EX-PERANÇA

De repente, apareceu um pálido ponto azul perdido no infinito. Era a única esperança de um povo esgotado. Esgotado em todos os sentidos, pois que os recursos naturais haviam ficado escassos demais, assim como a esperança na alma daquela gente. Nunca, é verdade, haviam respeitado o seu lar, aquele planeta, berço cósmico que os acolhera em milhares de anos. Tudo estava se perdendo, as águas evaporavam, as cores esmaeciam, as estrelas desapareciam!... Não haviam dado valor antes, mas agora, procuravam todas essas coisas, com os olhos e com o coração... mas nada encontravam.

A única coisa semelhante a uma esperança que pousou sobre eles naquele dia fora a visão que um engenho mecânico, orgulho de uma geração, e semelhante a um telescópio, mostrara em seu visor: Um pálido ponto azul flutuando na poeira do universo! Em tudo semelhante ao seu planeta moribundo, cuja beleza e indescritíveis atributos deixaram passar pelos olhos sem se darem conta, e que agora, procuravam tão distante deles em um outro universo, numa outra realidade.

Com a tecnologia que sempre amaram e de que tanto se orgulhavam, enviaram um pedido... Pois quem sabe, lá naquele planetinha visto pelo visor - tão abundante em predicados - possa haver uma civilização como a deles, ou ainda mais avançada, que virá na velocidade do sonho, resgatá-los e libertá-los do destino inexorável e terrível, que eles mesmos buscaram com tanta paixão, para si mesmos!

Afinal, por tanto tempo olharam para outros planetas, exultaram rochas sem vida peregrinando pelos espaços, deixando de louvar a vida que tinham, que de tão perto deles chegava a sufoca-los de carinhos mil... Mas que agora partia por entre seus dedos trêmulos, como lágrimas que nos deixam, não sem antes fazer brilhar os nossos olhos, para jamais voltarem outra vez. Por tanto tempo, criaram ídolos de papel, plástico, ferro e borracha, esquecendo-se de idolatrar a única coisa realmente valiosa que tinham: O seu único e verdadeiro lar. Pois não percebiam que eram feitos de rocha, terra e barro, na mesma proporção e composição daquele mundo de cujas entranhas literalmente vieram, como um filho vem de uma mãe! Eles eram sábios demais para perderem tempo com isso...

Era um povo orgulhoso! Eles não desistiriam! Eles sabem que a sua tecnologia os salvará, pois atravessará o universo na velocidade da luz até alcançar o seu destino, alertando os irmão distantes que virão sem demora acudi-los.

E sim... O raio da esperança viajou pelo espaço e alcançou o seu escopo! Oitenta mil anos depois de lançado, um jovem rapaz recebeu e traduziu a mensagem que ele trazia, sentado num pequeno observatório, num diminuto planetinha azul, chamado por ele de Terra. Ele estava orgulhoso de si mesmo, de seu feito, de sua descoberta... Estranho, porque ele de fato era inteligente, mas não se dava conta de que, quando o povo das estrelas enviou a mensagem pedindo ajuda, a espécie humana sequer sonhava em existir. Ele não percebeu que o orgulho que tanto sentia por si mesmo o cegava de tal maneira, que ele não conseguira perceber a verdadeira mensagem por trás do raio da esperança. Era esta:

"Quando receberem esta mensagem, entendam, que a única esperança que depositamos nela é de que jamais cometam o mesmo erro que cometemos". Sim, a mensagem era um pedido, mas não para eles. A esperança não era deles, era nossa. Mas já era tarde demais.

Ps: Que os pálidos pontos azuis suspensos na poeira do universo, tenham verdadeiramente um dia os habitantes que os mereçam. Que deles cuidarão com verdadeiro amor, carinho e dedicação. Essa é toda a minha esperança...

London
Enviado por London em 07/01/2015
Reeditado em 07/01/2015
Código do texto: T5093522
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