"entroncamento macabro"

Essa historia arrepiante se deu n´um entroncamento de dois municípios, lugarejo conhecido como “encantado” no norte das Minas Gerais; região com vocação para a pecuária: clima quente, própria para a criação de bovinos. Muitos de lá – fazendeiros – fazem a recria de bezerros até o peso de umas dezesseis a dezoito arrobas em média e vendem as boiadas para os frigoríficos e compradores de gado para terminação em confinamento quando a seca assola sem piedade o norte-mineiro – fica brabo.

Assim como em outras regiões, o gado vendido não é tocado estrada à fora a cavalo como antigamente se fazia; hoje, é embarcado em caminhões gaiolas e levado até o destino. Mesmo porque, é muito difícil a condução de boiadas pelas estradas. O fluxo de veículos vem aumentando dia-a-dia; pelo asfalto, impossível essa prática; ainda que era mais romântico e gostoso. As comitivas adoravam prestar esse serviço. Beneficiou e muito essa mudança, seguramente, foram para os animais que não tem desgastes nenhum, nem perda de peso; a não ser o stress. Mas comparado à viagem convencional – tocada estrada à fora – é o mínimo.

Pois bem...

Certa época, um conhecido fazendeiro lá da região, vendeu uma boiada e o comprador – vindo da cidade grande, uns paulistas – acertou a data de buscar a boiada na fazenda e acompanharia o embarque. Contratou também os caminhoneiros para o transporte. Os animais deveriam ser embarcados ainda a sol a pino – sol alto – Mas alguma coisa aconteceu com os gaiolas – caminhões –; não chegaram no horário combinado. O gado preso no curral, impaciente, aguardava...

Dado momento o comprador do gado, não aguentando mais esperar, resolve ir atrás dos caminhões, já que o celular naquela região não funcionava bem. Região essa que tinha muitas entradas – entroncamentos- e era de costume pessoas, viajantes se perderem ali por falta de informação local.

Assim que saiu da fazenda, à procura dos caminhões, teve uma idéia de marcar a estrada com papel higiênico; dependurando em arbustos e em galhos de árvores, sinalizando o caminho - caminhões da fazenda – tinha um rolo no porta-luvas da caminhonete. Deu carto a idéia. Percebendo as marcações, os motoristas pararam os gaiolas – caminhões – e chegaram a um acordo de seguirem as marcações já que estavam perdidos e àquela altura – umas oito da noite – qualquer coisa era lucro, e seguiram...

Depois de alguns minutos na trilha, viram luzes acesas que direcionou-os. Chegando no pátio da fazenda, avistaram o fazendeiro que da varanda aguardava ansioso. Conversaram e entraram na sala para tirarem a poeira da cara. Tomaram água fresca, café e foram embarcar a boiada que estava já a horas.

O primeiro caminhão, carregou e pelo horário já adiantado, tendo que descarregar ainda naquela noite; foi partindo em marcha lenta, até que o companheiro viesse para e a intenção era aguardo companheiro na BR.

Quando o segundo motorista partiu da fazenda em direção a BR; pegando estrada poeirenta sem conhecer a região – perdeu-se – dúvida no entroncamento: para onde ir, por onde trilhar? Ficou ali por alguns minutos, indeciso; olhava para um lado e para o outro. Caminhão ligado, faróis acesos; contando que alguém passasse por ali e orientasse. No instante que estava quase decidido partir para o lado que a estrada estava mais batida – o chão mais duro e muitas marcas de rodas – aparece a uns trinta metros de distância a sua frente, um “ser” alto – muito alto -, muito magro, cabeludo e na parte de cima do corpo, cabelos bagunçados; mãos enormes, olhos brilhantes. Transformou por algumas vezes o farol para acreditar no que estava vendo ali na sua frente; àquela hora...

O mato às margens da estrada de onde saiu o “ser” – mato de chapada e capim braquiária – aquela “coisa” ali, esquisita sem ação alguma; não falava... O motorista, arrepiado dos pés a cabeça, tentava falar com o “ser”: “Oh! Como faço para chegar na BR? Resposta zero. Não falava, só olhava, inerte... Nesse instante, sai de trás do “grandão” homenzinho baixo, cabeçudo, bem forte mesmo; media quase na cintura do outro. O motorista venda aquela disparidade: um alto demais, o outro, quase anão; ficou bestificado. Os arrepios aumentavam e a vontade era acelerar o caminhão e sumir no mapa. As pernas não atendiam; boca seca, coração disparado... No impulso de segundos. Lança a pergunta novamente: “Por favor, como faço para sair na B R”? Dessa vez ouve resposta e o “baixinho” fala: “É só seguir naquela direção”! O motorista não sabe como, o “anão” adivinhou ou leu sua mente, dizendo: “É meu filho”! Repetindo por umas quatro vezes. Nada mais a fazer ou perguntar, acelerou o caminhão apavorado na direção que “aquilo” indicou.

Depois de alguns quilômetros rodados, viu luzes de veículos, deduzindo vir da BR. Acelerou ainda mais.. A cabeça só pensava naquela “coisa”. E agora... fala ou não para o amigo, que aquela altura esperava-o na fazenda onde iriam entregar a boiada. Já passava das vinte e três horas quando chegou.

Ressabiado, sem graça e com cara de assustado; desce do caminhão e fala para o fazendeiro: que havia se perdido por não conhecer essa região e de noite ainda. As estradas muito parecidas e sem placas... fica muito complicado”! O dono da boiada, concordou e pediu para ele encostar no embarcadouro e descer a boiada; que estava muito stressada.

O amigo achando que o companheiro estava esquisito pergunta: “ Ô! O que cê tem? Parece que viu assombração”? E era... pelo menos se tem relatos... Não respondeu... Desceu a boiada, passou uma água na cara, bebeu água fresca e tomou uma caneca de café com bolo de fubá. Mas sempre com a cabeça baixa... Acertaram o frete e cada um partiu no seu caminhão.

Ao chegar no asfalto – BR – parou o caminhão deixando ligado, os faróis também; desceu e caminhou para o outro caminhão; que abriu o vidro da janela, observando-o vindo na sua direção; aguardando sua chegada.

Ao aproximar, pediu que o amigo descesse e que tinha algo para lhe falar... e contou o acontecido lá atrás no entroncamento... O amigo ficou impressionado e morrendo mais ainda de medo que o narrador... Falou ao amigo que se mandassem dali urgente; o que fizeram. Cada qual procurou o rumo de casa e depois de alguns dias encontraram-se novamente e sem dúvida tocaram no assunto... Lembraram daquela viagem, daquele lugar sombrio e juraram nunca mais passarem ali. E até hoje, dispensam fretes para aquela região e sempre que alguém fala em “alma penada” eles arrepiam só de lembrar...

Algumas pessoas também viram essas aparições no mesmo local, evitam comentar pois sabem que a maioria é cética e farão gozação deles.

Dias desses, aliás, noite dessas, com um vaqueiro amigo, passamos por lá mas nada vimos; também não esperamos muito! O povo da região diz que o fazendeiro que vendeu a boiada para o paulista, é homem que não acredita em Deus e que chama muito “a pelada” – desgraça; amaldiçoando...

Caso queiram comprovar essa narrativa, é só marcar e vir que indicaremos o local conhecido como “encantado”. Ah! Caso aconteça alguma coisa, não temos responsabilidade alguma...