O dia dos namorados que não acabou bem #5

Uma garoa fina cortava meu rosto como navalha. A essa altura eu perdia João de vista.

Ainda sentia a presença do maligno, rondado a mata:

- Por aqui! - Consegui ouvir o grito que me guiou mais adentro, foi quando cai desfalecido no barro.

- Levante senhor, estamos quase chegado.

Enquanto a criança me levantava eu conseguia enxergar a luz entre a névoa, uma luz fraca em uma janela suja.

A essa altura a criatura aparentemente parara de nos seguir, continuamos a tropeços até a entrada da casa:

- Luísa, abre por favor, eu trouxe o Encaminhado. - Disse a criança com a voz rouca de correr, aparentemente até o pequeno lobo estava cansado.

- Do que você me chamou? - Perguntei, afinal encaminhado não parecia um apelido amigável.

- Você já vai entender. - Uma garota com aspecto cadavérico abriu a porta, era pálida e tinha olheiras profundas, que misturados ao avermelhado dos olhos dava um tom de sofrimento para a pequena.

- É ele? - Perguntou Luísa a João.

A criança fez que sim com a cabeça, e fez menção para eu adentrar a pequena casa no meio do nada.

Admito que o fiz, por Gabriele, e por curiosidade.

Era uma casa pequena, porém com uma grande sala de jantar. Parecia muito antiga, o acabamento em madeira com a lareira acesa dava esse aspecto de que a casa estava ambientada no século passado.

O garoto tirou umas moedas velhas do bolso e colocou em cima da mesa, e fez menção para eu o acompanhar:

- Vê essas moedas? É o porque "dele" estar atrás de mim. Porém não é o porque dele estar atrás de você. - Ele apontou para uma beliche, e na cama debaixo estava Gabriele deitada com um pano sobre a testa. - Ela está muito doente, provavelmente teve contato direto com "ele" e não vai aguentar muito tempo...

Eu arregalei os olhos e corri em direção a ela, estava tão pálida quanto a garota cadáver:

- Gabriele meu amor! - Ela respirava com dificuldade, coloquei minha mão em seu rosto, estava em chamas. - Ela está queimando em chamas, preciso leva-la para um hospital urgente!

A criança pareceu aborrecida com sigo mesma, franzindo a testa e dando uma olhadela para o chão:

- Eu não posso mais ir com você, consegui trazer os três amuletos em segurança. Caso saia dessa casa, terá que enfrentar o seu destino.

Pensei com calma no meu próximo movimento, eu precisava entender o que estava acontecendo até agora.

Tentei organizar as informações na minha cabeça:

- Me ajude a entender o que está acontecendo.

A criança consentiu:

- Na estrada, eu avistei pela primeira vez, rapidamente, a tal "criatura". Adormeci no hotel. Em seguida Gabriele desaparece e eu fui atacado por aquela criança.

- Sim, o Ricardo.

- Correto, você aparentemente traiu as crianças para pegar algum tipo de amuleto, que a criatura que coincidentemente está atrás de mim quer?

- Sim. - Enquanto conversávamos a menina Luísa cuidava de Gabriele, parecia inquieta.

- Porque isso está atrás de mim, e como você sabe de tanta coisa? E o que são os amuletos?

Ele me fitou nos olhos por um momento:

- Você é o que meu pai chama de Encaminhado, ou Condenado. - Ele olhou para Luísa, e tornou a me fitar. - Meu pai me contou uma historia, que acho que ele leu em um livro antigo que meu avô tinha, "A Espera dos Condenados". Eu não sei explicar tão bem quanto meu pai, mas basicamente o seu destino é se tornar aquela coisa. E o meu é expulsar elas, assim como era o destino de meu pai.

Pensei por um momento, tudo parecia um sonho ruim, e que logo eu iria acordar na casa de Gabriele, antes de partimos para a estrada, e eu não estava tão enganado:

- Espera dos Condenados... Você tem esse livro com você? - Novamente consentiu. - Entendo... Então seu pai era um caçador dessas coisas sem explicação, você herdou esse fardo. Infelizmente não tenho nada a ver com isso, eu preciso salvar Gabriele.

- Para isso acontecer, antes você tem que sair sozinho, e convencer a coisa.

Eu me levantei decidido, dei um beijo em Gabriele, que estava delirando de febre a essa altura, olhei para a criança e me dirigi até a porta:

- Como o seu pai chamava essa coisa?

- Anjo da Morte.

Pedro Kakaz
Enviado por Pedro Kakaz em 10/12/2013
Código do texto: T4605945
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