saboreando a vida pela morte

Eu via aquilo e me estremecia de desejo, aquele ser fúnebre em seu ato de mediocridade pudera me oferecer o gozo de um prazer alheio.

Via sua cabeça imóvel onde somente seus olhos mexiam e observavam a maior divindade que qualquer paladar poderia sonhar em provar um dia.

Os olhos dançavam ao som da faca que aos poucos separava a gordura do restante da carne. O couro já estava separado do restante e aberto num varal para quem sabe fazer uma bota ou cinto mais tarde.

Sobre a mesa, um corpo recém chegado com um cheiro ainda de vida era aos poucos cortado parte por parte para saciar aquelas bocas sedentas, sedentas de vidas.

Era tudo calmo e perfeito, cortava e lambia a faca a cada órgão retirado; a fome de vida era tanta que na câmara fria já havia centenas de partes humanas prontas para receber seu tempero e ir ao fogo.

Era difícil dizer se aquela fome de vida era também desejo da morte ou se sua mediocridade que teria o levado a juntar tantos e tantas afins amantes de corpos humanos em seus pratos e cúmplice nos desaparecimentos da cidade. Suas vítimas, na verdade presas eram obtidas da mesma forma como nossos antepassados conquistavam seus alimentos. Eram diretamente postos à caça e procuravam sempre vítimas frágeis. Geralmente mulheres bonitas sem muito porte atlético.

Seria um crime? Saciar sua própria fome com sua própria caça?

Viana Karl
Enviado por Viana Karl em 26/05/2016
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