Fim de Semana de Terror - PARTE II

Belga queria poder arrancar os próprios olhos cor de mel do que ver aquela coisa na sua frente. Ao avistar aquilo chegou em pensar em fugir, como se possível fosse.

- Gabriel, chame seu pai. Chame seu pai depressa.

- Mas mãe...

- Rápido filho, você não quer ver a sua mãe morta não é. Então corre, traga seu pai aqui.

O menino saiu correndo pelo corredor da casa e foi fazer o que a mãe lhe ordenou.

- Quem é você? O que você quer aqui? – perguntou Belga.

A coisa que ela está vendo não respondia. Não falava e nem reagia. Estava estática.

- Seja lá o que for você, me deixe em paz, deixe a minha família em paz. Saia daqui e não volte mais. Ou não respondo por mim.

A luz do quarto começou a piscar de forma intermitente até se queimar e apagar por completo. A escuridão dificultou a visão de Belga. Por um momento sentiu uma leve brisa passar por sua nuca, como se fosse um sopro gélido, pavoroso e mortal.

- Belga o que foi? Abra essa porta – gritou Amadeu esmurrando a porta de madeira envernizada.

A porta havia se trancado.

- Socorro! Amadeu me tira daqui! – respondeu Belga do outro lado com a voz bastante abatida.

A pior coisa que poderia acontecer era a mulher ficar presa dentro daquele quarto. Sua vida estava em risco. A sua e de seu bebê. Coisas estranhas aconteciam naquele lugar. Coisas que jamais pensou em vivenciar.

- Se afaste da porta amor – disse Amadeu – vou tentar arrombá-la.

Depois de algumas tentativas a porta caiu sobre o piso de madeira velha, fazendo levantar resquícios de poeira.

Belga estava caída no chão com as duas mãos trançadas sobre sua barriga.

- O que aconteceu Belga? Fala comigo – disse Amadeu.

O menino Gabriel olhava aquilo tudo em silêncio.

Minutos depois a mulher acordou.

- Me tira daqui Amadeu. Não quero ficar nem mais um segundo aqui.

- Claro, vamos pro nosso quarto.

Em seus braços Amadeu carregou a esposa até o quarto do casal. Enquanto Gabriel ficou naquele sombrio cômodo observando cada detalhe que ali havia. Com minuciosidade averiguava tudo ao seu redor.

- Eu não quero mais ficar nessa casa Amadeu. Vamos embora daqui logo.

- Calma meu amor, calma. Me conta o que aconteceu.

- Eu vi Amadeu, eu tenho certeza que eu vi. Tem algo de muito estranho aqui. Você precisa acreditar em mim. Foi horrível, pensei que iria morrer.

- Olha Belga eu entendo mas... Você está grávida, ultimamente você está mais sensível, se emocionando por qualquer coisa, é normal, eu sei.

- Qualquer coisa Amadeu? Você não tem ideia do que eu vi e passei dentro daquele quarto. E você vem me falar de sensibilidade, de emoção. Você não acredita em mim não é?

- É claro que eu acredito mas.... O que você quer que eu faça? Pegue o carro e saia agora no meio da madrugada?

- Primeiro o nosso filho vê alguma coisa na mata e agora eu passo por isso aqui dentro. Será que não ta na hora de você ser um pouco menos teimoso, menos cético e conseguir enxergar que tem alguma coisa errada aqui?

- Me fala o que você quer que eu faça? Que eu embarque nessa loucura de vocês?

- Loucura essa que você mesmo colocou a gente não é?

- Como é que é? Eu coloquei vocês nessa “loucura” – ironizou Amadeu.

- Sim, você mesmo. A ideia de passar um fim de semana de carnaval aqui nesse lugar foi sua. Essa casa estranha, com cheiro esquisito, um ar sombrio, no meio do mato.

- Então é assim? Eu pensei nessa viagem por sua causa e do nosso bebê. Não queria que vocês ficassem perto daquele bagunça toda, pensei num lugar pra você descansar e... Agora recebo ingratidão em troca.

- Não é ingratidão não. É a realidade. Mas você não está nem ai, você pouco se importa com o que esta acontecendo aqui. Mas tudo bem. E outra coisa... Dorme na sala hoje.

Muitas horas já se haviam passado naquela primeira noite da família naquela casa. Muito tempo se passou e muita coisa também aconteceu. Mas o pior ainda estava por vir.

Manhã de domingo...

- Vou levar as malas para o carro. Vamos voltar para casa.

- Amadeu, espera. Eu quero te pedir desculpas por ontem. Eu estava nervosa, descontrolada e... Fui muito rude com você. Me perdoa.

- Ta certo. Vou terminar de carregar as coisas pro carro. Onde esta o Gabriel, ainda não acordou?

- Não, ainda não. Vou até o quarto chamá-lo.

Enquanto Amadeu levava os pertences da família para o veículo, Belga foi acordar o filho afim de se aprontar para o retorno para casa. Quando ela abriu a porta, teve uma surpresa.

- Gabriel, acorda – disse Belga da porta do quarto.

Ao perceber que o filho não respondia, decidiu aproximar-se da cama. Ao puxar o cobertor notou que o filho não estava ali. A cama estava vazia. No lençol branco que cobria o colchão, manchas de sangue eram facilmente visíveis. Os vidros da janela estavam estilhaçados. O pesadelo parecia não ter fim.

- Amadeu, Amadeu, o nosso filho, ele... Ele não está no quarto e está cheio de sangue na cama. Eu acho que...

- Ah não! – disse o pai do garoto correndo até o quarto onde o menino dormia.

Ao chegar ao quarto constatou com os respectivos olhos tudo o que a esposa havia lhe descrito. Naquele momento, o homem deixou de ser cético e acreditou nas palavras da mulher. Realmente havia algo estranho ali. Sua missão agora era a de descobrir os mistérios que rondam toda a casa e resgatar o filho.

O sumiço de Gabriel fez adiar o retorno da família.

- Fique aqui Belga. Eu vou atrás do nosso filho.

- Eu vou com você amor, espera.

- Não. Você fica. Eu vou procurar nessas redondezas aqui e... Caso ele apareça é melhor que você esteja aqui.

- Amadeu, você acha que nosso filho pode estar vivo? – perguntou Belga com um tom de dor na voz enquanto lágrimas escorriam pelo seu rosto.

- Tenho certeza que sim – disse Amadeu olhando nos olhos da mulher.

Despediram-se com um beijo. Um beijo de amor que poderia ser o último de suas vidas.

Continua...

Luccas Nascimentto
Enviado por Luccas Nascimentto em 27/02/2017
Código do texto: T5925243
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