8 - A Revelação (Parte 1)

(Recomendo a leitura dos números anteriores, pois são os contos que antecedem a este!)

Depois da conversa perturbadora que tive com Caronte, fiquei pensando como isso seria possível? Não tinha nenhuma lógica, eu podia ser muita coisa, mas louco? Isso eu não era e se não havia outra Morte antes de mim, então como explicar o encontro que tivemos naquela noite?

O tempo estava se esgotando, em pouco tempo meu rosto seria encoberto pelas marcas da Morte e minha face seria apenas uma sombra embaixo de um capuz..., eu precisava fazer alguma coisa, eu precisava pensar numa forma de sair daquela situação, afinal, se era possível passar essa maldição para outra pessoa eu tinha que saber como.

Então, depois de muito pensar, decidi testar uma teoria que desenvolvi durante minha vida como Anjo da Morte, se eu possuía alguns talentos e constantemente usava-os para realizar o meu trabalho, então porque não usa-los para benefício próprio? Eu sabia que seria muito perigoso, afinal de contas, nunca havia feito nada parecido com isso; depois pensei; será mesmo? E se eu já tiver feito? Bem, era a minha única opção agora.

Duas batidas secas com a foice no chão e lá estava eu...

Local: Vila Rural São Joaquim, Avaré, Interior de São Paulo

Data e hora: 6 de junho de 2006 00:01:00.

Era madrugada, faltavam apenas 12h para o meu encontro com a Morte..., estranho estar no lugar onde nasci, cresci e passei toda a minha vida, era como se eu estivesse dentro de uma foto antiga, a estrada de terra que eu utilizava para ir à escola quando criança, que por sinal ficava a uns 10km de casa e eu tinha que andar quase 01h para chegar, mas eu nem sentia, afinal todos os dias íamos Jaziel e eu pela estrada, conversando, brincando, chutando uma bolinha de papel; que só durava o tempo de chegarmos; e rindo, rindo muito, é..., não posso negar, foi uma época boa..., ainda no caminho tinha a venda do Seo Manoel, um português muito paranoico, que tinha um sério problema com gatos; depois fui descobrir que ele era alérgico e só de ouvir um miado que fosse, sua pele coçava e ele já começava a inchar, numa ocasião um engraçadinho jogou um gato do outro lado do balcão e ele por impulso acabou agarrando-o com as duas mãos, isso foi o bastante para ele ficar internado por quase dois dias no pronto socorro, mais a frente havia um pequeno riacho, que de vez em quando eu nadava pra espantar o calor, inclusive foi lá que conheci minha “falecida” esposa, mas isso é outra história.

Neste momento o relógio já marcava 04h, hora que eu normalmente acordava para trabalhar, então fui até minha casa e fiquei acompanhando a minha própria rotina de longe..., então me vi levantar da cama, enquanto Gorete; aquela puta; permaneceu deitada, provavelmente fingindo que estava dormindo ou nesse caso poupando suas energias para mais tarde, quando Jaziel viria esquentar a cama com ela; pois bem, me levantei, fui ao banheiro, depois me troquei e fui pra cozinha tomar meu café; como é bom poder sentir novamente o cheiro de café fresquinho; depois me despedi de Gorete, dando-lhe um beijo na testa e sai rumo a lida na fazenda Bello Monte, uma de muitas terras do senhor Pestana, um velho muito rico, que pela idade avançada, já não mais aparecia no campo, ele sempre passava lá antes de começarmos o trabalho, só para nos desejar bom dia e nos entregar um copo de café e pão com manteiga, realmente um ser humano fantástico, mas depois que adoeceu, seus filhos tiveram que assumir os negócios e como já era esperado, só pensavam em lucro, então pouco tempo depois, algumas gentilezas foram abolidas, mas isso não foi nada perto do que aconteceria hoje.

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Moises Tamasauskas Vantini
Enviado por Moises Tamasauskas Vantini em 23/10/2015
Código do texto: T5424070
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