A COBRA GRANDE

Francisco nunca foi de acreditar em crendices populares - achava que era "coisa de velho"-. Costumava rir e debochar das historias que sua prima Benta contava sobre coisas sobrenaturais e etc.

Um belo dia sua avó Xica o levou até a igreja; era Domingo e o costume secular de família a obrigava a ir todo o Domingo, sem falta, para confessar-se e escuta o sermão do padre.

A missa começava as 8, e Francisco já entediado, antes mesmo de chegar já perguntava à sua avó quando ia terminar.

_Vovó vai demorar muito? espero que não.

_ você é muito ansioso menino. Quando acaba, acabo, hora!- Depois dessa resposta, Francisco não perguntou mais.

Quando em fim chegaram a igreja, sua avó apontou para a bacia de água benta que ficava logo na entrada da grande catedral e disse:

_Molhe suas mãos e se benze.

Francisco balançou a cabeça afirmativamente e fez o que sua avó mandou.

Procuraram um local bom para se assentar, não muito na frente nem muito atrás, pois dona Xica já não escutava tão bem.

Acharam um lugar perfeito perto das grandes portas laterais e das colunas ornadas com crucifixos e vasos de flores.

Quando o Padre entrou, ficaram todos de pé para a oração inicial. Quando terminaram, no momento que iam se assentar, Francisco sentiu um pequeno tremor vido de seus pés, parecia que o chão estava tremendo.

_Vó você sentiu isso? perguntou o menino confuso.

_ Fica quieto menino, não me faça brigar com você.

Francisco chateado, ficou emburrado no seu canto, mas ainda confuso com o tremor que havia sentido.

Quando a missa estava pela metade e dona Xica começava a cochilar, Francisco teve a brilhante e ideia de ir investigar o que eram aqueles tremores. Deslizou sorrateiramente pelo banco e foi na direção do corredor. Aproximando-se de uma pequena ante-sala que ficava atrás do local onde toda a cerimônia acontecia, Francisco viu uma uma pequenina escada que levava a algum lugar subterrâneo em baixo da antiga igreja. Ele hesitou na possibilidade de descer, mas sua curiosidade era irresistível, desceu degrau por degrau e foi percebendo que os tremores ficavam cada vez mais latentes, e a claridade ia diminuindo.

E quando estava lá pelo quadragésimo degrau, começou a sentir um cheiro de carne insuportável e ficou a imaginar se havia um matadouro ali.

_ não é possível, isso é uma igreja, como pode haver um matadouro aqui? -Pensava Francisco voz alta.

E continuou a descer.

Viu uma pequena chama de velas a brilhar no interior do que parecia agora com uma caverna - Aquilo começara a ficar sinistro para Francisco.

Quando desceu do ultimo degrau sentiu frio. Era um lugar úmido e sombrio de dar medo.

Quando Francisco sentiu o cheiro ficar ainda mais forte ao ponto de sentir enjoo, sentiu seu sangue gelar. Teve a sensação de uma presença estranha como se não estivesse sozinho- e realmente era verdade, o que Francisco iria ver em instantes, é para qualquer um desmaiar de pavor.

Francisco percebeu alguns ossos de boi e algumas peles enormes que não sabia de que. Viu sangue por toda a parte, uma cena horrível que cheirava a morte.

Mais um pouco a frente, Francisco viu uma grade que prendia alguma coisa que por causa da pouca iluminação não era possível ver.

Ele aproximou-se da grade e viu algo que ultrapassava as barreiras da normalidade, ficou tão perplexo que ficou congelado, petrificado de tanto pânico. Viu o que parecia ser uma enorme, não, gigante, cabeça de cobra engolindo um boi que já estava pela metade.

Francisco nem conseguia raciocinar, e muito menos correr, pois suas pernas não obedeciam o comando de seu cérebro, que agora parecia está dando um curto circuito.

Quando a cobra percebeu que havia alguém por perto, vomitou o boi e olhou fixamente no intuito de hipnotiza-lo, mas foi salvo pelos sinos da igreja que anunciavam o fim da missa.

Foi sua salvação.

Quando conseguiu destravar as pernas, este correu mais rápido do que jamais havia corrido, tropeçando nos degraus, mas sem olhar para traz, ele seguia no intuito de deixar aquele lugar infernal.

Quando chegou a superfície, com o coração quase explodindo e pálido como ma folha de caderno, procurou sua avó Xica desesperadamente.

_Vó Xicaaaa... onde está você? - Gritava o menino desesperado.

_Eu tô aqui menino, por que tanta gritaria? por que tá tão pálido assim?

_ Vamos embora daqui, vó! vamos!

_ Nós já vamos Francisco, pra que tanta pressa?

Saíram de lá rapidinho pela pressa do menino, que seguiu o caminho de volta para casa em silêncio como uma múmia.

_ Para quem tava falando demais na igreja, você ta muito calado agora, hein- falava a avó.

Chegando em casa, Benta estava a espera de Francisco para contar historias como sempre.

_Oh, Francisco, pensei que você não vinha mais! Tava ansiosa pra te contar a nova historia que escutei. É a historia de uma cobra, que está na igreja onde vamos aos Domingos com a vovó. Bom na verdade é só a cabeça que está lá. Ela é tão grande que se mexer põe a cidade inteira abaixo. E pra isso não acontecer os homens que trabalham na igreja tem que alimenta-la todos os dias com carne.

_Francisco olha que eu gosto de historias mas está é tão cabeluda que até eu duvidei.

_Agora pode fazer o que sempre faz, debochar e rir, a vontade.

_Dessa vez não, prima, é Tudo verdade!-falou o menino ainda pálido.

_ Nossa, Francisco, pra quem nunca acreditou nas minhas histórias, isso é uma novidade e tanto.

_Eu, eu... eu só digo isso porque eu vi tudo.

_ Tá legal primo... agora quem tá contando mentira é você. Cobra grande, onde já se viu.

E Francisco ficou lá ouvindo sua prima Benta tagarelá, com o olhar fixo e perdido, tentando digerir todo o acontecido.

Suane Cruz
Enviado por Suane Cruz em 10/04/2013
Reeditado em 10/04/2013
Código do texto: T4234356
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