A Casa Velha #1

Capítulo 1 - Aquele Novembro.

Logo depois de conhecer Clara foi quando ficamos sabendo todos da tal Casa Velha.

Eu, Lucas, Rafael, Luis e Felipe crescemos todos juntos, nossos pais praticamente ajudaram a construir o bairro, e todos nós crescemos na mesma rua. E foi em um sábado completamente normal que nós decidimos ir além.

Tanto eu quanto meu irmão mais novo (Gabriel) éramos instruídos a não passarmos do parque que marcava o fim do bairro, hoje eu entendo que passando dali estávamos perto de umas das principais avenidas da cidade, porém quando criança eu queria ir apenas além, e foi nesse sábado que decidimos fazer isso.

O plano era perfeito, mentiríamos para nossos pais, todos juntos. Enquanto eles achavam que todos nós estávamos em uma Lan House, estaríamos explorando "O mundo além do parque".

Pegamos nossas bicicletas e partimos rumo ao parque.

Quando se é criança tudo parece ter uma importância bem maior do que realmente é. O parque ficava 10 minutos da nossa casa, e honestamente não havia nada de muito importante além dele, porém a proibição de nossos pais havia atiçado nossa curiosidade, e como que em uma aventura, nós nos preparamos para ir até o desconhecido.

Gabriel infelizmente não estava conosco, nossos pais não deixavam ele ir à Lan House, diziam que era muito novo.

A formação era simples, e sempre fora assim. Rafael ia na frente, sempre foi o mais forte do grupo. Felipe e Luis ficavam na linha central, eram fortes, não como Rafael, porém era a segunda linha em batalha (Sim, éramos abençoados com muita imaginação quando criança.), e por fim eu e Lucas no fim. Lucas era o mais rápido, e eu o mais inteligente, eu precisava ser protegido por todos e ter uma visão ampla para poder ajustar o time caso precisássemos fugir.

E foi nessa formação inocente que chegamos até a praça e descemos de nossas bicicletas:

- E agora? - Perguntou Rafael se dirigindo a mim.

Ele respeitava minha posição do mais inteligente, assim como eu respeitava sua força:

- Temos que ir com calma a partir daqui, nossos pais podem aparecer, então vamos evitar a avenida. - Eu falava bonito pra uma criança de 11 anos.

- Ali ó. - Apontou Lucas.

A direita da praça estava a rua que descia para uma paralela da avenida, a esquerda adjacente à praça eram mais casas, iríamos entrar mais no bairro, e poderíamos nos perder. E onde o Lucas havia apontado, para a rua adiante da praça, era uma subida que parecia interminável:

- Vamos subir ali, e ver o que tem! - Parecia entusiasmado, e todos aceitaram a ideia.

Montamos em nossas bicicletas e com um impulso tentamos desbravar aquela subida, sem sucesso. Na metade dela descemos e fomos empurrando as bicicletas:

- E a Clara? - Perguntou Felipe.

Felipe era indiretamente responsável por eu tê-la conhecido:

- Mãe dela não deixou ela vim hoje, parece que é aniversário de não sei quem. - Respondi.

- Digo... Já beijou ela? - E todos pareceram interessados na pergunta do Felipe.

Lembro de ter ficado envergonhado de responde-lo negativamente:

- Foi quase eu juro! - E todos riram da minha resposta.

- Eu sabia que você era mole. - Disse Luis. - Você e o Rafael tem que dar o exemplo, vocês são mais velho!

Fiquei aborrecido com aquilo:

- São meses de diferença apenas, e eu já disse, foi quase! Pergunta pro Felipe!

Todos olharam para o Felipe:

- Ele ta falando do outro Felipe...

Enfim terminamos de subir a ladeira.

No fim nos deparamos com um matagal, que estava fechado por um cercado, e duas ruas que contornavam a cerca:

- A esquerda desce, e a direita vamos subir mais... - Disse pensando alto.

Todos ficamos olhando o matagal atrás do cercado, não fazíamos ideia que existia aquilo ali, isso ilustrava muito bem, que quando impomos um limite, mesmo o que está muito próximo desse, nos é invisível.

O matagal parecia dar em um morro, e além do morro outros morros:

- O caminho da direita parece ir até aqueles morros... Vamos? - Disse Rafael.

- O da direita vai descer e voltar para a praça provavelmente, ou em outras casas. - Afirmou Lucas.

- O mais interessante parece ser ir até os morros... Paulo? - Por mais que eles quisessem, pareciam necessitar da minha aprovação.

Consenti com a cabeça e seguimos para a direita.

A próxima subida era menor, e a quantidade de casas iam ficando escassas conforme avançávamos.

Seguimos o cercado através da rua, até que chegamos no primeiro morro, a essa altura o asfalto ia desaparecendo.

Amparo não era uma cidade grande, em sua maior parte era cercada por morros e matas, e na parte central coberta por casas e praças, igrejas e mercados, como em qualquer outro lugar (imagino eu):

- Eu consigo ver uma casa ali. - Apontou Luis, e Lucas confirmou.

- Não vejo nada. Onde? - Perguntei.

- Meio atrás daquele morro ali, parece ser grande, temos que dar uma olhada, bem rápido!

- Ok, porém vamos rápido, já vai escurecer.

Sim, eu estava com medo. Não da estrada de terra, nem dos morros, nem da mata, eu estava com medo da minha mãe me achar ali.

Continuamos subindo e descendo os morros, a essa altura as ruas todas eram de terra, e viramos a direita, adentrando por uma trilha que era cercada por parte da mata.

Com o passar das pedaladas e trilha começava a se unir com parte da mata, e as árvores iam tampando os últimos raios de sol da tarde, continuamos pedalando rápido, até avistar de longe, um casarão imenso.

Rafael estava mais a frente, parou a bicicleta e esperou por nós:

- Ual! - Exclamou Lucas e Luis.

- É enorme. - Comentei.

Rafael e Felipe ficaram em silêncio apenas olhando, abobados:

- Vamos chegar só um pouco mais perto e ir embora, os donos podem aparecer e vão estranhar a gente aqui. - Comentei e nos aproximamos um pouco mais.

O portão era muito afastado da residência em si, era de metal e parecia enferrujado, meio tomado pelas plantas.

A casa era enorme, parecia ter seus três ou quatro andares, tomado por janelas e pela natureza:

- Não parece ter ninguém morando aqui Paulo... Nenhum carro, nenhum jardineiro... A casa parece estar abandonada. - Disse Rafael.

- A gente podia entrar! - Disse Lucas.

Lucas junto de Felipe eram de longe os mais corajosos:

- Não hoje... A gente podia voltar aqui com todo mundo. - Disse Luis.

Vou admitir que minha vontade de entrar ali era grande, a casa parecia enorme, e com certeza se revelaria maior quando entrássemos.

- Vamos voltar e contar a todos sobre essa casa velha, e dai entramos!

Subimos na bicicleta e voltamos rapidamente para casa.

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Nota do autor:

Ok, vou admitir que tem certa veracidade nessa história.

Em breve o capítulo 2.

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Pedro Kakaz
Enviado por Pedro Kakaz em 24/08/2013
Código do texto: T4449739
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