois visitantes.

Ele fora criado como um filho da iniquidade. Quiseram lançar sobre ele o título de pai das Blasfêmias e rei das heresias, mas que se

recusou sabendo que somente Satanás, poderia ostentar este título. Ele estava confuso e procurou Satanás, ainda que isto

o tomasse como um fraco e hesitoso diante de sua missão.

"Meu amado pai, Satanás, o Rei de todos os Infernos, o Príncipe dos Homicidas. Tive a ver os homens e acreditava que sua

natureza ruim os levaria a crueldade e atos mais sórdidos. Vi o próprio Deus os instruindo a destruir povos inteiros, fazer de outros

seus servos. Penso que o Santo dos Santos seria tão leal a ponto de fazer qualquer coisa, ainda que a mais bárbara por sinal

de lealdade. É preciso considerar que estes homens não são leais a princípios, pois fizeram e fazem qualquer coisa se entenderem

por certo isto.

Afinal, contra o que lutamos? O que devemos vencer? A maior parte da humanidade não será salva, será condenada por deslealdade a Deus.

Como nós já somos condenados. Lutamos então para que não haja nenhum homem leal a ele?"

Viu Satanás no semblante do seu filho que sua inteligência já estava preparada para algo mais. Sentiu em seu entender

que era o momento de expor o jogo tal como ele era.

Cap. 10 Um discurso sobre o homem

Era o momento de dizer o que sabia. Mesmo o que ainda fosse só uma hipótese ou algo mais vago. A hora era aquela em que Satanás estava mais entusiasmado e possivelmente com o espírito mais aberto para intuições.

Proferiu então, sob licença e respaldo de seu pai amado, Satanás, diante dos maiores das grandes legiões infernais. Estava ansioso tanto pelo público quanto pela recepção de seus ideias, de como seria interpretado ou seria aceito depois disto.

Disse então ressoando a voz que vinha do seu espírito:

" Antes de vos anunciar as leis que descobri sobre o homem e sua evolução, preciso esclarecer sobre os seguintes pressupostos:

1 - O homem foi feito também a nossa imagem e semelhança. Há algo neles em sua natureza mental e espiritual que não só tem parte conosco, mas parece compartilhar dos nossos princípios e ensinamentos mais caros.

2 - O homem também tem uma natureza divina, que constitui como parte de sua natureza. Não há como negar um sem negar o outro.

3 - A nossa guerra celestial contra Deus e seus anjos mais próximos se deu após a nossa rebelião. Ainda que tivéssemos constituído de uma certa natureza que compõe o homem, ao sermos banidos, nossa marca também foi condenada e perseguida para que não se aproximasse de nós e nos repudiasse.

4 - Ao fazer isto, o homem entrou em guerra contra sua natureza e se encontra dividido e incompleto. Se tornou um ser cínico e hipócrita digno de pena. Nosso ódio contra o homem é pela pobreza espiritual de tentarem com todas as forças negar sua natureza e se enfraquecer como ser e como entidade única.

5 - Fazer cair os Santos dos últimos dias significa faze-lo negar a natureza satânica que tem dele. Pelo que conheci do homem é possível que ele negue e recuse com todas as forças, mas sem nunca destruir esta sua natureza que tem parte conosco.

6 - Com toda certeza seremos exterminados e a natureza nossa, que o homem compartilha poderá ser destruída para sempre. É possível que o homem seja reformulado sem estes princípios, mas com certeza serão outros seres, não homens.

7 - O homem tal como conhecemos será destruído, pois sua natureza dupla constitui a unidade do seu ser. Deus já exterminou a maior parte deles no Dilúvio e fará novamente até que os depure e constitua outros seres.

A - Acredito que se Deus for onipotente, onisciente e onipresente estaremos liquidados até que seu plano se conclua. Se houver um universo cujas leis e princípios se sobreponham a vontade de qualquer ser inteligente então teremos uma chance. Se ele for onipotente, onisciente e onipresente, então fazemos parte de seu plano, somos necessários.

B - Se houver um plano e determinação sobre nossas vontades. Nada poderemos fazer, porém tal plano obedece a limites lógicos. Se não obedecer ele é indeterminado e nada esta definido pra nós no futuro. Se obedecer podemos compreender a sua lógica e vencermos.

C - Se jogarmos do jeito como estamos jogando, estaremos contribuindo com o plano divino da construção de um outro tipo de homem a partir da negação deste que existe. Com certeza seremos aniquilados.

D - A determinação do todo implica em lógica e regras, tais regras podem ser compreendidas para se traçar uma nova estratégia. A indeterminação, implica que nada esta definido no futuro, o que nos dá uma chance. A indeterminação implica que Deus não seja onipotente e onisciente. A determinação implica que ele se sujeita a regras e portanto não poderia ser onipotente. " Do Discurso Preliminar sobre a Natureza Humana e a Mecânica Celeste.

Após este discurso, um misto de indiferença, incompreensão, sentimento de tempo perdido tomou conta do espirito dos ouvintes.

Disse-lhe seu pai amado: "eles não estão prontos como você está. Ainda sofrerão muitas derrotas até se amadurecerem com isto. Desenvolva, enquanto isto, estes princípios, volte para os homens e aguarde até o momento certo para semear sua compreensão."

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 22/04/2017
Reeditado em 22/04/2017
Código do texto: T5977722
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.