A Casa Velha #3

- 2013 -

- Fazer algo a respeito? - Perguntou Clara enquanto saíamos da padaria.

Olhei no relógio e lembrei que tinha um compromisso com Giullia:

- Bom, você irá ficar na cidade até quando? - Perguntei dando a entender que precisava ir à algum lugar.

- Um pouco mais de uma semana, vou visitar minha vó que esta doente...

Pensei um pouco e enfim decidi:

- Quero te encontrar mais tarde, preciso resolver umas coisas agora, e ai terminamos nossa conversa.

Ela não pareceu gostar do fato de eu a estar dispensando:

- Olha Paulo, sei que só falamos de coisas ruins até agora, mas eu queria dizer que realmente senti sua falta todos esses anos... - Disse abrindo um sorriso honesto.

- Também senti sua falta Clara, nos vemos mais tarde? Passa lá em casa.

Concordou e nos despedimos com um beijo no rosto.

- 2001 -

Capítulo 3 - A Casa Velha.

Um pequeno desconforto tomava conta do grupo, que pouco ia se dando conta que talvez algo tivesse acontecido com Lucas:

- Vamos até lá, só para garantir, você sabe como o Lucas é brincalhão. - Disse Luís.

Todos concordaram, e mesmo com aquele pequeno desconforto, seguímos estrada a cima.

No caminho, antes de cruzar a direita para a última rua, que dava para a casa, o walk talk tocou, acabando com o suspense:

- Eai rapaz. - Disse Lucas do outro lado.

Todos olharam assustados:

- O que aconteceu? Porque não respondeu meus chamados?

Demorou um instante e ele enfim disse:

- Deixei o WT (Walk talk) com o Felipe pra checar um barulho do lado de fora aqui da Casa, acho que esse idiota não soube apertar o botão pra responder.

Todos olharam com olhar de desaprovação. E então rimos:

- Estamos chegando, daqui uns 5 minutos no máximo. - E desliguei o WT.

A estrada estava absurdamente escura, nos forçando a ficar com as duas lanternas acessas, a terra pouco a pouco sujava a barra de nossas calças, a medida que nos aproximávamos da casa:

- Estou ficando ansiosa. - Disse Clara.

- Não é como se algo fosse realmente acontecer... - Bruna parecia desconfortável, como mais velha, seu papel era a de ser a cética, passar um pouco de confiança para nós talvez.

Enfim era possível ver a casa, imensa, e logo perto do portão os meninos esperando.

Nos aproximamos, Lucas apontou a lanterna dele para o grupo, paramos em frente a o portão:

- Então... Barulho? - Disse Giulia.

- Nada demais, uns galhos quebrando, deve ser algum rato ou sapo... É muito escuro por aqui, e úmido. - Disse Lucas chegando perto de Gabriel que estava com a mochila.

Enquanto conversavam sobre o possível animal que rondava a casa, me aproximei do portão, sob o olhar de preocupação de Clara.

Era impossível enxergar muita coisa além das janelas altas, porém mesmo dentre a escuridão algo estava claro:

- Está trancado.

O silêncio foi se fazendo aos poucos:

- O que? - Perguntou Gabriel, meu irmão.

- Está trancado, o portão está trancado. - E chacoalhei para demonstrar.

- Pelo amor de Deus Paulo! Eu derrubo esse portão no chute. - Debochou Luís.

Correu em direção ao portão e deu um chute muito forte.

Nada aconteceu, todos riram:

- Bom, talvez não no chute... Mas podemos pular!

Era uma boa ideia, e logo começamos a executar, um a um escalamos o portão velho, o primeiro a pular foi Gabriel, seguido de Bruna, e com a ajuda dos meninos, Clara e Giullia pularam também. Logo Felipe, Lucas, Rafael também haviam pulado, Luís deixou eu ir a frente e pulou em seguida:

- Merda, acho que me cortei. - Ouvi alguém falando quando estava em cima do portão, onde pude ter uma vista ampla do local.

Enfim estávamos na casa, ou pelo menos no quintal desta.

Nos olhamos rapidamente, era um pouco difícil distinguir os rostos em meio a escuridão que se fazia, seguimos em passos lentos até a porta da residência em si.

O quintal era imenso, e se estendia em volta da casa, algo como um jardim (aqueles de labirinto, como no filme "O Iluminado") do lado esquerdo, e do direito ao longe, a lua era vista refletida em água, talvez um lago.

Paramos diante da porta, que assim como tudo na casa, era imensa:

- Vamos entrar e nos separar em grupos de 3. - Disse Rafael.

- Porque 3? - Perguntou Felipe que estava ausente na hora da explicação.

- É o número de WalkTalk e Lanterna que os meninos tem. - Disse Giulia.

- Então, vamos a contagem. - Rafael se colocou de frente a todos, e de costas para a porta imensa. - Clara, Paulo e Eu ficamos no time "A".

Eu e Clara nos aproximamos de Rafael, viramos de costas para a porta e de frente para o restante do grupo:

- Agora, Lucas. - E Lucas se aproximou. - Bruna e Gabriel formam o time "B".

Bruna se aproximou, porém Gabriel continuou parado em meio a todos, estava realmente difícil de enxergar e não pude dizer que expressão Gabriel estava fazendo.

Rafael segurava uma lanterna, repetiu o nome de Gabriel para que este se aproximasse, e a silhueta do mesmo continuou paralisada.

Tomei a lanterna dele e furiosamente apontei para o rosto de Gabriel, porém antes de fazer, ouvimos a voz de Gabriel próxima ao portão, um pouco distante gritando.

Todos olharam para Gabriel e rapidamente olharam para a silhueta da qual acreditávamos ser ele, e sob a luz da lanterna, um rosto diferente se revelou no lugar.

Todos gritaram e eu deixei a lanterna cair, era algo fora do comum, uma mistura do rosto de Gabriel e de Giullia se fazia ali, uma mistura medonha.

Algo aterrorizante estava acontecendo, desde quando isso estava nos acompanhando? Desde quando Gabriel havia sido substituído por isso?

Pedro Kakaz
Enviado por Pedro Kakaz em 28/10/2013
Código do texto: T4546336
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.