O Incêndio - Parte II

O INCÊNDIO – PARTE II

Lucy abriu os olhos. Não entendeu o que estava acontecendo. Sirenes, barulhos, choros, luzes piscando em carros de polícia e de bombeiros. Atravessou a rua. Havia uma ambulância e um carro do IML também. O que estava acontecendo? Porque aquele monte de pessoas estava ali? Curiosos. Era isso. E ela até reconheceu uma das mulheres que estava ali. Era sua vizinha. Aliás, aquela chata da vizinha fofoqueira. Lucy olhou para ela e perguntou o que estava acontecendo. A mulher não respondeu. Estava muito interessada em toda agitação e Lucy seguiu em frente. De repente, ela percebeu que toda a agitação era em sua casa. Ela viu um homem alto, de boné, olhando para ela e sorrindo. Apenas um idiota querendo paquerar. Ela desviou o olhar e chegou próximo á um bombeiro e viu outra vizinha. A Elaine. E ela estava chorando. Lucy gostava dela. Eram boas amigas e, ás vezes, elas saíam juntas. Porque ela estava chorando? O que estava acontecendo? Pensou em ir até ela, mas observou que todos olhavam para sua casa. Ela olhou também e não acreditou no que viu. Agora ela entendeu toda a agitação. A casa tinha sido incendiada. Ela deu um grito e correu em direção á casa. Ninguém a impediu de entrar. Talvez, os bombeiros e policiais soubessem que era a dona. Ela entrou. Não acreditou no que viu e perguntou para um policial como havia ocorrido o incêndio. Ele apenas olhou para ela e seguiu em frente sem responder. Talvez fosse porque estivesse trabalhando ou talvez não fosse autorizado a responder. Perguntou para outro policial e ele também não respondeu. Perguntou para um bombeiro, para outro, perguntou para um homem vestido de branco e ninguém respondia para ela. “Mas que merda é essa?” Ela gritou. “Eu sou a dona da casa..., alguém pode, por favor, me explicar o que aconteceu com minha casa?” Ninguém respondeu e Lucy andou por dentro da casa incendiada. Tudo estava destruído. Até o teto parecia ameaçar desmoronar. Caos total. Todas as suas coisas. Lucy sentiu vontade de chorar, mas estranho..., não saíram lágrimas. Ela olhou a cozinha, o quarto, todas as suas coisas, tudo..., tudo queimado..., e ninguém dizia para ela o que tinha acontecido. “Vou procurar o chefe dos bombeiros ou o chefe dos policiais”. Quando saiu na garagem, o homem de boné estava lá dentro e continuava a olhar para ela e a sorrir. “Mas o que esse cara está fazendo dentro da minha garagem?” Ela saiu. Passou sem problemas pelos policiais. Eles não deixavam ninguém mais entrar. Como o cara tinha entrado? Já na calçada, ela viu novamente sua amiga Elaine e foi até ela. “Elaine..., mas o que aconteceu aqui? Como que a minha casa pegou fogo?” A amiga chorava demais. Lágrimas escorriam pelo rosto. Ela não respondeu. Então ela viu outra amiga se aproximar, a Vera, e perguntar para Elaine.

-- Elaine é verdade que a Lucy morreu no incêndio?

-- Sim, é verdade Vera...

Lucy ouviu aquilo e sorriu..., “Calma gente..., eu estou aqui..., está tudo bem comigo...”

As duas continuaram a conversar entre elas e não deram atenção para Lucy.

Então, a compreensão veio como um raio. Ninguém conversava com ela, ninguém a ouvia, ninguém a via..., mais uma vez Lucy sentiu vontade de chorar e, mais uma vez, as lágrimas não apareceram. Ela tinha entendido tudo. Por mais absurdo que parecesse..., ela tinha entendido e agora ela começava a se lembrar..., o ferro elétrico, o maldito vendedor, a tábua de passar roupa, o desgraçado do Amarildo, que ligara na hora em que estava passando roupa, o quarto pegando fogo, a cozinha, a panela com água, o fogo na bolsa, na camiseta, no cabelo, a camiseta no sofá e o sofá pegando fogo, as chaves, a explosão..., ficou tudo confuso para Lucy e ela pensou que ia desmaiar então uma pergunta veio á sua cabeça..., “Fantasmas desmaiam?” Meu Deus! Eu sou um fantasma! Meu Deus, eu estou morta. Eu morri no incêndio! Tudo ficou claro. Tudo ficou esclarecido. Lucy estava atordoada. Ela estava morta. E agora? Então, ela viu o homem de boné que olhava para ela e sorria. Ele estava na calçada e ela foi até ele.

-- Você me vê?

-- É Claro! Sou como você.

-- E o que aconteceu comigo?

-- Ora Lucy..., porque pergunta? Você sabe..., você morreu no incêndio...

Lucy olhou em volta. Tudo tinha acabado. Todos os seus planos, sua vida, seu trabalho, sua faculdade, seus namorados..., tudo tinha acabado. Ela saiu dali. Estava difícil de aceitar e entender, mas uma coisa ela tinha decidido..., os culpados por sua morte iam pagar..., ah, e como iam..., e o primeiro era o desgraçado do Amarildo. Ela tinha um encontro com ele hoje á noite. Ele não a veria, mas ela iria até ele..., e depois seria a vez do maldito vendedor...

O homem de boné estava ao lado dela e sorria, sorria e sorria...

Isso mesmo Lucy..., você tem que se vingar de todos... e sorria, sorria, sorria...

JRobson
Enviado por JRobson em 17/05/2015
Código do texto: T5245027
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